O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que os países emergentes atravessam uma "minicrise" com o movimento de fluxo de capitais para os Estados Unidos. Declarou, contudo, que a economia brasileira continua sólida. "Temos mais reservas e menor dívida pública do que em 2008", afirmou o ministro.
Apesar da intervenção do Banco Central, que vendeu quase US$ 500 milhões no mercado futuro, a moeda norte-americana voltou a subir ontem, após dois dias de trégua. O dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 1,31%, para R$ 2,384. O dólar à vista, referência para o mercado financeiro, fechou em alta de 0,76%.
De acordo com Guilherme Prado, especialista em câmbio da Fitta, o plano do Banco Central de injetar até US$ 54,5 bilhões no mercado para conter a escalada da moeda americana não é tão eficiente porque ainda permanecem as incertezas sobre quando o Federal Reserve, banco central dos EUA, vai começar a cortar o estímulo econômico naquele país.
Segundo o ministro da Fazenda, embora o real esteja entre as moedas que mais se depreciaram recentemente, o Brasil "não perdeu nenhum tostão" das reservas internacionais. "Mas a desvalorização desta forma não é positiva para ninguém", admitiu Mantega.
De acordo com ele, dependendo da duração do movimento de alta do dólar, isso poderá trazer efeitos sobre os preços. Contudo, ponderou que o fenômeno de repasse do câmbio para a economia depende da realidade de cada país.
"A turbulência vai amainar e vamos chegar a um câmbio de equilíbrio, que eu não sei qual é. Não acredito que vamos ter permanente desvalorização de moedas de países emergentes, até porque não é interessante para economias avançadas."
A ideia, segundo afirmou Mantega ao comentar as intervenções do Banco Central, é apenas "atenuar a elevação do câmbio, que foi excessiva", dizendo que é necessário adaptar aos poucos os agentes econômicos à mudança desse preço relativo.
Gasolina
Mantega também disse ontem que não há previsão para reajuste da gasolina.
Análise - País tem de "queimar" parte das reservas cambiais, diz economista
Agência Estado
O diretor do Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe) da Casa das Garças (CdG), Edmar Bacha, membro da equipe econômica que criou o Plano Real, afirmou ontem que o governo "precisar queimar um pouco de reservas cambiais" para sinalizar ao mercado que se preocupa com a apreciação do dólar.
Para ele, as ações em derivativos e nas linhas cambiais no mercado futuro foco da atuação do Banco Central podem ser insuficientes para segurar a alta na moeda dos Estados Unidos porque não dão a liquidez necessária do mercado à vista. "Tem de estar disposto a queimar um pouco de reserva, porque só atuar em derivativos e nas linhas, não é suficiente", disse Bacha.
O economista disse que ainda é difícil avaliar se o dólar no atual patamar de R$ 2,40 é bom ou ruim para os empresários. "Eu não gosto de discutir se chegou ou não ao câmbio que eu queria, porque não é esse o ponto. O ponto é ter um programa estruturado, consensual, planejado e não ficar reagindo às contingências do momento, como está acontecendo agora."