Economistas ainda estão divididos sobre quanto tempo vai durar a desaceleração do crescimento chinês. Mas se o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos) da China, que crescia a um ritmo de 10% ao ano em meados do ano passado, perder o fôlego a ponto de avançar apenas 7,7% este ano, como estimam os mais pessimistas, só isso vai reduzir em 10% o potencial de crescimento do Brasil, segundo cálculos do economista Alessandro Rebucci, pesquisador do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
As contas de Rebucci consideram que o Brasil tem um PIB potencial - ou seja, um potencial de crescimento da economia, em um cenário sem crise, que não pressione a inflação - de 3,5% ao ano. Um freio na economia chinesa de 10% para 7,7% ao ano reduziria o PIB potencial do Brasil para 3,2%, estima Rebucci.
Isso significa que, diante da perspectiva de que a China vá crescer menos daqui por diante, o espaço para a economia brasileira avançar também será menor. "É um impacto relevante de quase 10% no crescimento potencial (do Brasil)", diz.
A China é o maior importador de produtos brasileiros. Em julho, os embarques do Brasil para o mercado chinês tiveram queda de 10% em valor, para US$ 3,95 bilhões. Depois de ter crescido 8,1% entre janeiro e março deste ano (frente ao mesmo período de 2011), a China pisou no freio e cresceu só 7,6% no segundo trimestre. Analistas temem que o país tenha agora uma recuperação mais lenta. Além do impacto direto sobre as exportações brasileiras, uma demora na retomada da China, segunda maior economia do planeta, teria efeitos em todo o mundo, contribuindo para agravar o cenário global de incertezas.
"É nossa imagem invertida"
A crise externa foi um dos motivos para o PIB brasileiro ter crescido apenas 0,4% no segundo trimestre, frente aos três primeiros meses do ano, conforme informou o IBGE na sexta-feira. O fraco resultado do PIB brasileiro foi influenciado por uma queda de 0,7% nos investimentos. "Se a China espirra, o Brasil tem que ficar um pouco alerta. A China é nossa imagem invertida. Precisamos investir mais e eles menos. Não é para ficar assustado, porque não estamos esperando uma queda abrupta e catastrófica da China. Falamos em um pouso suave, que talvez neste terceiro trimestre extrapole o que as pessoas imaginavam", diz Claudio Frischtak, sócio da consultoria Inter.B e ex-economista do Banco Mundial.
O economista Celso Toledo, diretor de macroeconomia da LCA consultores, estima que o impacto no PIB brasileiro de um freio na China pode ser ainda maior que o estimado pelo BID, mas avalia que o pior momento já passou. "O jogo daqui para frente é a velocidade da retomada. Mas é nítido que a preocupação com a China vai muito além do impacto direto nas vendas (brasileiras). O empresário se retrai na hora de investir por conta do que vai ser a China daqui para frente", diz.