A agência de classificação de risco Fitch revisou nesta quinta-feira (08) a perspectiva do rating do Brasil para negativa, ante estável, citando a contínua fraqueza econômica no país, maior desequilíbrio macroeconômico e deterioração fiscal.
A Fitch manteve a classificação do rating brasileiro em “BBB”, a penúltima nota de grau de investimento, mas citou como riscos a dificuldade em consolidar o ajuste fiscal, o crescimento fraco contínuo, a confiança reduzida no governo e a o crescente endividamento público.
“Embora o governo tenha iniciado um processo de ajuste macroeconômico para melhorar a credibilidade política e a confiança, persistem riscos relacionados à sua implementação efetiva e durabilidade, especialmente no contexto de um ambiente desafiador econômico e político”, avaliou a Fitch.
Com a decisão da Fitch, amplamente esperada, a classificação do Brasil pela agência fica em linha com a da Moody’s, que atribui nota “Baa2” ao Brasil, com perspectiva negativa. Até agora, apenas a Standard & Poor’s rebaixou o país para “BBB-”, um grau acima do território especulativo.
O comunicado da Fitch chegou causar alguma volatilidade nos mercados financeiros brasileiros imediatamente após sua divulgação, com o dólar chegando a subir ante o real. O movimento, porém, logo perdeu força.
“Não tem nenhuma novidade (na decisão da Fitch), não muda muito o quadro que nós conhecemos que tem levado a essas ações negativas. Foi só a última agência a fazê-lo. Não fez tanto preço porque na verdade está se alinhando com as demais (agências)”, disse o economista-chefe do Banco J.Safra, Carlos Kawall.
Perspectivas
Para a Fitch, o processo de ajuste macroeconômico no Brasil, se implementado com sucesso, pode levar a uma retomada da confiança e crescimento em 2016, mas este último deve ficar abaixo do de outros países com o mesmo rating.
“As perspectivas de crescimento no médio prazo dependem amplamente da capacidade do governo de reverter a queda na confiança e melhorar a competitividade da economia progredindo nas reformas microeconômicas”, segundo a agência.
Uma fonte no Ministério da Fazenda afirmou que a decisão da Fitch não chegou a ser surpreendente, mas que a avaliação é de que o momento não foi correto. “O cenário do país tem melhorado, com sinais de que as reformas vão ser aprovadas à medida que o ambiente político também melhora. A situação é muito diferente de 2014”, disse a fonte, que falou sob condição de anonimato.
A Fitch destacou ainda que a inflação elevada e “déficits gêmeos” ressaltam os desequilíbrios macroeconômicos, e prevê que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuará a enfrentar pressão durante 2015 devido à depreciação do real e ao aumento dos preços administrados.
Em março, o IPCA acelerou a 1,32 por cento, maior taxa para o mês em duas décadas, devido principalmente à pressão dos preços da energia, acumulando em 12 meses avanço de 8,13 por cento. A meta de inflação do governo é de 4,5 por cento, com margem de 2 percentuais para mais ou menos.
A Fitch estima ainda que o déficit geral do setor público permanecerá elevado em 2015-2016 devido a dificuldades em alcançar as metas de superávit primário.
“Além disso, a recessão econômica em 2015 e uma recuperação fraca no próximo ano continuarão a pressionar para cima a trajetória da dívida do governo em geral mesmo sob a suposição de que o Tesouro não estenda empréstimos adicionais ao BNDES”, completou o texto.
A popularidade baixa da presidente Dilma Rousseff, o Congresso fragmentado e as investigações de corrupção na Petrobras também são obstáculos levantados pela Fitch.