Quem tem facilidade em fazer compras por impulso e, principalmente, quem já teve sérios problemas com o rotativo do cartão de crédito e outras situações de endividamento deve deixar o dispositivo em casa. A recomendação é do coordenador do curso de EAD em Finanças Pessoais da Universidade Positivo e autor de O Sovina e o Perdulário, Raphael Cordeiro, e também faz parte de conclusões de pesquisas que já investigaram esse assunto a fundo.
“Há uma viés psicológico [no uso do cartão]. É o que os estudiosos chamam de sentimento de perda. Quando o consumidor usa dinheiro para pagar uma conta, ele tem a sensação de que está perdendo algo, já que aquele dinheiro não volta mais para a carteira. Já quando o consumidor usa o cartão de crédito isso não acontece, porque ele coloca o cartão de volta na carteira”, explica Cordeiro.
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O viés psicológico do uso do cartão de crédito é citado por autores econômicos desde o fim dos anos 1970. Em 2000, estudos experimentais conduzidos por cientistas da Sloan School of Management, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, deram um passo a mais para comprovar o tal efeito “gastador” do cartão.
Duncan Simester e Drzen Prelec simularam uma espécie de leilão de ingressos e souvenires ligados a dois esportes populares nos EUA: um par de ingressos para um jogo de basquete decisivo entre o Boston Celtics e o Miami Heat, sendo que na época da pesquisa todos os jogos do Celtics costumam esgotar; um par para um jogo de beisebol do Boston Red Sox: e a possibilidade de levar para casa um banner ou do Celtics ou do Red Sox. Os “clientes” eram estudantes de MBA que fizeram a simulação em sala de aula. Eles deveriam dar lances para os três “prêmios” do leilão, mas parte deles só podia usar dinheiro vivo e outra parte, cartão de crédito.
Em todos os casos, inclusive que no item mais atraente, que era o jogo do Celtics, aqueles que podiam pagar com cartão de crédito deram os maiores lances. Em muitos casos, a diferença foi até duas vezes maior do que quem tinha de usar apenas dinheiro.
Para serviços e compras on-line, faça um segundo cartão, com limite menor
Embora a recomendação de deixar o cartão em casa funcione para a maioria das pessoas que têm problemas em manter o orçamento doméstico sob controle, atualmente alguns serviços e plataformas compras on-line só podem ser feitos com o cartão de crédito.
Nesses casos, uma ideia é pedir um cartão de crédito com limite menor ao banco ou fazer um em uma plataforma financeira como o Nubank, que geralmente não tem anuidade ou outras taxas embutidas. Esse cartão com limite menor pode ser usado para o pagamento de serviços como o Netflix ou mesmo o Uber, além de compras na internet. Com um limite pequeno, fica mais fácil não se perder nas contas. Além disso, usar um cartão com limite de crédito pequeno para esses serviços também é mais seguro. Em caso de roubo de dados do consumidor, o estrago, até que tudo se resolva, também será menor.
Desde 2015, a maioria desses serviços on-line, como o próprio Netflix, passaram a aceitar também o uso de cartões pré-pagos. Essa é uma solução ainda melhor, já que está limitada ao quanto o consumidor pode reservar e depositar, de antemão, no dispositivo para gastar com esses serviços.