Saiba quando vale a pena trocar o carro pelo Uber. É preciso avaliar outros aspectos além da questão financeira.| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

Ciclofaixas, aumento da malha do transporte metropolitano, corredores de ônibus e aplicativos com tarifas acessíveis são alguns dos incentivos que vêm à cabeça para uma parcela crescente da população que questiona a necessidade de ter um carro próprio. Como se não fosse o bastante, a oferta de aplicativos alternativos de transporte cada vez mais viabiliza essa escolha para os que precisam de veículos particulares.

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Veja o que é preciso colocar no papel

Mas a primeira questão a ser feita é: financeiramente, compensa trocar o carro por aplicativos? De acordo com especialistas em finanças pessoais, nem sempre, e há alguns fatores relevantes a serem considerados antes de vender (ou deixar de comprar) o carro.

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O coach financeiro Roberto Navarro acredita que há na chegada dos novos meios de transporte uma grande mudança de cultura. “Minha filha tem 24 anos e não tem o menor interesse em comprar um carro, ela nem tirou carta”, relata. “A comodidade e os preços dos aplicativos fazem com que as pessoas saiam mais de casa e ando mais até a pé: uso um app para chegar a um destino e se preciso ir para outro lugar próximo, vou andando. Antes eu faria tudo isso de carro”, diz, otimista. “Sou totalmente a favor”.

Mas é necessário colocar as contas no papel. O principal erro de quem faz as contas, de acordo com especialistas, é não levar em consideração todos os gastos de um veículo próprio, mas só a gasolina. “Quem mora em São Paulo não leva em conta, por exemplo, um fator importante: a multa”, alerta o coach.

“Se a pessoa já tem um carro, ela tem custo mensal aproximado de 2% do valor do carro ao mês, considerando uso, IPVA, licenciamento, seguro, estacionamento, combustível e uma depreciação de 10% ao ano”, calcula Reinaldo Domingos, presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e da DSOP Educação Financeira. “Para um carro de 30 mil isso significa aproximadamente 7.200 reais ao ano”, estima. “Isso sem contar eventualidades, como acidentes e até o roubo do veículo”.

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Navarro dá outro exemplo, com um veículo mais robusto. “Quando você compra um carro de 50 mil reais, o vende depois de 2 anos por 30 mil. Se você divide esse dinheiro, perdeu 800 reais por mês”. Caso venda um carro de 50 mil agora, “a pessoa que investir agora direitinho em vez de perder dinheiro consegue ganhar cerca de 14% ao ano: em vez de perder 800, vai ganhar 600 mensalmente”, diz, citando como bons investimentos Certificados de Operações Estruturadas: “o risco é mediano, mas você tem uma garantia e consegue essa taxa de 14% tranquilamente”, completa. “Caso não queira esse risco, uma LFT já renderá 10,15%, a Selic atual”.

Leque de opções

Já entre os aplicativos, a chegada de novos nomes significa muitas vezes uma economia ainda maior. Hoje, já há aplicativos específicos para o cliente descobrir, antes de embarcar, qual a opção mais barata para o destino solicitado – o Vah é um deles, e leva em conta até mesmo as promoções ofertadas em tempo real.

Para comparar com precisão, o melhor a se fazer, segundo Domingos, é testar durante um mês e, além de comparar todas as opções e anotar os gastos, atentar à experiência. “Nenhum aplicativo dará ao usuário a privacidade de um carro particular”, diz. “Isso não é custo, é a personalidade de cada um”.

O coach Navarro concorda. “No dia a dia, só uso aplicativo, mas tenho meu carro na garagem. Nós tomamos decisões emocionais, e não racionais. Quando criança, brincamos de carrinho; adultos continuam brincando de carrinho”, ri. “Meu carro fica 40 dias seguidos na garagem, mas eu mantenho por uma questão puramente emocional”.

Produtividade

Por outro lado, trajetos diários muito longos realizados de carro podem transformar-se até mesmo em uma perda de produtividade. “Se você está no banco de trás de um Uber ou de um táxi, pode fazer uma ligação, responder e-mails, enfim, produzir virtualmente. É algo que não é possível para quem está dirigindo”, lembra Domingos. “Para quem vive neste universo de trabalhar virtualmente, dá entrevistas ou precisa ligar para a família faz toda a diferença”.

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Procurar local para estacionar e parar para abastecer são outros exemplos de tempo gasto com o carro. Já entre os aplicativos, o aumento da oferta diminui o tempo de espera. “Hoje em dia são vários, se você não consegue em algum deles já parte para o outro”, diz Roberto.

Destino

“Se você vai para o centro de São Paulo e me perguntar o que é melhor, eu vou dizer ‘venha de metrô’”, exemplifica Domingos. Para ele, a melhor opção sempre depende dos locais de partida e de destino. “Às vezes, um estacionamento gratuito pode fazer do carro a melhor opção”, diz, em outras, usar um app de transporte para chegar até a estação de metrô mais próxima poupa, além de dinheiro, tempo.

Por outro lado, pessoas que viajam muito de carro devem levar em conta a possibilidade de aluguel por diária. “Se você viaja todos os finais de semana, provavelmente vai valer a pena ter um carro. Mas alugar uma vez por mês, com diária de cerca de 120 reais, tranquilamente é mais vantajoso alugar do que ter carro próprio”, diz Navarro.

Viajando muito a trabalho ao Rio de Janeiro, na região da Barra da Tijuca, Navarro faz uma tabela com base no número de viagens feitas. “Lá é uma região onde preciso de carro para tudo. Se eu percebo que precisarei me locomover muitas vezes, fazer muitas viagens, acabo alugando carro. Quando me hospedo na Zona Sul, é só Uber. É uma questão de fazer uma tabela com todos os gastos e ver os valores gastos”, completa.

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Táxi

A chegada dos aplicativos de motoristas particulares teve também um efeito nos preços dos táxis. Agora, chamar um táxi tradicional via aplicativo também sai, em muitos casos, mais barato que pagar a gasolina, estacionamento, e outros gastos com carro próprio. E com outra vantagem, ao menos na cidade de São Paulo: corredor de ônibus.

“Eu uso táxi”, crava Domingos. “Os táxis também se reinventaram, hoje o valor é muito próximo [ao Uber], além de ser mais rápido e eu me sentir mais seguro. Não comparo custo, comparo a minha comodidade”, afirma.

Navarro vai além: “o Uber foi positivo para os taxistas. Antes dele, eu só usava táxi para ir ao aeroporto, agora eu sei que muitas vezes vale a pena o táxi, porque eu peguei o hábito de não usar carro e de comparar os gastos”.

O que colocar no papel:

Para os especialistas, os itens a serem levados em consideração antes de escolher seu tipo de transporte para o dia a dia são:

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1. Gastos com o carro: 2% do valor de compra ao mês

2. Possibilidade de sinistros e multas

3. Estacionamento

4. Distância

5. Acessibilidade de transporte público

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6. Tempo gasto

7. Segurança

8. Comodidade