A reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial foi iniciada nesta segunda-feira (8) em Tóquio com notícias ruins sobre a economia global. A nova edição do relatório Perspectivas para a Economia Mundial é mais sombria do que as análises divulgadas em julho, indicando a deterioração do cenário econômico e o aumento dos riscos. O fundo derrubou quase todas as previsões de crescimento e o Brasil não escapou. Segundo o FMI, a economia mundial crescerá 3,3% em 2012, contra 3,5% previstos há três meses. A estimativa para o crescimento brasileiro ficou abaixo desta média: caiu de 2,5% para 1,5% - uma das maiores reduções tanto entre as nações ricas quanto entre as emergentes.
"A recuperação continua, mas enfraqueceu", resume o relatório do fundo, alertando que o desemprego deve continuar alto em várias partes do planeta. As principais ameaças vêm da zona do euro e do chamado abismo fiscal nos EUA - a possibilidade de serem retiradas, em janeiro, isenções de impostos concedidas no governo Bush, ao mesmo tempo em que entrariam em vigor cortes automáticos dos gastos federais, se não houver um acordo no Congresso americano.
O fundo também cita o enfraquecimento de instituições financeiras e políticas inadequadas em nações desenvolvidas. Ainda assim, espera-se uma melhora da expansão global em 2013, embora os índices também tenham sido revistos. A previsão de crescimento mundial no ano que vem caiu de 3,9% para 3,6%. O Brasil cresceria 4% (ante os 4,7% estimados em julho).
De acordo com o relatório do FMI, as projeções se baseiam em duas premissas cruciais: a de que os políticos europeus manterão a crise do euro sob controle e as autoridades americanas tomarão medidas para enfrentar o abismo fiscal. "Um fracasso nessas questões tornaria as perspectivas ainda piores", alerta o documento.
Os países industrializados e as economias emergentes e em desenvolvimento tiveram suas previsões pioradas em relação ao que se esperava em julho. O primeiro bloco deverá crescer 1,3% em 2012 (recuo de 0,1% em comparação à última projeção) e 1,5% em 2013 (a estimativa anterior era de 1,8%). No segundo bloco, a expansão da atividade em 2012 seria de 5,3% (queda de 0,3%) e em 2013 de 5,6% (0,2% a menos do que o esperado). A China continua sendo um gigante se comparada às outras nações, mas também sofre desaceleração. Deverá crescer 7,8% este ano e 8,2% em 2013 - uma contração de 0,2% nas duas projeções.
"Baixo crescimento e incertezas nas economias avançadas estão afetando os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento, através do comércio e de canais financeiros, somados a fraquezas domésticas", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, que assina o capítulo inicial do documento.
O volume do comércio mundial deve crescer 3,2% este ano, índice inferior aos 5,8% de 2011 e 12,6% de 2010.
Previdência
A redução da expansão do PIB latino-americano para cerca de 3% na primeira metade do ano (a região cresceu 4,5% em 2011) se deve, em grande parte, ao desempenho brasileiro. Segundo o FMI, isso é "um reflexo do impacto de políticas para conter a pressão inflacionária e medidas para moderar o crescimento do crédito em alguns segmentos do mercado".
O relatório pede reformas estruturais em vários países. No caso do Brasil, onde um dos grandes componentes do crescimento tem sido o consumo interno, com baixas taxas de investimento e poupança doméstica, o fundo sugere reformas no sistema de previdência "para fortalecer a posição fiscal do país e desenvolver instrumentos financeiros de longo prazo".
Mas o relatório do FMI também salienta a perspectiva de aceleração do crescimento brasileiro no ano que vem. O fundo cita "as medidas fiscais destinadas a impulsionar a demanda no curto prazo e flexibilização da política monetária, incluindo cortes nas taxas de juros".
Em linhas gerais, a grande questão a médio prazo, pergunta o fundo, é saber como a economia mundial pode operar com governos altamente endividados e se os mercados emergentes conseguirão continuar crescendo, enquanto mudam seu foco de expansão das fontes externas para as domésticas.
"Medidas mais imediatas são necessárias. A Espanha e a Itália precisam manter os planos de ajuste para restabelecer a competitividade e o equilíbrio fiscal. Deverão recapitalizar seus bancos sem sobrecarregar o déficit", ressaltou Blanchard.