A fusão entre a ítalo-americana Fiat Chrysler e a francesa PSA, dona das marcas Peugeot e Citroën, criando a quarta maior montadora do mundo, em um negócio estimado em US$ 48 bilhões, é reflexo de um processo de consolidação da indústria automotiva mundial, apontam analistas de mercado. E novos movimentos devem acontecer.
Michelle Krebs, analista executiva de Autotrader, aponta que a indústria automotiva se encontra em uma encruzilhada. Segundo ela, as empresas têm de centrar-se em veículos tradicionais que dependem da gasolina e ajudam a gerar lucros. E também tem de investir em tecnologia para manter-se competitivos nos segmentos de carros elétricos e autônomos no futuro.
Os fabricantes de carros também estão sob pressão crescente para cumprir com objetivos estritos de emissões de gases na Europa, China e em outros países.
Os especialistas destacam que tais inovações vêm acompanhadas de grandes desembolsos em pesquisa e desenvolvimento, o que leva os fabricantes de carros tradicionais a buscar associações corporativas e aquisições para ajudar a distribuir custos e estabelecer sinergias.
“O setor tem necessidade de ser mais eficiente. Busca sinergias e mais capilaridade. É uma estratégia global, pois a indústria passa por um momento disruptivo”, diz Ricardo Bacellar, líder do setor automotivo na consultoria KPMG.
Volkswagen e Ford estão trabalhando em conjunto para desenvolver carros autônomos e elétricos. Na Alemanha, BMW e Daimler se uniram na tecnologia sem motorista. General Motors também recebeu um investimento da Honda para a sua unidade de veículos autônomos.
Preocupação com a consolidação
A Fiat Chrysler é uma das empresas que mais tem se preocupado com a questão da consolidação. Sergio Marchionne, o CEO que uniu Fiat e Chrysler e que morreu no ano passado, era um ferrenho defensor da consolidação da indústria automotiva, como meio para ampliar a influência de sua empresa e racionalizar o setor, assegurando que houvesse capital suficiente para investir em novas fábricas, tecnologias e produtos.
Na primeira metade do ano, a Fiat Chrysler tentou fundir-se com a francesa Renault, mas o acordo enfrentou resistências por parte do governo francês, que possui 15% da companhia e é seu principal acionista.
Naquele momento, a fabricante ítalo-americana disse que “ficou claro que as condições políticas na França não existiam para que tal combinação se desenvolvesse com êxito.” Segundo a CNN, a França teria dito que só aprovaria o acordo se houvesse proteção para os empregos e para as fábricas francesas.
Reflexos
Os impactos não devem se restringir só à indústria automobilística, aponta Bacellar, da KPMG. Ele destaca que a cadeia de suprimentos também deve ser impactada, com a criação de produtos mais tecnológicos. Segundo ele, isso é um reflexo do desenvolvimento de veículos elétricos, autônomos e híbridos.
Os reflexos também devem ser sentidos no Brasil. Dados da Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores (Fenabrave) apontam que nos nove primeiros meses do ano, a Fiat foi a quinta mais vendida no segmento de automóveis, com 8,9% de participação de mercado. Peugeot e Citroën não aparecem entre as top 10. Já no segmento de comerciais leves, a Fiat domina o mercado com 41% de participação de mercado. A Peugeot é a nona, com 1,1%.
“As operações no Brasil devem passar por algum tipo de rearranjo, levando em conta onde estão mais avançadas as tecnologias. Questões como eficiência operacional devem ser levadas em conta na tomada de decisões.”
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