Quando o aplicativo financeiro Digit surgiu, em fevereiro de 2015, encontrou sua razão de ser entre pessoas que tinham uma dificuldade em comum: poupar. E essas pessoas são uma multidão, certo? O app tentou facilitar essa tarefa seguindo de perto os padrões de receitas e despesas de seus usuários, e identificando aquele dinheirinho extra que não era necessário para pagar nenhuma conta regular. Ao vincular o Digit à conta corrente, ele recolhe, literalmente, aqueles trocados que sobram, dia após dia, e os guarda numa conta em separado, repassando ao usuário informações atualizadas e perguntando a ele o que ele deseja fazer.
Desde a sua fundação até hoje, os usuários do Digit já pouparam, ao todo, cerca de US$ 500 milhões (ou R$ 1,5 bilhão), segundo a empresa. Toda essa base de usuários, porém, corre o risco de desaparecer ou migrar para outros serviços em razão de uma pequena mudança: o Digit anunciou que começará a cobrar US$ 2,99 (R$ 9,34) mensais pelo serviço, após um período grátis de 100 dias.
O anúncio gerou uma resposta imediata de alguns usuários raivosos, que disseram, nas redes sociais do aplicativo, que iriam fechar suas contas, com recadinhos como “Amado Digit, odeio as ideias sobre taxas” ou “Não faz sentido pagar para poupar”.
Faz sentido pagar alguém para poupar por você?
O CEO do aplicativo, Ethan Bloch, classificou a nova taxa como um jeito transparente de o Digit aumentar suas receitas e abrir espaço para o desenvolvimento de novos serviços. Ao Washington Post, ele explicou que não queria recorrer à venda de dados dos clientes ou mesmo a parcerias com outras companhias interessadas em vender produtos financeiros à base de usuários do Digit [para isso]. “Do lado do Digit, nós estaremos comprometidos com ninguém mais além do nosso cliente”, ressaltou Bloch.
Além da nova taxa, o Digit já se apropriava, como forma de remuneração, dos juros que o dinheiro guardado renderia ao usuário se estivesse na poupança ou outra aplicação. Ou seja, o serviço já não era exatamente grátis.
Esse modus operandi já fez muitos analistas recomendarem o Digit, portanto, apenas para poupanças de curto prazo ou mesmo como ferramenta inicial para adquirir o hábito de poupar.
Ainda como parte das mudanças anunciadas, o Digit também divulgou um aumento na isenção anual que dá a seus clientes de 0,2% para 1% do saldo da conta. Isso significa que o usuário precisará de pelo menos US$ 3,6 mil na conta para se livrar da taxa anual de US$ 36.
Concorrentes gratuitos apostam na derrocada do Digit
Outros aplicativos financeiros que (ainda) não estão cobrando taxas usaram o anúncio do Digit para tentar ganhar novos usuários. O Qapital, por exemplo, que permite que os usuários criem suas próprias regras sobre quando uma quantia pode ser deduzida automaticamente, informou que percebeu um número recorde de downloads no mesmo dia em que o Digit anunciou a cobrança da taxa. O app está oferecendo US$ 10 em bônus para novos clientes que vierem no mês de abril.
Chime, um app bancário que oferece uma poupança automática e gratuita cada vez que o usuário usa seus cartões de débito ou paga a fatura, informou que a abertura de contas aumentou cerca de 20% desde a última semana, quando o Digit anunciou a nova taxa.
O Digit, por outro lado, está apostando que pessoas que sentem que nunca pouparão sem a ajuda do app estarão dispostas a pagar alguns trocados por mês para ter o dispositivo ajudando-as a guardar dinheiro.
É da natureza humana seguir o caminho financeiro mais fácil
Alguns estudos mostram que os consumidores relutam em tomar importantes decisões financeiras, como abrir uma nova poupança, mesmo quando há incentivos como descontos para que isso seja feito. Em outras palavras, o chefe do departamento de pesquisas sobre aposentadoria da Morningstar, uma firma de pesquisa sobre fundos, David Blanchett, ressalta que “qualquer que seja o caminho mais fácil, é esse que as pessoas costumam seguir”.
A Digit não está oferecendo nenhum novo serviço no momento, mas, segundo Bloch, o objetivo final da empresa é ir além da poupança e ajuda as pessoas a descobrir o meio mais rápido de como pagar seus débitos. Nesse meio tempo, os usuários terão de tomar uma decisão.
“Eles podem decidir se isso [a nova taxa da Digit] vale a pena ou não. Se não, eles não precisarão mais do serviço. Se sim, eles saberão, então, exatamente como estão pagando por isso”, disse o CEO.
Digit from Hello Digit on Vimeo.
