O Fundo Monetário Internacional (FMI) não considera que nos próximos anos o Brasil fará a reforma tributária, não terá avanço de investimentos em infraestrutura nem tampouco será viabilizada a abertura comercial proposta pelo governo. Tais fatores não estão contemplados nas previsões macroeconômicas do Fundo para o País, que estima que o PIB avançará 2% no próximo ano e manterá esse ritmo até 2024, quando o crescimento deverá atingir 2,3%.
"De fato, esses fatores não estão incluídos nas nossas projeções", destacou Gita Gopinath, economista-chefe do Fundo Monetário Internacional. "É como fazemos para todos os países, não é somente para o Brasil. Temos de basear nossas projeções em políticas críveis e anúncios feitos e ainda não estamos nesse estágio."
Para ela, tais mudanças estruturais serão muito úteis para o Brasil elevar seu potencial de crescimento para uma marca superior a 3% ao ano. A seguir, os principais trechos da entrevista.
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O FMI estima que o Brasil crescerá 2% em 2020 e 2,3% em 2024. É justo avaliar que com esse nível de expansão, o país não fará a reforma fiscal nem abrirá a economia ou avançará em investimentos de infraestrutura?
O baixo crescimento do Brasil está relacionado a dois fatores: o aperto fiscal que o país precisa fazer para diminuir o alto nível da dívida e as incertezas de políticas relacionadas a reformas. Do lado positivo, a reforma da Previdência registrou muito progresso, o que é bom, mas há várias reformas necessárias. Outra questão para o Brasil veio do setor externo, relacionada a seus parceiros comerciais. A Argentina está em recessão e o crescimento da China está desacelerando. A situação fiscal ainda requer muito trabalho para colocar as contas públicas em uma trajetória mais sustentável. Por isso, avaliamos a importância da reforma tributária para ajudar o ambiente de negócios. Quando realizamos projeções macroeconômicas precisamos baseá-las em premissas sobre anúncios que os países fizeram, sobre o que vão realizar e que são críveis.
O FMI não considera que ocorrerá a reforma tributária, nem aumento substancial de investimentos em infraestrutura ou a abertura da economia até 2024?
De fato, estes fatores não estão nas nossas projeções.
Por quê?
É como fazemos para todos os países, não somente para o Brasil. Temos de basear nossas projeções em políticas críveis e anúncios feitos e ainda não estamos nesse estágio. E dado que o Brasil precisa lidar com questões importantes, inclusive na área fiscal têm que ser avaliadas reformas e políticas críveis.
Essas mudanças estruturais na área fiscal são essenciais para que o Brasil tenha um patamar mais elevado de crescimento acima de 3% ao ano?
Sim, acredito que serão extremamente úteis para isso. E se a demanda global avançar também ajudará.
A sra. está otimista com o acordo "fase 1" firmado por EUA e China anunciado na sexta-feira?
É importante esperar os detalhes dessa "fase 1". Uma escalada das tensões comerciais ainda é um risco real para a perspectiva econômica mundial e não vou retirá-lo da mesa neste momento por múltiplas razões. Uma delas é que há possibilidade de que as tensões comerciais poderiam se estender à União Europeia, com tarifas sobre carros. Também há a possibilidade de que as disputas contemplem questões de tecnologia, não somente mercadorias.
Quais são os fatores que poderão levar o crescimento global para uma expansão acima dos 3,4% previstos para 2020 pelo FMI?
Penso que se conseguirmos a alta de 3,4% no próximo ano ficaremos muito felizes, pois hoje o crescimento global é precário. Essa previsão considera que não serão impostas mais tarifas nas disputas entre EUA e China, não ocorrerá escalada da tensão comercial e haverá recuperação de mercados emergentes, como Brasil, Índia e México.
Quais fatores poderiam deflagrar uma recessão nos EUA em 2020?
Para uma recessão nos EUA, que não está em nosso cenário, seria preciso um fator extremado, algo que levaria a economia global a uma forte desaceleração. Vamos avaliar o seguinte: suponha que ocorreria uma escalada das tensões comerciais, que superaria as relações EUA-China e chegaria à Europa, que atingiria questões de tecnologia, os mercados de capitais. Então poderíamos ver as condições financeiras mundiais mudar muito rapidamente e poderiam afetar várias partes do mundo, inclusive países emergentes. Poderia haver correções nos mercados, com aperto de condições financeiras a empresas e poderiam surgir mais calotes corporativos. Esse seria o tipo de fenômeno que poderia levar a uma grave retração nos EUA.