Com a economia retraída e sem clareza no horizonte político, o número de empresas listadas que anunciaram a intenção de sair da BMF&FBovespa continua a crescer. Entre ofertas públicas de aquisição (OPA) para cancelamento de registro já assinaladas ou em análise na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), há 18 operações na fila de “retiradas” da bolsa. No ano passado, foram dez ofertas – um dos maiores índices dos últimos anos.
Na terça-feira (12) foi a vez do grupo de eletrodomésticos Whirlpool – dono das marcas Brastemp e Consul – informar sobre uma oferta para adquirir a totalidade das ações em circulação de sua subsidiária brasileira, que tem baixa liquidez.
Em 2015, nomes como a Souza Cruz, que tinha presença garantida no portfólio de muitos investidores dada sua característica defensiva, em seus quase 60 anos na bolsa, disseram adeus aos investidores. Na lista de empresas de saída da bolsa estão a Dasa, que tem operações no ramo de diagnósticos clínicos e é dona da marca curitibana Frischmann Aisengart, e a paranaense Iguaçu Celulose S.A.
O exemplo da Souza Cruz é parecido com a da Whirlpool do Brasil, pois ambas têm um controlador estrangeiro decidindo fechar o capital da subsidiária brasileira. “O controlador estrangeiro tem acesso a outros mercados para captações”, explica o professor de finanças da Universidade de São Paulo (USP), José Roberto Savoia. No caso do grupo Whirpool, as ações estão listadas nos Estados Unidos.
Para negócios de grande porte e com forte atuação internacional, faz sentido a saída da BM&FBovespa, de acordo com José Domingos, sócio líder da área de auditoria da Grant Thronton. “A decisão parece acertada e esse movimento deve continuar”, diz. O chefe da Valor Gestora de Recursos, William Castro Alves, ressalta que o controlador pode optar em investir em suas próprias ações por causa do baixo preço dos papéis.
Entre as razões para uma empresa decidir deixar o mercado de ações, segundo especialistas, podem figurar ainda a falta de necessidade de captar recursos, os custos para manter o capital aberto e reestruturações societárias. Na fusão entre a BM&FBovespa e a Cetip, por exemplo, a última deixará o rol de empresas listadas após a união dos negócios ser aprovada pelos órgãos reguladores.
Baixo interesse
O movimento de fechamento de capital é comum e faz parte da dinâmica do mercado, assim como as aberturas. No entanto, está claro o receio de empresas em abrir o capital. O último IPO no Brasil foi a da Par Corretora, em junho do ano passado. Agora, o mercado segue na expectativa de algum movimento para outubro, sendo a IRB Brasil Re a principal candidata a acabar com a “seca” de novos entrantes na listagem da BM&FBovespa.
“O fechamento de capital, por si só, é algo natural. O problema é quando só se tem saída e não entradas, como agora”, afirma Mauro Cunha, presidente da Amec, associação que representa os acionistas minoritários.
Além da recessão, que inibe novas ofertas de ações, Cunha também vê outros motivos para fechamentos de capital. Entre essas novas modalidades estão empresas em severas dificuldades e as que preferem listar seus papéis fora do País, caso da JBS (dona da marca Friboi). Neste ano, a empresa de alimentos anunciou que decidiu mudar sua sede para a Irlanda e abrir listagem também na Bolsa de Nova York.
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