Na última quarta-feira (1.º), a Bloomberg noticiou, citando fontes não identificadas, que a montadora Ford pretende vender suas operações em toda a América do Sul. A empresa negou a informação, mas repetiu que “um redesenho de nosso modelo de negócios é necessário para determinar onde devemos participar e como podemos vencer neste mercado”, já que os resultados vêm se mostrando consistentemente baixos.
Para o economista Raphael Galante, consultor na Oikonomia Consultoria Automotiva com 14 anos de experiência no setor automotivo, o cenário mais provável para a montadora na região está longe de ser a saída completa da marca do mercado.
Vale lembrar que, entre 2006 e 2014 (antes da crise brasileira), a América do Sul rendeu US$ 4,607 bilhões para a montadora, o que corresponde a 20% da lucratividade – mesmo representando apenas 8,3% dos carros vendidos. Só no Brasil, a Ford tem 4 fábricas: Camaçari, São Bernardo do Campo, Tatuí e Taubaté. A primeira e maior delas fabrica 912 veículos por dia, ou um a cada 80 segundos. Na região como um todo há 13,6 mil funcionários em 8 fábricas.
“O perrengue da Ford é a divisão de caminhões”, diz Galante. “Se o mercado de autos estava ruim [a partir de 2014, com o chamado caos automotivo], a parte de caminhões era um ‘buraco negro’ que sugava tudo de bom da operação”, analisa. “Se o mercado de autos foi terrível o de caminhões foi uma ‘carnificina’”, complementa.
Qual é a solução?
Neste cenário, a resolução, ou “redesenho”, como disse a própria empresa, pode estar em apenas uma categoria: os caminhões.
Fontes com conhecimento interno do mercado já especularam que a neerlandesa DAF poderia adquirir a divisão de caminhões da Ford. Agora, fala-se em uma parceria entre a montadora alemã e a Volkswagen apenas para este mercado – considerado um “peso morto”. Sem extinguir a Ford Caminhões ou fechar fábricas, esse negócio abriria espaço para a companhia viabilizar uma restruturação anunciada para os próximos 5 anos, com custo de US$ 11 bilhões. Esse plano inclui investimentos mundiais, como carros elétricos e autônomos.
Vale lembrar que, no Brasil, a Volks é dona da Scania e da MAN, além da Volks Caminhões: 40% do mercado na categoria. Com a fatia de mercado que já possui, se realmente adquirir a Ford Caminhões, a companhia ganha uma escala altamente significativa, passando a deter aproximadamente 52% do mercado.
“A marca [Ford] não vai sair do mercado”, garante Raphael. “Ela pode querer se livrar do segmento de caminhões, o que eu acredito muito. Mas a melhor saída para ela é a aliança com a Volks, até que no futuro ela ache algum comprador para esse segmento ou que o mercado de pesados vire a chave”, pondera.
Posicionamento da Ford
Procurada pela reportagem da Gazeta do Povo, a assessoria da Ford do Brasil enviou o seguinte posicionamento, à respeito de sua possível saída da América do Sul:
“A referida matéria [da Bloomberg] é incorreta. A Ford não está considerando uma saída da América do Sul. Conforme já dito pela Companhia, os resultados financeiros na América do Sul estão abaixo do desempenho esperado e um redesenho de nosso modelo de negócios é necessário para determinar onde devemos participar e como podemos vencer neste mercado.”
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