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A banda Bad Religion é um dos grandes nomes da cena punk rock mundial | Divulgação/Seven Shows
A banda Bad Religion é um dos grandes nomes da cena punk rock mundial| Foto: Divulgação/Seven Shows

Rosário, Argentina – Cerca de 120 mil toneladas de grãos são processadas diariamente nas esmagadoras da cidade argentina de Rosário, situada 300 quilômetros a noroeste da capital Buenos Aires. Seu complexo portuário, às margens do Rio Paraná, se estende por 97 quilômetros e responde por 50% das exportações de soja do país e quase 80% do milho enviado ao exterior. Outra grande parte dos grãos que passam pelo complexo tem origem no Paraguai e no Brasil – em especial depois que o Porto de Paranaguá restringiu o acesso da soja transgênica (leia abaixo).

Os números deixam claro como a cidade soube aproveitar a localização estratégica para se tornar o epicentro do mais importante complexo agroindustrial da América Latina. Além disso, os dados justificam por que Foz do Iguaçu busca na cidade não apenas um parceiro comercial para o Oeste do Paraná mas, principalmente, um modelo de desenvolvimento econômico.

"Rosário soube se interligar com todo continente, se voltar para o rio e aproveitar uma localização estratégica como a nossa", diz o consultor Rodrigo Felismino, em relação à cidade paranaense. "Ela também entendeu que ser uma rota de passagem não era vantagem e desenvolveu uma estrutura para dar vantagem qualitativa e quantitativa aos produtos." Seu parque industrial abriga as maiores fábricas do mundo na produção de oleaginosas e recebeu, nos últimos 10 anos, investimentos de cerca de US$ 2 bilhões.

Essa experiência motivou a Associação Comercial de Foz do Iguaçu (Acifi) a incluir Rosário no seu programa de missões empresariais. Sob a coordenação de Felismino, um grupo de cerca de 30 empresários brasileiros e paraguaios visitou a região entre os dias 29 e 31 de março.

"Foz do Iguaçu passa por um momento de transformação econômica, em busca da auto-suficiência", diz o presidente da Acifi, Wanderlei Bertolucci Teixeira, chefe da missão. No centro desta busca está justamente o aproveitamento do Rio Paraná como canal de escoamento das exportações e importações brasileiras. "Fomos à Rosário buscando experiência e uma nova alternativa de parceria comercial. Porque se ficarmos parados, a sua força vai se tornar uma concorrência, uma ameaça."

A associação vê na exploração da chamada Hidrovia do Mercosul – formada pelas hidrovias Tietê-Paraná e Paraná-Prata –, e na criação de um completo intermodal em Foz do Iguaçu um caminho para o fortalecimento econômico da cidade. A região seria um ponto de partida para o Pacífico, passando pelas vias fluviais argentinas e pelo Chile – destino da próxima missão da Acifi.

"Estabelecidas as questões legais e ambientais, não tenho dúvida de que há interesse privado em investir nos portos fluviais", diz. "O Paraguai já tem uma legislação diferenciada neste sentido e uma interação maior com a Argentina. Nós, ao contrário, não temos nenhuma conexão com eles."

Do outro lado da fronteira, os argentinos vêem no potencial fluvial brasileiro uma alavanca também para os seus negócios. "O Brasil tem potencial para ser a locomotiva da economia da América Latina. Para integrar os países, é preciso integrar as economias, como fez a Europa", diz o presidente da Associação Comercial de Rosário, Elias Soso.

O diretor de estudos econômicos da Bolsa de Comércio de Rosário, Rogelio Pontón, diz que é "lamentável" não usarmos as hidrovias para unir duas regiões industriais tão importantes (Oeste do Paraná e litoral Argentino). "É fundamental que Brasil, Paraguai e Argentina tenham esforços comuns para incrementar o uso das hidrovias e transportar de forma mais barata."

Custo

Segundo estudo da Bolsa, o custo do transporte de uma tonelada de grãos por caminhão é de 6 centavos de dólar por quilômetro. A mesma quantidade é transportada de trem por 2 centavos de dólares e em barcaças por 1 centavo de dólar. Ainda não há um estudo, no entanto, mostrando se a diferença de preço compensa percorrer uma distância maior rumo ao Pacífico.

Para os empresários que participaram da missão, é justamente o preço que vai motivar o uso das hidrovias. "Caso Foz tenha infra-estrutura de terminais para colocar as barcaças, provavelmente o transporte fluvial vai ser viável a um custo menor", diz o diretor presidente da Cooperativa Lar, Irineo da Costa Rodrigues. Com sede em Medianeira, a Lar produz 450 mil toneladas de soja por ano e 500 mil toneladas de milho/ano, além de frango, leite e suínos. Hoje, as exportações da cooperativa seguem por Paranaguá e pelo porto de São Francisco do Sul (Santa Catarina). "Está se abrindo um outro caminho, uma alternativa importante."

O diretor presidente da C. Vale, Alfredo Lang, diz que a cooperativa, de Palotina, está buscando alternativas ao Porto de Paranaguá – hoje principal canal de exportação para Japão, Inglaterra, Europa e China. "Buscamos outras opções por questões de custo e por dificuldades para movimentação de transgênicos. Mas precisamos fazer um estudo de custo e uma comparação entre os percursos." Metade das 800 mil toneladas de soja produzidas pela C. Vale são a partir de sementes geneticamente modificada. A cooperativa produz 1,2 milhão de toneladas de grãos por ano, entre soja, milho e trigo, além de leite, suínos e frango.

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