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Mercado acionário

Fusões turbulentas testam resistência do investidor

Unidade da Brasil Foods em Carambeí (Campos Gerais): ações da empresa caíram 11% nos últimos 30 dias | Henry Milléo/ Gazeta do Povo
Unidade da Brasil Foods em Carambeí (Campos Gerais): ações da empresa caíram 11% nos últimos 30 dias (Foto: Henry Milléo/ Gazeta do Povo)

O crescimento do número de fusões e aquisições entre companhias listadas em bolsa de valores exige atenção dos investidores. As ações das empresas envolvidas costumam oscilar não apenas quando há rumores ou anúncios sobre essas operações, mas também depois que o negócio é fechado. Isso porque os processos de fusão têm de ser aprovados pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), órgão de defesa da concorrência, o que pode demorar anos – e a avaliação do Cade nem sempre é favorável à operação, como indica o processo de formação da BRF Brasil Foods, resultado da união de Sadia e Perdigão. No momento, o julgamento do negócio está suspenso, e a decisão final é esperada para até o fim de julho. As incertezas em relação ao resultado derrubaram as ações da empresa, que caíram 11% nos últimos 30 dias.

Especialistas recomendam que, para não sucumbir à turbulência que esses negócios provocam no mercado, o acionista deve procurar se informar ao máximo sobre as consequências do negócio, inclusive consultando as centrais de relações com investidores das empresas – recomendação que vale especialmente para quem mira o curto prazo.

Quando duas empresas se unem, ou uma é adquirida pela outra, as ações podem ser revertidas de duas maneiras: o investidor tanto pode receber ações da nova empresa com o valor equivalente ao dos antigos papéis, ou ainda receber a quantia em dinheiro. "Fusões e aquisições são saudáveis e benéficas, geralmente o investidor sai ganhando. Na dúvida, é preciso buscar informações, e a central de relacionamento com o investidor é um bom caminho para solucionar as questões", recomenda João Lucas Odebrecht, assessor de investimentos da Omar Camargo Corretora de Valores.

Para o agente de investimentos Gustavo Oliveira de Andrade, da Investflow, a atitude a ser tomada durante o período em que um negócio está sendo julgado pelo Cade, ou enquanto se espera pela resolução de alguma pendência judicial, depende justamente do perfil do investidor.

"Não é um momento de preocupação, mas é um período de turbulência. Se o investidor quiser respostas no curto prazo, é hora de tomar uma decisão rápida. As ações podem se desvalorizar em um primeiro momento e o investidor precisa se munir de informações, observando bem os balanços para ver se a empresa dá lucro ou não. Quem pensa no longo prazo não precisa se preocupar, porque a política [de atuação da empresa] tende a continuar a mesma."

No caso específico da Brasil Foods, Ricardo Rocha, professor do Curso de Especialização em Gestão de Operações e Serviços Bancários (MBA) na Fundação Vanzolini, dá seus palpites a acionistas levando em consideração que o setor alimentício está bastante em evidência.

"Se eu fosse investidor da nova empresa [a BRF], não venderia e permaneceria com as ações. Isso no caso de um investidor experiente, que vai saber lidar com as mudanças de humor do mercado, que pode trazer desvalorizações sem justificativa técnica", salienta. Rocha ressalta que, caso a pessoa esteja entrando no mercado acionário, o ideal é procurar outras companhias. "O momento do julgamento pode ter turbulências e um investidor que não é acostumado com isso pode querer sair de imediato e ficar com ojeriza do mercado acionário."

Salto

De 2006 a 2010, os valores envolvidos em fusões e aquisições no Brasil quadruplicaram, passando de R$ 32 bilhões para R$ 146 bilhões. O país, que até 2006 estava envolvido em apenas 0,9% das negociações, no ano passado viu sua fatia subir a 6,6%.

Além do setor de alimentos, outros ramos têm sido movimentados por fusões e aquisições, lembra Odebrecht, da Omar Camargo. "Nos últimos anos o setor de telecomunicações passou por várias fusões e aquisições. As grandes varejistas também têm potencial para essas negociações, assim como o setor de aviação comercial. Quanto mais competitivo o setor, mais chance de elas acontecerem", ressalta Odebrecht.

No caso da aviação comercial, outra operação que segue à espera de uma definição pelos órgãos de concorrência é a fusão das companhias aéreas TAM, do Brasil, e LAN, do Chile, anunciada no ano passado.

Outros problemas

Além de problemas com os órgãos de concorrência, momentos de incerteza aparecem quando surge uma campanha contra um determinado setor. "As campanhas sempre afetam o valor das empresas. A indústria tabagista, por exemplo, já tem em seu planejamento os riscos mensurados. O movimento de venda das ações pode acontecer, dependendo da análise do investidor. Geralmente, quando o acionista enxerga uma campanha negativa sobre algum setor, tende a reduzir sua posição e migrar para outros papeis", explica Odebrecht.

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