A importação e a exportação de granéis fizeram o Porto de Paranaguá ultrapassar seus limites neste ano e prometem continuar crescendo. Apesar de outros portos do país estarem ampliando a recepção de fertilizantes e o embarque de grãos, a demanda regional tem fôlego extra e pode agravar a sobrecarga, conforme avaliação Associação dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) e da área de Gestão Estratégica do Ministério da Agricultura.
Soja, milho, açúcar e fertilizantes são os produtos que mais exigem investimentos para elevar a movimentação de cargas, mostra o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto Organizado de Paranaguá (PDZPO), estudo realizado pelo Laboratório de Transportes e Logística da Universidade Federal de Santa Catarina (LabTrans/UFSC) que deve orientar a execução de projetos orçados em R$ 2 bilhões. São essas commodities que têm provocado filas de mais de 100 navios, com espera de até 40 dias para atracação.
Na soma desses quatro produtos, a demanda atual, de 21,2 milhões de toneladas por ano, é 4,7 milhões de toneladas superior à capacidade do porto ou seja, há um déficit de capacidade de cerca de 28%. Considerando-se todo o movimento do porto, que chega a 41 milhões de toneladas ao ano, a sobrecarga é de 11%. Trata-se da evidência mais concreta de que a demanda deve dobrar em 20 anos, conforme a Gazeta do Povo mostrou nas duas primeiras reportagens da série "O futuro do porto".
Mesmo perdendo participação nos embarques nacionais, Paranaguá vai enfrentar demanda regional crescente, sustenta o superintendente da Appa, Luiz Henrique Dividino. Sem área significativa para ampliar suas lavouras, o estado ainda pode crescer em produtividade e ampliar particularmente a produção de milho e a de açúcar, avalia.
As duas regiões brasileiras que mais crescem na produção agrícola o circuito de Mato Grosso, no Centro-Oeste, e a zona que abrange Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o MaToPiBa, no Centro-Norte estão estruturando os portos em Itacoatiara, na região de Manaus, Suape, próximo a Recife, e Itaqui, em São Luís. Há forte investimento também nos corredores rodoferroviários que facilitam o escoamento da safra do Centro-Oeste pelo Porto de Santos.
Mesmo assim, o superintendente do porto paranaense aponta que as elevadas cotações internacionais e a desvalorização do real face ao dólar estimulam investimentos no campo e "aumentos substanciais" nos embarques.
"O grande salto de exportação deverá ocorrer por conta dos ganhos em produtividade que ainda estão por vir", aposta. Para produzir mais grãos nas áreas atuais e ampliar as exportações, o agronegócio precisa também importar mais fertilizantes.
Apesar da estruturação de terminais exportadores em outras regiões do país, Paranaguá tende a atender nas próximas décadas uma zona produtiva maior que a atual, conforme o coordenador de Planejamento Estratégico do Ministério da Agricultura, José Garcia Gasques. "À medida que melhorarem as condições de infraestrutura, deve haver sem dúvida uma expansão da área de abrangência." Por outro lado, Gasques considera que o desempenho local é que vai determinar a sobrecarga. "O aumento da produtividade no estado será um fator decisivo."
O crescimento da demanda estadual e a expansão da área de abrangência podem fazer com que a área disponível para ampliação do porto equivalente a 50 campos de futebol ganhe destino rapidamente.
Para driblar dificuldades, empresas investem por conta própria
Carlos Guimarães Filho
As empresas e cooperativas que operam no Porto de Paranaguá têm optado pelos investimentos próprios em estrutura para minimizar os problemas gerados pela sobrecarga no terminal. Essa tem sido a solução, mesmo que paliativa, diante das dificuldades de investimentos do setor público para aumentar a movimentação de cargas, principalmente granéis.
A Coamo, de Campo Mourão (Centro-Oeste do Paraná), investiu na construção de um armazém de 100 mil toneladas e na instalação de duas correias que fazem o transporte de carga da indústria aos armazéns. A cooperativa opera no litoral paranaense desde 1994. "Quando compramos, eram dois armazéns de 42 mil toneladas e duas correias que ligavam os armazéns aos navios. Tivemos muitas dificuldades e foi preciso modernizar", relata José Aroldo Gallassini, presidente da Coamo.
No momento, a cooperativa não tem planos de novos investimentos. Porém, Gallassini sabe que, em breve, terá que ampliar a capacidade de operação, até porque a cooperativa continua crescendo: está construindo oito unidades armazenadoras cinco no Paraná e três em Mato Grosso do Sul , um moinho de trigo e um laboratório industrial, entre outras melhorias na sua estrutura. "No momento, não temos em vista [novos investimentos no porto]. Mas como hoje estamos operando no limite, sabemos que será necessário investir", diz.
Oura empresa que cansou de esperar por melhorias e abriu a carteira para ampliar suas operações foi a Rocha Top, que movimenta fertilizantes no terminal. A empresa investiu R$ 80 milhões para implantar uma nova esteira que permitirá dobrar a velocidade de descarga de adubo, de 6 mil para 12 mil toneladas por dia.