O impacto da criação de uma gigante do varejo formada por Pão de Açúcar e Carrefour está concentrado principalmente no Sudeste do país, onde ambas têm o maior número de lojas. No Paraná, pelo menos a princípio, os efeitos devem ser pequenos, já que, juntas, as duas redes possuem apenas 12 lojas pouco se comparado aos números da norte-americana Walmart, que tem 50, e das paranaenses Muffato (32) e Condor (30).
A fusão favorece, por outro lado, um movimento de aquisições de redes regionais. Tanto da nova empresa, que, fortalecida, pode ir às compras, quanto da rival Walmart em busca de uma reação de mercado mais rápida. A avaliação é de Olavo Henroque Furtado, coordenador de pós-graduação e MBA da Trevisan Escola de Negócios. "Estamos vivendo uma nova fase de fusões no varejo", afirma.
A última grande aquisição no mercado do Paraná foi justamente do Walmart, que adquiriu em 2005 os ativos do português Sonae, que detinha as bandeiras BIG, Mercadorama e Maxxi Atacado. Cinco anos antes, o grupo Pão de Açúcar havia comprado a rede de supermercados paranaense Parati, com 11 lojas. Na época, as unidades foram transformadas em lojas de vizinhança de alto padrão com o mesmo nome da rede. Os resultados, no entanto, frustraram as expectativas do grupo de Abílio Diniz, o que culminou no fechamento de algumas lojas. Hoje há apenas quatro unidades do Pão de Açúcar no Paraná, todas em Curitiba.
Com a fusão, o Pão de Açúcar deve aumentar sua presença no Brasil em 58%, passando de 113 municípios para 178. A rede de Abílio Diniz passa a operar em oito estados nos quais não atuava: Santa Catarina, Amazonas, Acre, Pará, Rondônia, Rio Grande do Sul, Maranhão e Espírito Santo.
"No Paraná, é possível que haja até mesmo a diminuição do número de lojas, como parte do programa de ganhos de sinergia e redução de custos entre as duas redes. Esse é um risco que sempre existe nesses casos", diz Christian Majczak, da consultoria GO4!, de Curirtiba.
Preços
As duas companhias estimam ganhos de sinergia entre R$ 1,3 bilhão e R$ 1,8 bilhão. Para o consumidor final, no entanto, ainda pairam dúvidas sobre o efeito da fusão nos preços dos produtos. Juntas, as redes Carrefour e Pão de Açúcar terão aproximadamente 27% do mercado varejista no Brasil, o que concede à nova empresa um grande poder de fogo na negociação com fornecedores.
"A questão é saber se esses ganhos serão repassados em forma de preços mais baixos para o consumidor ou se a concentração vai significar melhoria de margens e imposição de preços no mercado", diz Majczak.
Movimento estratégico
A concretização do negócio não deve ser fácil, principalmente por conta do litígio com o francês Casino, que se tornou parceiro de Abílio Diniz em 1999, em meio às dificuldades financeiras do grupo brasileiro. Pelo acordo entre Pão de Açúcar e Casino, a empresa francesa tem a opção de assumir o controle do gigante brasileiro daqui a um ano, indicando um nome para a presidência do Conselho de Administração.
"Agora, se concretizada, a fusão com o Carrefour permite ao empresário não apenas evitar a perda do controle da sua empresa, como dá a ele participação importante em uma gigante do setor", acrescenta o analista da GO4!.
A estratégia de Diniz, segundo Furtado, também barra uma entrada mais forte de grupos varejistas estrangeiros, como o próprio Casino, principal concorrente do Carrefour na França, no mercado supermercadista brasileiro.