Rubem Hoher, diretor financeiro da Impress: empresa vai aumentar quadro de funcionários em 15% neste ano| Foto: Antonio More/ Gazeta do Povo

Confiança

As últimas sondagens demonstram em números o receio do empresariado em relação à economia.

Os setores mais pessimistas

ServiçosO Índice de Confiança de Serviços caiu 5,9% em maio, marcando o pior resultado desde agosto de 2009 (-13,8%). Em abril, a mesma comparação tinha registrado queda também, de 4,8%. O indicador que mede as expectativas do empresariado quanto à tendência dos negócios nos próximos seis meses teve recuo de 4,6% em maio.

IndústriaA Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação de maio mostrou que os estoques em alta voltaram a preocupar o setor, que prevê uma redução no ritmo de produção para compensar a situação. O Índice de Confiança da Indústria cresceu apenas 0,4% nos últimos três meses.

ConstruçãoO Índice de Confiança da Construção teve queda de 7,8% na média do período de março a maio, a segunda variação negativa consecutiva. A desaceleração da economia vem influenciando as expectativas do setor. Das 731 empresas consultadas, 30,9% avaliaram a situação atual como boa na média do trimestre encerrado em maio, contra 42,4% no mesmo período de 2011, e 10,2% a consideram ruim, ante 6,5%.

O setor mais otimista

ComércioO Índice de Confiança do Comércio melhorou na passagem de abril para maio, mas ainda segue em patamar abaixo do verificado no mesmo período em 2011: recuou 2,4% no trimestre terminado em maio ante o mesmo período do ano passado. Em abril, a queda havia sido maior (4,4%). O resultado sinaliza que o nível de atividade do setor voltou a se aquecer moderadamente neste segundo trimestre e tem boas perpectivas para os próximos meses.

Fonte: Ibre/FGV

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Pressão que vem de fora

As importações de vestuário cresceram 51% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2011, o que pressiona ainda mais os fabricantes brasileiros das áreas têxtil e de vestuário, que no período reduziram o quadro de funcionários em 5,1% e 6,5%, respectivamente.

Altos executivos estão mais ansiosos

Uma pesquisa da Michael Page realizada no primeiro trimestre de 2012 com 2000 executivos em nível de média e alta gerência aponta que 73% dos profissionais pretendem mudar de emprego em 2012 no país. O índice representa um aumento de 12 pontos porcentuais em relação ao ano passado, quando o índice era de 61%. O fenômeno pode ter sido gerado, segundo a consultoria, pela falta de perspectiva de crescimento dentro das companhias.

Segundo o estudo, os executivos estão mais agressivos e a tendência é de permanecerem cada vez menos tempo em uma mesma companhia. A pesquisa revela que, em relação a 2011, o porcentual de executivos com menos de um ano de empresa que pretendem deixar a companhia passou de 38% para 56%, o mesmo aconteceu para os que estão na companhia entre 1 e 2 anos, com 20% de aumento neste quesito.

"Isso pode ser reflexo da conjuntura econômica incerta e demonstra também uma função importante do profissional de RH de incutir mais cautela nas perspectivas do seu cliente e mostrar a realidade das oportunidades no mercado. Talvez o momento seja o de se consolidar melhor em uma organização e não de arriscar um desafio", observa o headhunter da Michael Page, Luis Felipe Granato.

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O empresário Paulo Lago, sobre sua atual estratégia de investimentos:

Nas últimas semanas, a presidente Dilma Rousseff tem usado palavras como "arsenal" para se referir às medidas de proteção da economia brasileira e de incentivo à produtividade e ao consumo. O mesmo comportamento está sendo notado por quem lida diretamente com a ação e reação de empresas e pessoas físicas. Segundo analistas de mercado e consultores, o receio da crise externa ainda não chegou aqui com força – apesar do fraco crescimento do PIB no primeiro trimestre – mas já é suficiente para deixar o país na defensiva.

Entre as famílias brasileiras, o sinal mais claro de defesa é o não consumo. Embora nenhuma ameaça concreta ronde o mercado de trabalho – maior preocupação do brasileiro depois da casa própria –, o endividamento está no limite e exige mais cautela dessas famílias. "Também notamos um ímpeto maior de poupar do que em períodos anteriores", observa o coordenador das Sondagens de Confiança do Ibre/FGV, Aloisio Campelo.

O mesmo cuidado está sendo tomado pelos pequenos investidores. Há sete anos no mercado financeiro, Paulo Lago, diretor de uma editora, diz ter tomado uma posição mais defensiva, dividindo seus ovos em mais cestas: "Essa não é nenhuma estratégia inédita, mas é sempre útil, ainda mais para quem tem um perfil mais preservacionista, como eu". As apostas de Lago têm sido os títulos de renda fixa, do Tesouro e também as ações de empresas concessionárias de serviços públicos, que têm demanda garantida e ajuste de preços comandado pela inflação.

Quem vai mal

No setor produtivo, comércio e serviços tiveram pequenos tropeços no início de 2012, mas já sinalizaram alguma reação em abril e têm boas perspectivas de crescimento a partir do segundo semestre, como resultado das medidas de estímulo ao crédito e consumo. O caso mais sério é o da indústria.

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Ainda assim é preciso separar os setores mais afetados dos menos afetados. Alimentos e bebidas, dentro da chamada indústria de bens não duráveis, por exemplo, continuam sendo responsáveis por uma fatia importante da criação de empregos, inclusive no Paraná – onde o quadro de pessoal desse ramo cresceu 8,8% em relação ao primeiro trimestre de 2011. "Nossa recomendação tem sido por evitar ações de empresas de bens duráveis, mais ligadas ao lado desacelerado da economia, e de apostar em papéis relacionadas a produtos de consumo básico, como alimentos e medicamentos", diz o analista Felipe Rocha, da corretara Omar Camargo.

Entre os "patinhos feios" da indústria em termos de geração de emprego no primeiro trimestre de 2012 estão os setores têxtil e de vestuário – com quedas de 5,1% e 6,5% no nível de ocupação –, calçados e couro (-7%), fumo (-5,7%), produtos de metal (-5,5%), borracha e plástico (- 4,2%) e metalurgia básica (-2,9%).

Receita errada

Fazendo malabarismos com taxas de juros, crédito e desonerações, o governo federal parece não ter acertado nem nos ingredientes (investimento público e reforma tributária), nem no "ponto certo" da receita (longo prazo) para incutir confiança novamente no empresariado. Para os analistas, em um momento de receio do setor privado, é o poder público quem tem de dar o primeiro passo para investir.

"As medidas tomadas em apoio à indústria até agora são de um a dois anos e não servem de respaldo para investimentos de dez ou 20 anos, que é o caso da maioria das apostas das empresas quando elas pensam em se instalar e crescer", pontua Rogério Garrido, da Grow Investimentos. Segundo ele, o anúncio de novas medidas praticamente toda semana também não passa o recado certo. "Os empresários tendem a se segurar, até pela espera de melhores condições que possam vir."

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Pessimismo não reina absoluto

Apesar do ar pessimista que ronda os últimos resultados da indústria, os setores do comércio e de serviços têm perspectivas melhores. Apoiados nas medidas de estímulo ao crédito e ao consumo, têm boa chance de reverter, no segundo semestre, os resultados mais fracos dos primeiros meses do ano. Os últimos resultados do comércio varejista brasileiro, de abril, mostraram um crescimento de 0,85% em relação a março e de 6% sobre abril de 2011, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Entre os estados, o Paraná atingiu um incremento de 8,8% frente a abril de 2011 e de 14,6% no acumulado dos quatro primeiros meses do ano.

Atividades que têm uma demanda natural e crescente, então, se sustentam muito bem e continuam sendo atrativas até para empresas de fora, que veem no mercado interno brasileiro uma chance de crescer apesar da crise europeia e da estagnação da economia norte-americana.

Esse é o caso, por exemplo, da Impress - The Decor Company, indústria de revestimento melanímico de capital austríaco instalada há dez anos no Brasil – mais precisamente em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba – e que tem ótimas expectativas em relação a este e aos próximos anos. Com alto nível de automação, a empresa tem poucos funcionários – cerca de 150 – e prevê um crescimento de 15% na quantidade de empregados ainda neste ano.

"Isso é suficiente para aumentar nossa capacidade produtiva em 20% a 25%, e a nossa receita em até 20%", diz o diretor financeiro da empresa, Rubem Hoher. Ele explica que o negócio está dentro da cadeia de painéis, móveis e pisos laminados, fornecendo o revestimento desses materiais às indústrias e aos marceneiros.

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"Nosso negócio é suportado pela classe média do país, que constrói e reforma, e que tem muito a crescer ainda. Além disso, temos uma atividade bastante restrita; apenas mais duas empresas fazem o que nós fazemos no Brasil. Isso nos dá bastante segurança e tranquilidade para continuar investindo, aumentando o nosso portfólio."