2005 foi, sem dúvida, o ano da inclusão digital no Brasil. É verdade que a população do país está muito longe do grau de acesso à tecnologia que coreanos ou mesmo indianos já possuem, mas o salto brasileiro nessa área durante o ano passado foi gigantesco. Cerca de 6 milhões de PCs foram vendidos durante os doze meses passados um aumento de quase 50% em relação a 2004. E o mais importante: o mercado ilegal, pela primeira vez em dez anos, perdeu participação para as grandes marcas que recolhem impostos e oferecem garantia aos seus clientes. De acordo com a consultoria IDC, especializada em tecnologia, a fatia do "grey market", como são conhecidos os montadores e vendedores de micros piratas, caiu de 74% no fim de 2004 para cerca de 65%.
A tendência é que o fenômeno receba um impulso maior ainda neste ano. O programa oficial "Computador para Todos" é o maior responsável pelo crescimento no número de PCs domésticos no país. Em sua primeira fase, que vigora desde a publicação da primeira "MP do Bem", em junho, o programa barateou os computadores mais simples (que custem até R$ 2,5 mil) ao desonerá-los do recolhimento de PIS e Cofins. O destaque ficou para o segmento doméstico (pessoas físicas), que se beneficiou com a redução dos preços dos computadores. A IDC constatou junto ao varejo que houve um aumento na demanda do primeiro computador. Em dezembro de 2004, apenas 12,5% dos domicílios no Brasil possuíam um PC em casa. Espera-se que esse número tenha atingido 16% em dezembro último.
Há um mês, o governo engatou a segunda marcha na inclusão digital e bancos públicos começaram a financiar a compra de PCs com taxas de juro subsidiadas. Hélio Rotenberg, diretor-geral da Positivo Informática (empresa que, no período, assumiu o posto de liderança na fabricação de PCs no Brasil), acredita que a repressão da Receita ao contrabando e uma campanha publicitária oficial que esclareça alguns pontos do "Computador para Todos" podem impulsionar ainda mais as vendas em 2006. "Também torcemos para que o financiamento dê certo, mas sabemos da dificuldade em atrair o varejo para o programa", explica Rotenberg.
As interrogações ficam mesmo para o acesso à internet. O antigo nome do programa, "PC Conectado", foi abandonado, pois o governo ainda não conseguiu estabelecer um acordo com as operadoras de telefonia que poderiam baratear o acesso à rede para pessoas de baixa renda. "O governo está trabalhando com a perspectiva de oferecer 15 horas mensais de acesso à internet, ao custo de R$ 7,50 mensais mais impostos", declarou, em nota, a Presidência da República.