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As perdas registradas no campo por causa da ocorrência de geadas desde a semana passada não demoram a chegar ao preço final cobrado do consumidor e devem alcançar as gôndolas, não apenas nas hortaliças e frutas, as culturas mais impactadas ao lado do café. O preço das carnes e do leite também deve ser pressionado por causa de danos ao pasto, aumento dos custos de produção e dos grãos, que servem de alimento nas granjas - aqui o destaque é para o milho safrinha, já impactado pela seca histórica.
Pressionada pela alta dos combustíveis e da energia elétrica, a inflação pode ultrapassar os 7% ao final de 2021, puxada agora pela alimentação em casa. A projeção revisada é da XP, que espera IPCA em 6,7% no ano. A previsão de patamares mais elevados se repete em outras instituições como o Santander, que já fala em 7,3% no IPCA.
O ponto-médio das projeções das instituições financeiras no relatório Focus, uma pesquisa feita semanalmente pelo BC, sinaliza para uma inflação de 6,56% neste ano. Há 16 semanas essa expectativa está em alta.
Segundo a economista Tatiana Nogueira, da XP, a diminuição de oferta dos produtos tende a elevar os preços, com repasse que costuma chegar rápido ao bolso do consumidor. "Apesar de já ter incorporado parcialmente esse impacto, a geada desta semana pode se traduzir em inflação ainda mais alta no curto prazo. Estimamos que isto pode significar alta de 0,1 ponto percentual na nossa projeção de inflação do ano, já em 6,7%", afirma, em relatório.
Nogueira avalia que o frio intenso deste mês agrava um cenário já desafiador para o agricultor em 2021. "A estiagem severa impactou fortemente os preços de grãos (como soja e milho), cana de açúcar, café e cítricos. Além disso, as proteínas animais também subiram. A carne bovina tem a alta sustentada pelas exportações brasileiras para China, o que provoca escassez de animais prontos para o abate. A falta de chuvas fez com que o confinamento do gado aumentasse, gerando mais custos aos produtores", ressalta. As pastagens queimadas e ressecadas pelas baixas temperaturas se somam a esse cenário.
Aposta frequente como substituto da carne bovina, o frango também subiu nos últimos meses - 7,6% desde março, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - e deve continuar a trajetória de alta no segundo semestre, de acordo com a especialista da XP. O motivo é a elevação nos custos de produção (em 52%) e a demanda, que segue alta.
Informações do Sistema Nacional de Meteorologia (SNM) indicam que a formação ampla de geadas alcançou as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, com registros nos três estados sulistas, em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul em decorrência da intensa onda de frio. Ainda há previsão de que o frio se repita nos próximos dias.
O ministério da Agricultura acompanha a situação para avaliar eventuais medidas de apoio aos agricultores. Segundo a pasta, equipes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estão em campo nos estados mais atingidos em busca de prováveis mudanças nas expectativas de produção de culturas como café, cana-de-açúcar e grãos, em especial milho e trigo. O monitoramento cobre também as perdas em hortaliças e frutas. Apesar disso o ministério afirma que não há risco de falta de produtos.
Segundo avaliação do Itaú BBA, culturas como o café ainda podem ter prejuízos futuros, com efeitos negativos do frio às plantações (esperados em próximas floradas e formação dos frutos). Trigo e milho devem registrar problemas mais significativos em pontos que foram atingidos nos quais os cultivos já alcançava o estágio de floração, em que ficam mais suscetíveis à geada.
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