Sem o hábito de fazer poupança, o brasileiro foi pego desprevenido pelo aumento generalizado nas contas nesse ano, o que resultou em um aumento dos índices de inadimplência. Diante do cenário, os credores multiplicam esforços para renegociação de dívidas e recuperação do crédito pendente.
Segundo relatório do Banco Central, a concessão de crédito renegociado para pessoa física entre janeiro e maio foi de R$ 15,55 bilhões, cerca de 30% a mais do que no mesmo período de 2014. Com isso, é possível negociar descontos ou maior número de parcelas para ajustar o orçamento já apertado e limpar o nome na praça.
Segundo especialistas, a falta de planejamento do brasileiro não resistiu às seguidas surpresas da economia e é a principal causa do aumento da demanda pela renegociação. “São três fatores, principais: desemprego, inflação e o aumento dos impostos. Como o salário do trabalhador não aumentou o suficiente para cobrir a soma desses indicadores e o financiamento que já foi feito, ele acaba escolhendo as contas que vai pagar”, diz o economista do Conselho Federal de Economia, Luciano D’Agostini.
O constrangimento de estar devendo muitas vezes impede as pessoas de buscarem o credor para renegociar a dívida, o que acaba piorando a situação. Por isso, órgãos como Procon, Serasa e SPC atuam na intermediação e oferecem portais on-line e mutirões de negociação de dívida.
“Os credores são abertos à negociação. Dado o cenário econômico, orientamos que se priorize o pagamento das dívidas, principalmente as de juros mais altos, para não virar uma bola de neve”, diz Raphael Salmi, gerente de Recuperação de Crédito da Serasa Experian.
Planejamento
Segundo o BC, o consumidor tem honrado as dívidas negociadas, com inadimplência de 15,9% em maio, quatro pontos abaixo do índice registrado no mesmo mês de 2014. Para evitar novos atrasos nas parcelas, a dica é fazer um planejamento de qual seria a melhor opção de prazo ou desconto para quitar a dívida, evitando que a solução se torne um novo problema. “Como o mal já está feito, você só deve entrar na renegociação se realmente tiver condições de pagar”, diz o economista Fernando Meibak, sócio da consultoria Moneyplan, pois o atraso na dívida renegociada pode trazer dificuldades para conseguir crédito mais à frente.
O poder de renegociação é sempre maior quando se tem dívidas como a do cartão de crédito, na qual o credor não tem nenhuma garantia de receber os atrasados, diferentemente de casos em que há um bem empenhado, o que reduz as chances de negociação.
A dica de Meibak é negociar a isenção de encargos desde a data da inadimplência e, no caso de dívidas com mais de seis meses, pedir desconto. “Se a dívida tem mais de dois anos, só vale quitar com um desconto muito grande”, recomenda.
Há opções de descontos para pagamento à vista, vantajosas para quem, por exemplo, opta por vender um bem, e também o aumento do prazo, opção da maioria, que prefere ajustar os gastos mensais. “É hora de diferenciar o que se precisa do que se gosta. Talvez seja o caso de ficar sem TV a cabo ou internet, por exemplo, para a parcela caber no bolso e quitar a dívida”, explica Marcela Kawauti, economista-chefe do SPC Brasil.