A agência de classificação de risco Fitch rebaixou nesta quinta-feira (15) a nota de crédito do Brasil para ‘BBB-’ e colocou o rating sob perspectiva negativa. Apesar do corte, o país manteve o grau de investimento – espécie de selo de bom pagador.
A nota foi cortada de “BBB” para “BBB-”. Agora, o Brasil está no último degrau antes do nível especulativo – o que encareceria os empréstimos que o país toma no exterior. A perspectiva negativa significa que a nota do país pode sofrer novo corte quando a agência revisar sua avaliação sobre o Brasil.
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Em seu comunicado, a agência diz que o corte na nota do país reflete o crescente endividamento do governo, os crescentes desafios à consolidação fiscal e a piora da perspectiva para o crescimento econômico.
“O ambiente político difícil está dificultando o progresso na agenda legislativa do governo”, afirma a Fitch, apontando que esse problema reverbera negativamente para a economia em geral. A perspectiva negativa reflete a visão de que a performance abaixo do desejado deve persistir.
O que é o grau de investimento
O grau de investimento é uma condição atribuída por agências internacionais de classificação de risco a papéis, empresas ou países para definir que se trata de um investimento seguro -ou seja, com baixo risco de calote.
As três agências risco de maior visibilidade no mundo são a Standard & Poor’s, a Moody’s e a Fitch Ratings.
As notas de crédito têm impacto sobre o custo da dívida de empresas e países. Quanto melhor a classificação, menor tende a ser o desembolso com os juros dos financiamentos, e vice-versa.
A Fitch diz que o impacto antecipado da recessão econômica sobre as receitas do governo e a dificuldade para implementar medidas para compensar o cenário político “complicado” minaram a estratégia de consolidação fiscal do governo. “Consequentemente, em julho o governo reduziu suas metas de superávit primário substancialmente para 2015 e adiante”, diz a agência. “Em outro revés para a credibilidade fiscal, o governo entregou o orçamento de 2016 com uma meta fiscal ainda mais fraca.”
A agência aponta que, ainda que o governo esteja trabalhando em certas propostas tributárias e de gastos para retomar o padrão fiscal contido nas projeções de julho, permanece havendo “incerteza considerável” sobre sua implementação, “especialmente no contexto do atual impasse político”.
“Conter os gastos discricionários ganha importância”, afirma a agência, a luz de uma carga tributária já alta e da rigidez do orçamento, de limites a mais cortes em gastos discricionários e uma recuperação econômica fraca. “Essas medidas, porém, exigem um consenso e apoio político mais amplos, o que pode ser difícil de obter”, afirma a Fitch.
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O rebaixamento ocorre pouco mais de um mês após a agência Standard and Poor’s cortar a nota do país para grau especulativo. Na ocasião, a S&P citou a ‘falta de habilidade‘ e ‘vontade‘ do governo Dilma Rousseff ao submeter um orçamento deficitário ao Congresso.
Além de cortar a nota do Brasil, a S&P colocou o país em perspectiva negativa para nova redução de sua classificação dizendo que há mais de ‘uma chance em três‘ de a situação piorar.
Já a Moody’s rebaixou a nota do país em agosto. Na agência, a classificação é ‘Baa3‘, a apenas um passo de perder o selo de bom pagador. A perspectiva da nota, porém, é estável.
A S&P foi a primeira agência de classificação de risco a elevar o Brasil ao chamado grau de investimento, em abril de 2008, no segundo mandato do presidente Lula. Depois, Fitch (maio de 2008) e Moody’s (setembro de 2009) também deram a mesma chancela ao Brasil.
Consequência
Manter o selo de bom pagador é importante para o Brasil porque grandes fundos internacionais possuem regras impedindo-os de investir em títulos de países com grau especulativo. A maior parte tem como regra que ao menos duas agências classifiquem o país como grau de investimento.
Além disso, quanto melhor a classificação, menor o custo da dívida para o país.
Previsões
A agência Fitch projeta atualmente que o déficit do governo geral do Brasil piore para perto de 9% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2015, devido aos juros mais altos, em parte refletindo as perdas nos swaps cambiais oferecidos pelo banco central.
Os déficits fiscais médios durante o período 2016-2017 devem permanecer elevados, em mais de 6% do PIB, baseados na expectativa da Fitch de que o governo terá dificuldade de atingir suas metas de superávit primário de 0,7% e de 1,3% do PIB em 2016 e 2017, respectivamente.
“A Fitch prevê um equilíbrio fiscal em 2016 e um superávit de 0,5% do PIB em 2017, ainda que os riscos de baixa persistam, nas previsões da agência. “Como resultado, a Fitch prevê que o endividamento do governo brasileiro chegue perto de 70% do PIB em 2016, “significativamente acima da mediana BBB de 43%”, e que ele continuará a avançar em 2017.
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