Funcionários de financeiras e do INSS estão sob suspeita de envolvimento num golpe contra aposentados. Eles falsificavam empréstimos bancários com desconto em folha e a conta era paga pelos aposentados.
O aposentado Antônio Eustáquio percebeu que faltavam mais de R$ 400 no benefício, o que equivale a quase metade do que recebe. Na agência do INSS de Taguatinga, no Distrito Federal, foi informado de que era por causa do empréstimo com desconto em folha, feito por uma financeira autorizada pela Previdência.
Antônio ligou para a financeira e pediu a cópia do contrato de empréstimo. O nome e o CPF dele estavam corretos, mas o endereço era falso. O valor liberado foi de R$ 9,2 mil que, com o acréscimo de juros, em 36 meses, ultrapassou R$ 15 mil. No verso do documento, constavam as assinaturas dos representantes da financeira, mas o espaço para a assinatura do aposentado está em branco.
Por telefone, a atendente da financeira negou a possibilidade de um contrato ser feito assim e garantiu que o representante vai até à casa do aposentado para conferir a documentação e pegar a assinatura do cliente.
- Tiraram o meu dinheiro, tiraram da boca dos meus filhos, dos meus netos. Tiraram o dinheiro das minhas obrigações - desabafou Antônio.
Um representante da financeira trabalha, todos os dias, bem em frente à porta da agência do INSS. Só no mês de janeiro, a polícia recebeu 18 denúncias idênticas, todas da mesma agência. Para a polícia, o fato da financeira e do INSS aceitarem o contrato sem assinatura é um forte indício de que funcionários das duas instituições estão envolvidas nas fraudes.
- Nós temos solicitado à Justiça auxílio pra que haja quebra de sigilo das pessoas envolvidas pra gente chegar a autoria dos crimes. Se confirmada a irregularidade, a financeira terá que devolver o dinheiro descontado sem autorização - informou o delegado Raimundo de Melo.
- O consumidor, quando perceber que foi vítima de uma fraude, deve imediatamente fazer um documento dirigido à instituição financeira, informando que seu nome foi utilizado indevidamente e solicitando para não haver mais o desconto. Caso esse desconto ocorra, ele tem o direito à devolução em dobro - avisa Leonardo Bessa, promotor de Defesa do Consumidor.
O aposentado Francisco Pires de Mendonça, do interior de Goiás, tenta recuperar os R$ 1,3 mil descontados do empréstimo que não pediu. A operação foi feita em São Paulo.
- Não devo ser só eu que estou nessa; deve ter milhares de pessoas sofrendo essa situação. Eu tenho esperança de que ainda vou ter algum resultado, inclusive o meu dinheiro de volta, que eles pegaram - acredita.
Até outubro do ano passado, os empréstimos consignados podiam ser feitos por telefone. Mas o INSS decidiu mudar a regra para diminuir o risco de fraude. Os contratos dos dois aposentados mostrados na reportagem foram fechados antes da mudança. Quem achar que foi vítima do golpe, deve ligar para a ouvidoria do INSS. O número é 0800 78 0191.