A missão brasileira encarregada de reabrir um dos mais importantes destinos da carne brasileira a Rússia assumiu que 97 frigoríficos não atendem às exigências sanitárias impostas pelo país europeu. A informação foi confirmada ontem pelo próprio ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Wagner Rossi. Mas a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo) nega problemas sanitários que justifiquem a interrupção das exportações.
Apesar de ter endossado a lista russa, o governo brasileiro ainda não especificou as supostas irregularidades. A Gazeta do Povo entrou em contato com o Mapa, mas teve acesso negado à lista dos frigoríficos embargados entregue à autoridade russa. Por meio de sua assessoria de imprensa, o órgão informou ontem que o documento estava em posse da Associação Brasileira da Indústria Exportadora de Carne Suína (Abipecs), que, por sua vez, também disse não ter o documento. O governo não explicou qual foi sua estratégia ao admitir que as empresas do Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, que exportavam para a Rússia, não estão mais em condições de fazê-lo.
O presidente executivo da Abrafrigo, Péricles Salazar, disse que em breve o setor se reunirá em Brasília para saber do ministro todos os detalhes da reunião entre a comissão brasileira e representantes russos. De acordo com o executivo, os critérios russos para compra de carnes sempre foram indefinidos e "todo mundo sabe disso". Salazar considera que o Brasil não tem problemas sanitários graves que justifiquem a proibição das exportações e que ninguém sabe exatamente o que está sendo questionado.
Ao se encontrar com o governo russo, a missão técnica do Brasil apresentou uma nova lista com 125 empresas que estariam dispostas a vender carne aos russos. Antes de seguir para Moscou, porém, o cadastro do governo contava com 222 unidades. "Havia frigoríficos que não vendiam nada para a Rússia há mais de 18 meses e que prejudicaram o bom produtor. Eu disse a eles que, em primeiro lugar, fizessem a lição de casa, e depois poderíamos discutir", justificou Rossi.
Fontes do setor disseram que um dos acordos firmados entre os dois países prevê substituição do embargo em vez de estados, a lista teria empresas específicas. O serviço veterinário da Rússia disse que 143 empresas do Brasil continuarão autorizadas a enviar carne, mas 93 unidades terão restrições temporárias. Principal alvo do embargo imposto desde o dia 15 do mês passado, o Paraná teve cerca de 40 frigoríficos impedidos de embarcar o produto para a Rússia.
Para produtor, Brasil falha em diplomacia
A falta de investimentos em defesa sanitária e de ações comerciais externas são alguns dos principais gargalos que impedem o Brasil de conquistar maior fatia do mercado internacional de carnes, diz o diretor executivo da Frimesa, de Medianeira (Oeste do Paraná), Elias José Zydek. Apesar de não exportar para a Rússia há mais de 20 anos, a Frimesa integrava a primeira lista de frigoríficos embargados no dia 15 de junho, mas foi descredenciada pelo Mapa antes de a missão brasileira partir para Moscou. "Não podemos vender para a Rússia desde 1985, quando houve o surto da febre aftosa no país. A partir disso, começamos a exportar para outros países e focar o mercado interno", conta Zydek.
Ele considera que é responsabilidade do governo garantir a sanidade da produção nacional através de inspeção e ter maior ação diplomática com os países consumidores. "Não existe um adido especializado em carnes nas embaixadas do Brasil nos principais clientes do produto. É preciso rever isso. O governo tem o papel de vacinar o rebanho, extinguir doenças como aftosa e salmonela e mostrar para o mundo que o nosso produto é de boa qualidade. Além disso, a fiscalização precisa ser mais contundente", analisa Zydek. Depois de se reunir com o serviço veterinário russo, a comissão brasileira que esteve no país se comprometeu em reorganizar a rede de laboratórios de controle de matérias-primas e produtos para atender às exigências internacionais.