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Roberto Azevedo, diretor da OMC, fez um apelo aos governos mundiais para que reflitam sobre o futuro da entidade | Valentin Flauraud / Reuters
Roberto Azevedo, diretor da OMC, fez um apelo aos governos mundiais para que reflitam sobre o futuro da entidade| Foto: Valentin Flauraud / Reuters

Estratégia errada

Brasil perde mercado ao resistir a acordos comerciais multilaterais

Se a crise atual foi declarada agora, a realidade é que o prédio da OMC é testemunha de uma entidade marginalizada. Lentamente, os princípios da Rodada Doha, lançada em 2001, foram enterrados, enquanto governos de todo o mundo passaram a buscar novas alternativas.

Sem resultados, diplomacias como a dos EUA e Europa passaram a driblar a entidade e abriram rotas alternativas. Um acordo envolvendo apenas alguns países começou a avançar para o comércio de bens eletrônicos. O mesmo ocorreu com o setor de compras governamentais e de serviços. Mais recentemente, americanos e europeus propuseram um entendimento para liberalização do comércio em bens ambientais.

Em todos eles, o princípio é o mesmo: participa quem quer. O Brasil não quis e insistia que a proliferação desses entendimento minaria o sistema multilateral. Outro caminho foi o dos acordos bilaterais e regionais. O número de iniciativas explodiu. Mas, novamente, o Brasil não fez parte de nenhum acordo.

Agora, com a OMC no limbo, o governo brasileiro terá de avaliar novas estratégias.

A Organização Mundial do Comércio (OMC) fracassa em fechar um acordo comercial e, em 20 anos da entidade, governos agora se deparam com um debate inédito: o que fazer com uma organização que jamais cumpriu seu objetivo.

A crise força também o Brasil a repensar a política externa, já que a OMC era a grande aposta diplomática do governo. Outros países, enquanto a entidade perdia relevância, aceleraram acordos alternativos, o que não foi feito pelo Itamaraty.

Ontem, em Genebra, o brasileiro Roberto Azevedo, diretor da OMC, foi quem abriu a nova fase na organização, reconhecendo que o impasse não conseguiu ser superado entre os governos e apelando aos países para que, a partir de agora, pensem o que fazer com a entidade, paralisada, sem rumo e marginalizada. "Vai ser uma conversa muito importante", declarou ele, eleito para dirigir a entidade em 2013 e cuja missão era justamente a de restabelecer a credibilidade do organismo. "Isso vai significar encarar sérios problemas e responder a perguntas difíceis", alertou.

Dilema

Na prática, a pergunta é bastante clara para as delegações: vale a pena ainda apostar num acordo internacional de comércio? Nos corredores da entidade, ninguém se atreve a falar abertamente no fim da Rodada Doha. Mas basta desligar o gravador para escutar comentários que vão todos na mesma direção: "o processo morreu" e "ninguém sabe o que fazer".

Keith Rockwell, porta-voz da entidade, deixou claro que "nunca" viveu situação parecida na história da OMC. "Essa é a situação mais complexa e mais incerta que já tivemos." Oficialmente, o impasse foi gerado por uma disputa entre Índia e EUA no mercado agrícola. Mas a realidade é que uma pilha de assuntos estão parados, sem solução.

Azevedo, que ainda tem três anos de mandato, deixou claro que não está jogando a toalha. Mas alertou que uma solução não cabe a ele, e sim aos governos. "Vamos continuar a trabalhar para solucionar o atual impasse. Mas precisamos estabelecer como vamos adiante", alertou. "Eu vou convocar reuniões. Mas a substância é com vocês", cobrou dos governos.

Desânimo

A reunião de ontem da OMC era o retrato da crise. O conselho geral da entidade, que normalmente poderia durar dois dias, se resumiu a uma hora de encontro. Azevedo foi o único a falar e nenhum governo tomou a palavra. Fora, nenhum jornalista aguardava uma decisão. ONGs e setor privado há anos já não frequentam o local.

O brasileiro indicou que, a partir de hoje, vai iniciar consultas sobre o que fazer. No fim de outubro, outro encontro está sendo organizado. Mas ninguém esconde que a instituição está paralisada.

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