O aumento dos preços das commodities pode comprometer uma recuperação econômica ainda frágil, pressionando a inflação nos países desenvolvidos e provocando tensão social nos países em desenvolvimento. Mas será que a recente escalada nas cotações de produtos energéticos e alimentícios não viria, na verdade, como uma bênção para a economia mundial, levando a uma maior garantia de abastecimento, melhor regulamentação e preços mais transparentes? A França certamente espera que sim. Como atualmente preside o G-20, o país está usando sua posição para colocar algumas dessas ideias em discussão entre os líderes mundiais.
"Queremos melhorar o diálogo em todos os mercados de commodities", disse Christine Lagarde, ministra das Finanças francesa, em entrevista recente. "A boa compreensão e a utilização adequada dos estoques são questões cada vez mais importantes", acrescentou. Os preços do gás natural podem ser alvo de revisão, por se tratar de mercadoria vital para a União Europeia, cujo abastecimento depende da Rússia em cerca de um terço. Em janeiro de 2009, Moscou suspendeu as exportações de gás natural à Ucrânia via Europa, e um conflito semelhante, em 2006, interrompeu o suprimento para o continente.
A França espera convencer seus parceiros do G-20 a melhorar o fluxo de dados e informações de mercado, aperfeiçoando o sistema de gerenciamento das reservas de gás natural. Especificamente, pretende reforçar uma iniciativa internacional na área de petróleo, conhecida como Joint Oil Data Initiative, e replicá-la para o setor de gás. A iniciativa começou em 2001, depois que os países consumidores de petróleo pressionaram os países produtores a suprir a falta de dados disponíveis, o que era visto como um fator de agravamento das flutuações de preços. O sistema fornece um banco de dados aberto, com estatísticas sobre produção de petróleo, refino, comércio, demanda e estoques do produto. É gerido pelo secretariado do Fórum Internacional de Energia, um ministério com alcance mundial sediado em Riad, na Arábia Saudita.
Fatih Birol, economista-chefe da Agência Internacional de Energia, com sede em Paris, acha bem-vindo o novo foco do G-20 na questão energética, e afirma que isso levará consumidores importantes, como China e Índia, e fornecedores como Rússia e Arábia Saudita à mesa de negociações. Mas alerta que replicar a idéia do banco de dados do petróleo para o gás natural seria difícil, porque os mercados de gás evoluíram rapidamente, com novos atores e outros produtos, como o gás de xisto, entrando em cena. "A segurança do abastecimento ainda é um problema, mas, comparado a alguns anos atrás, as coisas mudaram", diz Birol.
Tradicionais exportadores de gás, como a Rússia e os países do Oriente Médio, também podem achar que os benefícios de uma nova organização multilateral seriam limitados. Esses países vêm se organizando através do Fórum dos Países Exportadores de Gás, por vezes chamado de "Opep do gás", em referência à Organização dos Países Exportadores de Petróleo. O grupo vem se reunindo informalmente desde 2001 e aprovou um estatuto formal em Moscou, em 2008. Com 11 membros e três observadores, teve um russo eleito como seu primeiro secretário-geral.
De acordo com autoridades francesas, um grupo de trabalho do G-20 avaliará o papel de dois difusores de informações sobre energia e commodities, Platts e Argus Media, na divulgação de dados e preços dos mercados energéticos. As duas empresas oferecem cotações nas áreas de petróleo, gás natural, eletricidade, energia nuclear, carvão, emissões, petroquímica e metais.