A crise na produção fez o parque industrial do país demitir funcionários pelo quinto mês consecutivo. Como resultado, a indústria atingiu em agosto o menor número de assalariados dos últimos dez anos. O total de ocupados no setor hoje é 7,7% menor do que o pico histórico registrado em junho de 2008, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A força de trabalho praticamente se equipara à de uma década atrás, de janeiro de 2004. "É o pior patamar do emprego industrial em dez anos, superando até o período de crise, que teve seu pior momento em junho de 2009, quando o pessoal ocupado estava 7% abaixo do recorde histórico", ressaltou o economista Rodrigo Lobo, pesquisador da Coordenação de Indústria do IBGE.
O número de horas pagas aos trabalhadores em agosto foi o mais baixo da série histórica da Pimes, iniciada em 2001. O total de horas está 9,9% aquém do pico registrado em setembro de 2008. O indicador é considerado um antecedente do emprego, pois os empresários costumam cortar a jornada dos empregados antes de efetivar mais demissões.
A deterioração da ocupação na indústria já se reflete em outros setores, na medida em que resulta em perda de renda. "Quem trabalha na indústria corta cabelo, faz compras. O corte de vagas afeta a renda dos trabalhadores, que afeta os serviços e o comércio. A crise na indústria não é isolada, ela vai se espraiando", avaliou Rogério César de Souza, economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial.
Efeito
De outubro de 2013 a agosto de 2014, a produção da indústria brasileira encolheu 5%. Nesse mesmo período, a população ocupada no setor diminuiu 3,1%, enquanto as horas pagas aos trabalhadores foram reduzidas em 3,8%. "Os números dão um pouco a entender por que o mercado de trabalho na indústria está respondendo de forma negativa. Embora a produção tenha se recuperado nos últimos dois meses, o mercado de trabalho demora a responder, o efeito é defasado. O cenário ainda é de queda", avaliou Lobo.
Apenas nos últimos cinco meses, o total de assalariados já diminuiu 2,9%. Na comparação com agosto do ano passado, a queda chegou a 3,6%, a 35.ª taxa negativa consecutiva.
Retração
Paraná lidera queda do emprego industrial em agosto e no ano
Renan Colombo
O Paraná é o estado brasileiro com a maior queda no índice de emprego industrial em agosto deste ano, na comparação com agosto de 2013. O recuo é de 5,2%, acima da média nacional (- 3,6%). Foi a 13.ª queda consecutiva do índice no Paraná, nesse tipo de comparação. O estado também lidera, ao lado do Rio Grande do Sul, a queda acumulada do indicador neste ano (até agosto): 4,1%, acima da média brasileira (- 2,7%).
Quinze dos 20 setores industriais do Paraná tiveram queda no índice de emprego em agosto, em relação ao mesmo mês de 2013. Em quatro deles, o recuo foi superior a 10%: máquinas e aparelhos elétricos, eletrônicos, de precisão e de comunicações (- 30,63%), fabricação de outros produtos da indústria de transformação (- 12,83%), vestuário (- 11,66%) e metalurgia básica (- 10%).