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Fintechs oferecem antecipação de recebíveis mais em conta do que nos bancos

Equipe da fintech Quartilho,  especializada  na antecipação de recebíveis:  plataforma web concilia os diferentes interesses entre grandes empresas , sua cadeia de fornecedores e financiadores interessados em adquirir títulos destes fornecedores. | /
Equipe da fintech Quartilho, especializada na antecipação de recebíveis: plataforma web concilia os diferentes interesses entre grandes empresas , sua cadeia de fornecedores e financiadores interessados em adquirir títulos destes fornecedores. (Foto: /)

A mineira Manuela Soares trabalhava como consultora financeira quando, em 2013, foi convidada, por um amigo executivo, Fernando Campos, a pensar em uma solução para a antecipação de recebíveis — operação comum às empresas e que, na visão de seu colega, era muito burocrática. Criaram no ano seguinte uma fintech e, de lá para cá, viram o mercado dedicado a essa operação crescer no país.

A antecipação de recebíveis nada mais é do que um adiantamento de valores. Para saldar contas do presente, transformam-se em dinheiro títulos como duplicatas, cartão de crédito, cheques, entre outros. Nessa operação, mesmo em bancos, os juros costumam ser menores do que em outras modalidades de crédito porque há garantia de que os valores pedidos estarão no caixa da empresa.

Se um fornecedor tem uma fatura para receber do comprador em 60 dias, por exemplo, o comprador pode fazer um acordo com um terceiro agente, o financiador, para que este antecipe valores devidos no futuro por esse comprador ao fornecedor, em troca de uma taxa de juros. O comprador assume então a responsabilidade de fazer o pagamento ao financiador.

Iniciativas como a Quartilho, empresa na qual Manuela Soares é CEO, oferecem uma solução alternativa à antecipação de recebíveis usual e aos produtos tradicionais de crédito no mercado. A Quartilho desenvolveu uma plataforma web que concilia os diferentes interesses entre grandes empresas compradoras, sua cadeia de fornecedores e financiadores interessados em adquirir títulos destes fornecedores.

Os fornecedores obtém capital de giro mais barato e de forma ágil. Os compradores — chamados de empresa âncora — não precisam usar o capital próprio para antecipar pagamentos aos seus fornecedores, aumentando o retorno sobre o capital dos acionistas.

Os financiadores (bancos, por exemplo), por sua vez, geram retorno financeiro sobre os títulos compatível com o risco assumido, reduzindo o custo operacional de captação dos títulos no mercado. Consequentemente, argumenta Soares, as taxas de antecipação são menores.

Outras fintechs fazem esse tipo de operação, mas não necessariamente da mesma forma. Há pelo menos 17 fintechs atuando no segmento de gestão financeira — que inclui a operação de antecipação —, de acordo com levantamento feito neste ano pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) em parceria com a PwC.

As fintechs apresentam novidades para um mercado que tradicionalmente operado pelos grandes bancos no Brasil. Em uma factoring tradicional, uma operação de antecipação possui taxas em torno de 4% ao mês. Em bancos, dependendo da operação e da análise de risco da empresa, o custo pode chegar a 3%. “Em uma plataforma como a Quartilho o custo da operação fica entre 1% e 2% ao mês”, diz Soares.

Rapidoo: taxas maiores dos bancos incluem “penduricalhos”

A equipe da Rapidoo, outra fintech da área, chegou a calcular uma taxa de 8,57% ao mês em operação de bancos, contando o que a fintech chama de “penduricalhos” embutidos nas taxas das instituições tradicionais. A empresa diz que opera com uma taxa média de 4,24% ao mês. “O cliente, numa operação em banco, é cobrado por boleto, consulta de protesto, IOF, entre outras coisas”, diz Gabriel Goltl, da área de marketing da startup. Apesar de apresentarem esses benefícios, empresas como a Rapidoo operam uma parte ínfima do mercado, segundo o Banco Central.

A fintech disponibiliza a ferramenta para qualquer um requisitar o serviço. Goltl diz que, ao fazer isso, a startup pretende ajudar aqueles que carecem de ferramentas para entender a antecipação. “Sabemos que muitos pequenos e médios empreendedores não teriam crédito no banco para fazer essa operação“, diz.

Foi o que percebeu o dono de uma fabricante de molas em São Paulo, Alan Bruno da Silva. Por ter uma dívida em protesto, não conseguiu antecipar recebíveis em nenhum banco. Quando sua empresa recebia um grande pedido, recusava por não ter dinheiro em caixa para pagar o fornecedor. “Sabia que o dinheiro entraria, mas naquele momento não podia desembolsar aquele valor”, conta.

Foi assim até o empresário encontrar, numa busca no Google, a Rapidoo. Ele conta que hoje atende cerca de 35 clientes por mês e dialoga com oito fornecedores. “Os atuais R$ 30 mil de limite da plataforma permitem que a empresa não pare”. A startup da qual Alan é cliente opera com capital próprio, não com bancos.

Sem parceria com bancos

Operar sem bancos também é o caso da Antecipa, que, assim como a Quartilho, não deixa a ferramenta aberta a qualquer empresário. A startup, residente do centro de empreendedorismo Cubo Itaú, em São Paulo, oferece a plataforma diretamente para empresas que têm faturamento acima de R$ 300 milhões ao ano e que operam grandes cadeias.

O fundador da startup, Camilo Telles, diz que, contando os fornecedores, são três mil empresas cadastradas na plataforma. “O fornecedor tem acesso a um capital de giro mais barato e o comprador tem um maior retorno do caixa”, diz. Ele acredita que uma das vantagens é justamente tirar o banco da operação.

Para consultor jurídico do Sindicato das Sociedades de Fomento Mercantil Factoring (Sinfac-SP), Alexandre Fuchs, uma desvantagem comum aos bancos é a exigência de uma fidelização do cliente que, entre outras coisas, condiciona a oferta da operação de antecipação à adesão de outros serviços na mesma instituição. O que, por outro lado, facilita se houver intenção de negócios futuros, porém, só neste caso. “Mas os bancos nunca olharam muito para a antecipação. Encaravam como um subproduto do crédito”, critica.

A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) diz que acompanha com interesse o desenvolvimento das startups do setor financeiro, que atuam na antecipação e em outras operações. Mas lembra que muitas dessas empresas precisam, legalmente, vincular-se a uma instituição financeira para conseguir prestar seus serviços.

“Os bancos desenvolvem estratégias próprias para lidar com esse elemento de inovação e já podem apresentar exemplos bem-sucedidos de associação com empresas capazes de aproveitar com grande eficiência as oportunidades trazidas pela tecnologia”, diz a Febraban, em nota.

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