Daqui a duas semanas, o rotativo do cartão de crédito como todo brasileiro conhece deixará de existir. Ele passará a valer por apenas 30 dias e, depois desse prazo, o consumidor terá de optar por um parcelamento caso não quite o saldo devedor. Segundo especialistas, a mudança é positiva, uma vez que os juros do rotativo são hoje os maiores do mercado, acima de 15% ao mês, em média, e os principais bancos vão cobrar de 1% a 10% ao mês no parcelamento. O problema é que a dívida poderá ser esticada por até dois anos — uma armadilha de longo prazo para pessoas que já estão com as finanças descontroladas, o que pode representar um pagamento ainda maior de juros ao fim do período.
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Simulação feita por Raphael Moses Roquete, professor dos cursos de extensão da Alumni Coppead/UFRJ, mostra que quem fizer parcelamentos longos para quitar o cartão de crédito pode acabar pagando mais juros do que se quitasse o rotativo de hoje em alguns poucos meses. Um cliente que deva R$ 1 mil e quite o débito em 12 meses pagará ao todo R$ 1.805,49, considerando-se juros de 10% ao mês do parcelamento e 15% ao mês nos 30 dias de rotativo. Pelas regras atuais, o mesmo cliente poderia se livrar da dívida após quatro meses de rotativo desembolsando R$ 1.757,99. Os cálculos mostram que, ao ser direcionado para um parcelamento, o consumidor deveria pagá-lo no menor número de meses possível. De acordo com os números de Roquete, o mesmo parcelamento, quitado em quatro parcelas custaria R$ 1.404,40.
O professor ressalta, porém, que essa simulação foi feita com base em juros de 10% no parcelamento — o teto do que cobrarão os bancos. Se a taxa for de 8%, por exemplo, o rotativo só seria a melhor opção se a quitação fosse feita após três meses no rotativo de hoje; se a taxa ficasse em 7%, observou, o parcelamento será melhor que o rotativo em qualquer situação.
“Caso o consumidor tenha a opção de quitar a qualquer momento sua dívida durante o parcelamento, esta será sempre a melhor opção, simplesmente porque possui uma taxa menor do que a do rotativo”, observa Roquete.
Crédito pessoal é alternativa ao parcelamento
Para Ricardo Figueiredo, consultor financeiro do programa Vida Investe/Funcesp, ao cair no parcelamento pós-rotativo, o cliente deve buscar imediatamente um crédito pessoal junto ao banco, cujas taxas são menores. Segundo a Anefac, os juros médios são de 4,6% ao mês nessa modalidade.
“No mundo ideal, o cliente deveria sempre pagar a fatura integral do cartão. Caso ele não consiga, é sempre melhor contratar um crédito pessoal junto ao banco, porque a taxa dessa modalidade é menor. Tanto o rotativo como o parcelamento têm uma taxa muito superior às do crédito pessoal e do consignado”, diz Figueiredo.
Os bancos vão cobrar de 1% a 10% no parcelamento, uma banda muito larga, que pode prejudicar os consumidores com menor controle sobre as suas finanças, acrescenta:
“Os juros mais altos deixarão o consumidor bastante apertado. O pior é que, fatalmente, eles recairão justamente sobre a parcela da população com menor educação financeira e menos condições de pagar. No fundo, será ainda uma bola de neve, cuja única diferença será crescer em uma velocidade um pouco menor.
Segundo Figueiredo, caso não consiga condições favoráveis de crédito no seu banco, o consumidor deve usar a portabilidade de dívida e buscar uma solução melhor em outra instituição financeira.
O aplicativo de finanças pessoais GuiaBolso lançou há um mês uma ferramenta que compara as alternativas de crédito pessoal disponíveis no mercado, além do consignado. A partir de informações fornecidas pelo cliente e por firmas de proteção ao crédito, o programa faz uma análise da situação financeira do usuário e destaca as opções de empréstimo disponíveis com menores taxas e maior probabilidade de aprovação. O programa permite ainda a contração do crédito na própria plataforma on-line. Por enquanto, são seis as instituições financeiras parceiras, e os juros partem de 2,8% ao mês.
“O importante é sempre comparar. Obviamente, se o cliente já obteve uma taxa mais baixa no banco dele, está em uma boa situação. Mas, se esse não for o seu caso, nossa plataforma facilita a comparação”, explica Thiago Alvarez, diretor-executivo do GuiaBolso.
Mudança de hábitos é necessária
Na avaliação de Reinaldo Domingos, educador e terapeuta financeiro, assumir uma parcela por um período longo, que pode chegar a 24 meses, sem fazer um corte de despesas na mesma proporção, irá apenas adiar o problema.
“O problema maior é que, muitas vezes, essa proposta de parcelamento não é condizente com a capacidade de pagamento do consumidor. Ele pode estar adiando um problema se isso não couber no orçamento”, ressalta.
Domingos lembra que quem chega ao ponto de não conseguir pagar o total da fatura do cartão e cai no rotativo já está com o orçamento desequilibrado. Ao ter o parcelamento, a recomendação é analisar se a parcela cabe nos gastos mensais. Se não couber, é preciso fazer um urgente corte de despesas.
“Para que esse parcelamento sirva para equilibrar as contas, é preciso fazer uma revisão do padrão de vida e cortar os gastos. Se isso não ocorrer, as pessoas vão continuar em uma situação de risco financeiro, e o parcelamento do rotativo será apenas um paliativo”, diz Domingos, lembrando que, mesmo com a opção de parcelamento, é sempre preciso buscar empréstimos que podem ser mais baratos, como um consignado.
O consultor do site de educação financeira do banco Mercantil do Brasil, Carlos Eduardo Costa, acredita que o parcelamento da fatura pode evitar uma bola de neve, mas, sozinho, não evitará uma catástrofe financeira. A justificativa é a mesma: a saída só será válida para quem conseguir absorver essa quantia nos gastos mensais.
“Há o risco de o consumidor fazer um parcelamento, continuar gastando e, em pouco tempo, perder o controle novamente. A medida pode ajudar, mas também pode ser mais corda para se enforcar”, explica Costa.
A solução, segundo o consultor, passa por uma mudança no uso do cartão, que deve ser utilizado apenas como meio de pagamento, não como uma ferramenta para manter o padrão de vida quando o salário já não consegue arcar com os hábitos de consumo.
“Cartão deve ser visto com um meio de pagamento, não de financiamento”, ressalta.
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