A Volkswagen disse nesta terça-feira (22) que o escândalo sobre fraudes nos testes de emissões de poluentes de veículos da marca nos Estados Unidos pode ter afetado 11 milhões de carros no mundo todo. Enquanto isso, as investigações sobre seus modelos a diesel se multiplicam, pressionando ainda mais o presidente-executivo Martin Winterkorn.
A companhia afirmou que provisionará 6,5 bilhões de euros de seu resultado do terceiro trimestre para ajudar a cobrir os custos do maior escândalo em seus 78 anos de história, abrindo um buraco nas estimativas de lucros dos analistas. A empresa também alertou que o montante pode crescer, dizendo que os carros a diesel com os motores Type EA 189 colocados em cerca de 11 milhões de modelos da Volkswagen ao redor do mundo mostraram um “desvio notável” nos níveis de emissões de poluentes entre os testes e o uso nas ruas – resultado de um software usado para mascarar os níveis de gases.
A crise gerou polêmica na Alemanha, com a chanceler Angela Merkel pedindo “transparência completa” da companhia, vista por muito tempo como um símbolo da excelência em engenharia do país. A previsão era que Winterkorn tivesse seu contrato prorrogado em uma reunião do Conselho da empresa na sexta-feira (25), mas agora há dúvidas sobre se ele sabia que a empresa fazia uso do software que enganava os reguladores norte-americanos na medição de emissões de poluentes de alguns de seus carros a diesel.
Volkswagen reserva US$ 7,3 bilhões por escândalo de emissões
França pede investigação na UE, mas Comissão Europeia diz que ainda é ‘prematuro’
Leia a matéria completaWinterkorn não fala sobre seu futuro em uma mensagem de vídeo publicada no site da empresa, na qual ele repetiu suas desculpas pelo escândalo, que envolve um quinto dos veículos leves produzidos pela Volkswagen no mundo todo desde 2009, de acordo com a consultoria da indústria automotiva LMC Automotive.
Multas
A Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA, na sigla em inglês) disse que a Volkswagen pode enfrentar multas de mais de US$ 18 bilhões por trapacear nos testes de emissões. A montadora também enfrenta ações judiciais e danos à sua reputação que podem atingir as vendas. Segundo reportagens divulgadas na imprensa, o Departamento de Justiça dos EUA abriu um inquérito criminal sobre o assunto.
Além disso, procuradores gerais de Nova York e de outros estados estão formando um grupo para investigar o escândalo, disse o procurador-geral de Nova York, Eric Schneiderman. “Nenhuma empresa deveria poder descumprir nossas leis ambientais”, afirmou o procurador.
Nesta terça, as ações da Volkswagen despencaram mais de 20%, para uma mínima de quatro anos. As quedas das ações preferenciais e ordinárias varreram mais de US$ 30 bilhões do valor de mercado da companhia.
O professor e a ONG na origem do escândalo da Volkswagen
Testes foram feitos entre 2013 e 2014 em três carros a diesel, dois da Volks e um da BMW
Um dos maiores escândalos recentes no setor automobilístico foi descoberto em laboratórios universitários de Morgantown, uma cidade de apenas 30 mil habitantes de West Virginia.
Ainda era 2013, quando testes feitos em estradas da Europa com veículos Volkswagen mostravam que os carros lançavam uma enorme quantidade de gases poluentes. Mas, quando os mesmos carros eram submetidos a experiências no laboratório, eles iam muito bem. A discrepância deu a Peter Mock, representante europeu de uma pequena ONG a favor do transporte limpo, uma ideia: os testes seriam replicados nos Estados Unidos, onde as normas de emissão de gases são mais elevadas.
Sem instalações para realizar a investigação por conta própria, a ONG — com atuação em Estados Unidos, Europa, China, Índia e América Latina — encomendou a um grupo de especialistas uma série de testes em três veículos a diesel, incluindo dois modelos da fabricante alemã, o Jetta e o Passat, e um da BMW, o X5. O Centro de Combustíveis Alternativos, Motores e Emissões da Universidade de Virginia, encabeçado pelo professor Gregory Thompson, tinha exatamente o que era preciso: um sistema portátil de medição de emissões acoplado ao porta-malas do carro e ligado a uma sonda no tubo de escape.
Os resultados publicados num relatório em maio do ano passado foram alarmantes: em condições reais, as emissões de óxido de nitrogênio (NOx) pelo Jetta eram de 15 a 35 vezes maiores do que o padrões americanos, e de 5 a 20 vezes mais elevados para o Passat. Somente o X5, da BMW, estava abaixo dos limites regulatórios. Enquanto isso, testes conduzidos simultaneamente no laboratório da Agência de Proteção do Ar Californiano (Carb, na sigla em inglês) não apontaram qualquer falha.
Os responsáveis pediram, então, explicações às autoridades americanas sobre a disparidade entre os dados da pesquisa e os resultados publicados pela Volks. Foi assim que, naquele mesmo ano, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA e o Carb decidiram iniciar sua própria investigação, descobrindo o software capaz de limitar a emissão dos gases durante testes.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast