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O secretário de Relações Econômicas Internacionais da Argentina, Alfredo Chiaradía, considerou que para o Mercosul, o fracasso das negociações comerciais realizadas em Genebra para impulsionar a Rodada Doha foi positivo. "Creio que foi bom porque depois que um carro te atropela, cada vez que você vai atravessar a rua prestará mais atenção ao fazê-lo", afirmou o principal negociador da Argentina em entrevista coletiva aos correspondentes brasileiros na Argentina e agências de notícias locais. A metáfora foi complementada com a afirmação de que "a lição servirá para, no futuro, fazer as coisas de maneira que contribua para que haja harmonia (nas negociações)".

A crítica teve um destinatário específico: o Brasil, principal sócio da Argentina no Mercosul, que negociou na Organização Mundial do Comércio (OMC) sem seu aval. "Não estou seguro de dizer que Estados Unidos, Índia ou Brasil, nesse contexto, podem ser chamados de líderes ou representantes. Ou é representante de um grupo ou atua sozinho. Se é representante, tem que consultar. Se a consulta não é feita, não há possibilidade de ser representante. Brasil atuou sozinho", disparou o secretário em relação à postura brasileira na mesa de apenas oito países, que negociou o frustrado pacote de liberalização do comércio mundial.

Apesar da crítica, Chiaradía suavizou suas palavras: "todo o tempo aprendemos e queremos trabalhar com os nossos sócios; na próxima, poderemos, talvez, negociar com uma só voz". O embaixador também mostrou-se otimista na superação das divergências evidenciadas entre os dois países em Genebra. "Efetivamente, qualquer diferença de visões que tivemos, é indubitável que podemos superar; entre sócios se superam todas as dificuldades ou se moderam as diferenças", opinou.

O diplomata tentou ocultar o desgosto de seu país com a atitude do Brasil, ao dizer que "não se pode dizer que a responsabilidade é de uma ou outra parte". Mas lembrou que a Argentina sempre esteve, ao longo do processo da negociação realizada nos últimos sete anos, "uma posição muito clara, transmitindo a necessidade de que se cumpra as regras pelas quais as negociações tinham que ter lugar". Ele detalhou que na OMC havia regras fundamentais que a Argentina não estava em condições de permitir que não fossem respeitadas com rigor.

A primeira delas, segundo ele, é o de que os países ricos têm que fazer redução maior que os países em desenvolvimento; a segunda regra foi estabelecida na declaração ministerial de Hong Kong, que não se pode pretender ser mais ambicioso em Agricultura que em Nama (bens industriais) e vice-versa. "Uma vez mais, os países que sempre foram poderosos, foram agressivos em abertura de mercado de agricultura e defensivo em industriais, e essa ronda foi feita para eliminar essa distorção", acusou.

Em Nama, continuou, o corte que surgiria do acordo em discussão implicava para países como Argentina e Brasil, por exemplo, um corte de 54% em bens industriais, enquanto que para os países desenvolvidos era de 40%. "Os países desenvolvidos têm que cortar suas alíquotas pelo menos de 54% e os em desenvolvimento tem um teto 36%. De acordo com os números da negociação não se cumpre a reciprocidade menos que plena em Nama, mas se cumpre em agricultura. Como agricultura é o que marca a rodada, esse 54% e 36% teria que ser replicado em bens industriais", explicou.

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