A montadora Ford anunciou, nesta segunda-feira (11), que deixará de produzir veículos no Brasil. Com isso, serão fechadas as plantas de Camaçari, na Bahia; Taubaté, em São Paulo; e a fábrica da Troller, em Horizonte, no Ceará. No comunicado, a Ford justifica que "a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas".
Em Camaçari e Taubaté, a produção será encerrada imediatamente, com a manutenção, apenas, da fabricação de peças por alguns meses, "para garantir a disponibilidade dos estoques de pós-venda". Já a fábrica da Troller continua operando até o quarto trimestre de 2021. Com isso, não serão mais vendidos os modelos EcoSport, Ka e T4 assim que acabarem os estoques.
A decisão de encerrar a produção no Brasil afeta diretamente 5,3 mil pessoas empregadas pela montadora nas três fábricas que serão desativadas. O maior contingente está na fábrica de Camaçari, onde 4,06 mil trabalhadores estão envolvidos na produção dos modelos EcoSport e Ka e motores, além de áreas administrativas. Em Taubaté (SP), onde são produzidos motores e transmissões, são mais 830 funcionários, que se somam a 460 trabalhadores da fábrica dos jipes Troller em Horizonte (CE).
Os números são de trabalhadores empregados diretamente pela Ford. Não incluem, portanto, os empregados de fornecedores de peças da montadora, que também são afetados pela medida.
A Ford manterá no Brasil a sede administrativa da América do Sul, o Centro de Desenvolvimento de Produto e o Campo de Provas. “Trabalharemos intensamente com os sindicatos, nossos funcionários e outros parceiros para desenvolver medidas que ajudem a enfrentar o difícil impacto desse anúncio”, prometeu Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul e Grupo de Mercados Internacionais, em nota.
O impacto financeiro do fechamento das unidades brasileiras será de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, conforme informação divulgada pela montadora. Do total, cerca de US$ 2,5 bilhões terão impacto direto no caixa do grupo americano, sendo, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.
Outros US$ 1,6 bilhão decorrem de impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Segundo a Ford, cerca de US$ 2,5 bilhões entram no balanço de 2020 e US$ 1,6 bilhão nas demonstrações financeiras de 2021.
Trabalhadores foram surpreendidos com decisão da montadora
Pegos de surpresa, os sindicatos que representam os metalúrgicos das fábricas de Camaçari e Taubaté convocaram assembleias em frente aos portões das duas unidades. Em Taubaté, a manifestação foi chamada para a tarde desta segunda, enquanto na fábrica baiana deve ocorrer na terça de manhã.
O presidente do sindicato dos metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim, diz que o anúncio aos trabalhadores foi feito às 14 horas, via videoconferência, pelo presidente da Ford na América do Sul.
"Fomos pegos de surpresa. Fomos chamados às 14 horas e anunciaram o fechamento", diz Bonfim, que tem uma reunião com a direção da montadora marcada para segunda-feira, quando as partes começarão a discutir as indenizações trabalhistas.
Pandemia impactou produção
A pandemia impactou a produção do setor, que foi paralisada por um período. A produção de autoveículos no país em 2020 foi de 2.014.055 unidades, o que representa uma queda de 31,6% na comparação com 2019 (2.944.988). Trata-se do pior resultado desde 2003, de acordo com a Anfavea, associação que representa o setor.
No caso da Ford, em 2020 foram vendidos 119.454 automóveis, segundo dados da Anfavea, o que representa uma queda de 39,2% em relação a 2019. No ano passado, o presidente da Ford América do Sul, Lyle Watters, havia afirmado que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) precisava ajudar a indústria.
A decisão de fechar as linhas de manufaturas brasileiras segue uma reestruturação dos negócios na América do Sul. A montadora diz que seguirá importando no Brasil utilitários esportivos, picapes, como a Ranger, e veículos comerciais de fábricas da Argentina, Uruguai e outras origens, mantendo "assistência total" ao consumidor brasileiro com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia.
Informou ainda que planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados.
Ford já havia fechado planta em 2019
Em outubro de 2019, após 52 anos, a Ford já havia encerrado a produção de veículos na fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista. Na época, a empresa alegou que a razão para o fechamento é a busca por um negócio mais rentável na região.
O fim da fábrica indica o encerramento definitivo da Ford com a operação de caminhões na América do Sul. Eles eram os últimos modelos a saírem da linha de montagem no ABC. O Fiesta, único carro de passeio que era feito no local, já havia tido a produção desativada em junho.
Até o início daquele ano, a fábrica empregava 2.350 funcionários. Segundo a empresa, apenas os da área administrativa serão mantidos, o correspondente a cerca de mil pessoas.
No ano passado, a montadora havia assinado um memorando de intenções para a venda da fábrica de São Bernardo do Campo com a Construtora São José, especializada em empreendimentos imobiliários logísticos e comerciais de alto padrão. O valor não foi revelado pela montadora, mas o prefeito da cidade, Orlando Morando, afirmou que o valor do negócio era de R$ 550 milhões e que a construtora ofereceria parte da área para uma montadora e parte para uma empresa de logística.
Ford não foi a única
A Ford não foi a única montadora a encerrar operações no Brasil. Em dezembro passado, a Mercedes-Benz anunciou o fim da produção de carros em Iracemápolis (SP). No comunicado, a montadora afirma que a decisão leva em conta a crise econômica no Brasil provocada pela pandemia da Covid-19. A empresa diz que busca alternativas para os 370 colaboradores da unidade, entre eles o Programa de Demissão Voluntária e outras possibilidades.
A montadora manteve, no entanto, as fábricas em São Bernardo do Campo (SP), com caminhões e chassis de ônibus, e Juiz de Fora (MG), com cabinas de caminhões.
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