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Crise

Ford culpa prejuízo, queda nas vendas e insegurança em regras de carbono por fechamento de fábrica

F-4000, produzida na fábrica de Sâo Bernardo do Campo | /Divulgação
F-4000, produzida na fábrica de Sâo Bernardo do Campo (Foto: /Divulgação)

Em 50 minutos de reunião, o presidente da Ford para América do Sul, Lyle Watters, listou os motivos para encerramento de suas atividades em São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Um prejuízo milionário na América do Sul e a indefinição de regras para emissões de carbono pesaram na decisão. Além da queda nas vendas do New Fiesta, A decisão do fechamento foi anunciada nesta terça (19), dois meses antes da comemoração do centenário da fábrica no Brasil.

A Ford montadora fechou o ano de 2018 com um prejuízo de US$ 678 milhões em toda a América do Sul, segundo relato de Watters em reunião com diretores de Recursos Humanos da empresa e uma representação de trabalhadores. A fábrica de São Bernardo do Campo, que será desativada, produz o Ford Fiesta e as linhas F-4000 e F-350.

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O presidente ainda reclamou da indefinição das regras brasileiras para emissões de carbono, segundo relatos do coordenador-geral da representação dos funcionários da montadora, José Quixabeira, o “Paraíba”. Watters apontou a indefinição de regras como empecilho para busca de investimentos para adaptação de caminhões ao Euro 6 -nova etapa do programa brasileiro de controle de emissões de poluentes para veículos comerciais pesados.

O presidente da Ford disse ainda que tentou vender a fábrica para uma empresa turca,  mas não teve sucesso.

Outra razão foi a queda da produção do New Fiesta, modelo fabricado em São Bernardo do Campo. A previsão para este ano é de 16.700 carros, cerca de 15% da produção de 2013.

Watters afirmou que a fábrica de Camaçari, na Bahia, também opera com dificuldades já que as locadoras de veículos são as principais compradoras do Ford K. E a negociação reduz a margem de lucro da fábrica, ainda segundo Quixabeira.

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Terra arrasada

O sindicalista reuniu os metalúrgicos para anunciar a decisão. “Virou terra arrasada. Todo mundo com cara de derrota”, disse Quixabeira, que anunciou a decisão.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a unidade emprega 2.800 trabalhadores diretos, além de terceirizados não quantificados. 

A Prefeitura de São Bernardo do Campo calcula que 2.000 famílias são afetadas indiretamente pela decisão.

Segundo ele, a notícia surpreendeu até porque os trabalhadores vinham contribuindo com planos internos, como o Programa de Demissão Voluntária. Há 32 anos na fábrica, Quixabeira lamenta a sorte dos jovens.

“Posso me aposentar. Mas e os meninos?”, diz.

Péssima notícia

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, também falou sobre o fechamento da fábrica. Para ele, a decisão da empresa é uma péssima notícia.

“É uma decisão da Ford, não se pode interferir na decisão da empresa”, disse.

Skaf indicou que as empresas devem se preparar para operar em um mercado mais competitivo.

“O Brasil precisa voltar a crescer, gerar empregos, riquezas e as empresas têm que se fortalecer. Nós temos que nos reinventar como país. Estamos todos virados para dentro e o mundo se transformou. Estou preocupado com isso”, afirmou. 

Ele classificou, porém, como péssima a notícia de que uma segunda montadora está com dificuldades de produzir em SP. No mês passado, a GM informou que estudava o fechamento da unidade de São José dos Campos e pediu ajuda do governo.

Histórico

Essa não é a primeira vez que a Ford fecha unidades no Brasil. No governo Collor, a montadora encerrou as atividades da montadora de tratores.

Então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Vicente Paulo da Silva, o “Vicentinho”, lembra que viajou aos Estados Unidos como representante dos trabalhadores. Daí nasceu uma câmara setorial para garantir a permanência das montadoras no Brasil.

A história da Ford se confunde com a trajetória do movimento sindical brasileiro, como as greves de 1978 e 1979. Em 1990, a montadora foi palco do movimento dos golas vermelhas, alusão ao uniforme dos trabalhadores da manutenção.

Funcionário da Ford desde 1987, o sindicalista João Cayres lembra que 900 empregados da manutenção entraram em greve enquanto os demais trabalhadores permaneciam em atividade. No final do mês, cada trabalhador doava um dia de salário para sustentar os grevistas. Só que a montadora decidiu suspender também o pagamento dos não-grevistas, que iniciaram um quebra-quebra dentro da fábrica.

“Tenho até hoje a camisa com a gola vermelha. Com com o símbolo da Autolatina”, lembra. 

 

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