Cerca de 400, dos 800 trabalhadores da Renault com contratos de trabalho suspensos, retornaram ontem à fábrica da empresa em São José dos Pinhais praticamente dois meses antes do prazo anunciado. Como medida para garantir a manutenção dos postos de trabalho, durante quase três meses eles trocaram a linha de produção por cursos de qualificação.
A medida confirma a retomada da produção anunciada pela empresa, que em meados de fevereiro prometeu chamar de volta parte dos funcionários do segundo turno de produção. Com isso, a produção dos veículos de passeio dos modelos Sandero e Logan, hoje em torno de 350 por dia, deve subir para mais de 500 unidades diárias.
Os trabalhadores terão de aguardar mais uma semana antes de voltarem às suas atividades plenas. Nesta semana, eles ainda devem passar por um programa de re-ambientação, que inclui programa de condicionamento físico. Na próxima segunda-feira eles ocupam normalmente seus postos na linha de produção.
A outra metade dos trabalhadores com contrato suspenso continua aguardando a retomada total da produção, recebendo a Bolsa Qualificação, prevista em acordo que vigora até o fim de maio.
Para o coordenador da delegação sindical da Renault, Robson Jamaica, a volta antecipada dos trabalhadores da linha de montagem deve forçar a volta de mais 100 trabalhadores da unidade de fabricação de motores nos próximos dias. "Se vamos fabricar mais carros, precisaremos de mais motores. As conversas para o retorno destes trabalhadores já estão em andamento e deve se confirmar nos próximos dias", diz. "Hoje temos que produzir mais do que um turno e menos do que dois. Se continuar assim, podemos ter o retorno de todos os trabalhadores antes de maio."
A assessoria de imprensa da Renault diz que não há como prever nova convocação de funcionários afastados. A volta de parte dos operadores de um dos turnos foi possível graças ao crescimento de 6,5% nas vendas da Renault no primeiro bimestre deste ano em relação a 2008.
O consultor do setor automotivo e sócio-diretor da Trevisan Consultoria, Olivier Girard, atribui a volta parcial dos trabalhadores da Renault a um processo de retomada do mercado provocado pela isenção do Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) de veículos populares. "A redução do IPI provocou um aumento na procura de carros populares, ocasionando até mesmo um desabastecimento de alguns modelos", afirma. Mas o especialista ressalta que essa recuperação é gradual. "As exportações continuam paradas. Se a redução do IPI não for renovada, a tendência é de retração do mercado pelo menos até o início do segundo semestre."
A medida de redução do IPI, anunciada no dia 11 de dezembro de 2009, é parte do pacote do governo para estimular a economia nacional contra os efeitos da crise e tem validade até o próximo dia 31. Girard, no entanto, diz acreditar na prorrogação da isenção do imposto por pelo menos mais três meses. "O governo vai esperar para ver o resultado parcial de março. Mas o acorde deve ser renovado. A desoneração não acarretou em uma grande queda de arrecadação enquanto uma profunda retração no setor provocaria efeitos muito mais danosos na economia."