A forte recuperação em curso entre as principais economias da América Latina pode mostrar-se desfavorável caso os fluxos de entrada de capital levem a bolhas de ativos, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta terça-feira. Com expectativas de que as taxas de juros baixas globalmente e o apetite dos investidores por retornos continuarão, o FMI disse que economias como a do Brasil e do Peru devem retirar seus estímulos e tomar outras medidas para evitar o sobreaquecimento.
"Com as condições externas favoráveis e a recuperação econômica avançando mais rápido do que o esperado, o principal desafio de política para os exportadores de commodity integrados será gerenciar a alta do ciclo econômico", disse o Fundo em sua perspectiva regional para o Hemisfério Ocidental. O diretor desse departamento no Fundo, Nicolas Eyzaguirre, afirmou que, embora claros indícios de bolhas ainda não tenham aparecido, há alguns sinais incipientes nos valores de algumas ações e moedas que possam exigir uma resposta de política econômica em múltiplas frentes.
"Se todos os cenários se alinharem de modo a que uma bolha apareça a menos que se faça alguma coisa, um bom conselho é tomar essas medidas cedo", disse Eyzaguirre a jornalistas.
O FMI divulgou suas mais recentes previsões para a América Latina e o Caribe no mês passado, como parte da Perspectiva Econômica Mundial, projetando uma expansão de 4% para a região neste ano e no próximo. Mas o relatório divulgado nesta terça-feira (4) dá mais detalhes sobre os desafios que países específicos estão enfrentando com o aumento da entrada de fluxos e sobre o modo como estão respondendo a isso.
O relatório do FMI reitera que essas políticas devem ser apenas usadas em combinação com outras medidas e somente em último caso. "Os controles dos influxos de capital e a intervenção no mercado de câmbio para conter a apreciação da moeda podem fazer parte de um conjunto de ferramentas, mas os responsáveis pela política precisam ter em mente suas limitações, incluindo o fato de que algumas abordagens podem ter efeito contrário e atrair mais capital", disse o FMI.
A flexibilidade da taxa de câmbio é chave para absorver os fluxos, juntamente com a combinação de uma política fiscal ajustada e uma política monetária frouxa, segundo o FMI. Medidas macroeconômicas prudentes com o objetivo de suavizar o crescimento do crédito, como exigências de reservas ajustadas ciclicamente, também podem ajudar, disse o Fundo.
O economista do FMI Marcos Chamon, que foi coautor do paper da equipe do FMI divulgado em fevereiro justificando o uso de limitações ao capital como parte do ferramental de políticas, disse hoje que outros países podem seguir o Brasil na imposição de medidas nessa linha. No ano passado, o País passou a cobrar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para a entrada de capitais estrangeiros, que buscam aplicações em renda fixa e variável no Brasil.
"Minha impressão é de que boa parte do estigma diminuiu", disse Chamon durante um painel de discussões promovido pelo Carnegie Endowment for International Peace. "Eu não ficaria surpreso se mais países impuserem algum tipo de controle sobre seus influxos especialmente se a corrente de capitais para mercados emergentes continuar no ritmo projetado", disse ele.
Chamon destacou, no entanto, que o conselho executivo do FMI continua dividido sobre a questão. Os problemas na Grécia continuam apresentando uma pequena ameaça para a região, tendo em vista as relações limitadas por meio do comércio e dos canais financeiros.
"Não vimos os spreads na América Latina serem muito afetados pelo que está ocorrendo na Europa e há bastante liquidez", disse Eyzaguirre. Mas o relatório afirma que "num cenário extremo", a crise de dívida soberana no sul da Europa pode ter um impacto ao despertar a aversão ao risco global entre os investidores.
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