Enquanto no mercado financeiro o pessimismo com o Brasil se alastra, outro tipo de investidor aposta alto no país. Fundos especializados em comprar participações em empresas, conhecidos como "private equity", promovem rodada bilionária de captação de recursos para aplicar em companhias brasileiras. As empresas, por sua vez, veem nesse investidor importante fonte de financiamento para crescer, em meio a uma bolsa instável em ano eleitoral, sem nenhum registro de abertura de capital desde janeiro, e diante de juros para empréstimos nas alturas.
Levantamento da consultoria espanhola Transactional Track Record (TTR) mostra que, até agosto, R$ 14 bilhões foram injetados em companhias brasileiras pelos fundos de "private equity". A cifra já equivale a todo investimento feito no ano passado no país e existem mais R$ 14 bilhões disponíveis em caixa para aplicar.
"O private equity é muito diferente do investimento em bolsa ou em renda fixa. Esse investidor está de olho no longo prazo. Ele não está muito preocupado com o resultado dessas eleições nem com qual será o avanço do PIB este ano, mas, sim, com a perspectiva do Brasil daqui a dez anos", afirma Fernando Borges, presidente da Associação Brasileira de Private Equity (ABVCAP).
Esse tipo de investimento ainda é pequeno no Brasil e equivale a 0,13% do Produto Interno Bruto (PIB). Nos EUA, por exemplo, está em 1% do PIB; em Israel, atinge 1,5%. Mas o segmento cresce 20% ao ano por aqui e já há um estoque de R$ 100 bilhões investidos. Os fundos recém-lançados são resultado de um novo ciclo de captação, uma vez que os maiores existentes hoje foram levantados em 2010 e 2011 e já estão todos aplicados.
Preferências
Entre as aquisições, os estrangeiros são investidores de peso e olham especialmente para empresas médias, com faturamento de até R$ 200 milhões por ano, com atuação ligada à internet. Mas não há distinção de setor, com negócios da área da saúde à de infraestrutura. Estima-se que há 20 mil companhias locais com potencial para receber recursos."Não temos foco definido em setor específico. Procuramos empresas médias que possam apresentar crescimento expressivo nos próximos quatro, seis anos", diz Fábio Maranhão, sócio do Axxon Group, que desde 2001 já investiu R$ 800 milhões em 12 empresas nacionais e tem mais R$ 400 milhões para aplicar.
No início de agosto, o Axxon ganhou destaque ao vender a rede de lojas de produtos saudáveis Mundo Verde, que controlava desde 2009. "Essa é a estratégia desses fundos. Comprar, reestruturar, expandir, inclusive abrindo o capital da empresa na Bolsa. Depois, vendem a companhia com um bom lucro. O Brasil está atraindo esse capital pela sua fama de ter bons empreendedores", afirma Wagner Marques Rodrigues, da consultoria TTR.
Para o empresário brasileiro, a entrada de recursos é positiva, mas normalmente eles perdem o comando do negócio, já que esses investidores preferem comprar a posição majoritária da companhia. Com isso, têm poder para colocar seu time em campo e implantar uma gestão mais profissional. O prazo médio de venda da empresa, depois da injeção de capital, é de seis anos no Brasil e o retorno pode ser bem generoso. Na média, calcula-se que um dólar investido pode se transformar em US$ 20 depois.
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