Em 2050, seremos 9,3 bilhões de pessoas no mundo, 1,6 bilhões a mais do que hoje. Para alimentar toda essa gente, a humanidade deverá produzir entre 2010 e 2050 a mesma quantidade de alimentos de toda a história agrícola anterior aquele ano, segundo estimativas. Tais números soam alarmantes, ou pelo menos surpreendentes, e lançam desafios para o agronegócio. O principal deles será dar conta de aumentar a produtividade ao mesmo tempo em que se combate o desmatamento e as mudanças climáticas, por exemplo, o que faz da tecnologia sua principal aliada.
Duvida? Junior Rodrigues, consultor comercial da Central Brasileira de Comercialização (CBC Agronegócio) lembra que em 1970 um agricultor produzia alimentos suficientes para 73 pessoas, em média. Em 2010, a capacidade deste mesmo produtor rural servia 155 pessoas. “Aumentamos as áreas cultivadas, mas 90% deste resultado está ligado à produtividade proporcionada pela tecnologia”, acrescenta.
Dentro das porteiras, o avanço tecnológico está presente desde o melhoramento genético das sementes, que permite a otimização das colheitas e o cultivo de diferentes culturas no mesmo solo, ao maquinário cada vez mais potente e refinado para usos específicos.
Isso não significa, no entanto, que a tecnologia já seja algo incorporado ao agronegócio. Especialistas no tema que se apresentaram na ViaSoft Connect, evento focado em empreendedorismo, realizado nos últimos dias 9 e 10 de setembro, em Curitiba, foram unânimes ao afirmar que ainda há muito a ser explorado na relação “agro x tech”. “No Mato Grosso, cerca de 80% dos produtores rurais ainda fazem o controle de suas safras à mão, no caderno”, exemplifica o consultor comercial.
Fora das porteiras, o descompasso entre as oportunidades ofertadas pela tecnologia e a realidade do mercado é ainda mais expressiva, segundo eles, com as negociações sendo fechadas nos moldes do que acontecia há 50 anos.
Inovar para potencializar resultados
Dentro deste cenário, algumas iniciativas de raíz tecnológica têm surgido com o objetivo de facilitar o contato entre o produtor rural e os outros pares da cadeia com o objetivo de facilitar, trazer agilidade e potencializar os negócios. “A ideia é passar de uma lógica linear de negociações para uma lógica de rede”, explica Murilo Bettarello, engenheiro agrônomo e CEO da Izagro.
A plataforma, que conta com quase 50 mil usuários e mais de 5 mil fazendas cadastrados, conecta produtores rurais e distribuidores para que aqueles possam orçar insumos (como fertilizantes, sementes e defensivos agrícolas), obter informações e tirar dúvidas sobre manejo, pragas e doenças da lavoura ou rebanho.
Na outra ponta da cadeia, a Central Brasileira de Comercialização (CBC Agronegócios) é outro exemplo de iniciativa que conecta produtores de todos os tamanhos aos compradores, funcionando como um marketplace agropecuário no qual as partes podem oferecer propostas e fechar negociações. Hoje, cerca de 13 mil produtores e empresas estão registrados na plataforma.
“Um mercado que há pouco tempo era tido como caipira, de pessoas conservadoras e tradicionais, está se movimentando. Gosto de falar que estamos atravessando uma ponte, que é a tecnologia. O agronegócio não está mais parado de um lado da ponte, mas também ainda não a atravessou. A tecnologia ainda pode ajudar muito o agronegócio a ser o que ele precisa ser em números de crescimento, produtividade e lucratividade”, reforça Rodrigues.
Na opinião dele, este potencial represado se justifica, por exemplo, na expansão do número de agtechs brasileiras, que já somam 1.125 startups voltadas ao agronegócio, seja para solucionar problemas e otimizar processos no pré, dentro ou pós fazenda.
Bettarello concorda e vai além, apontando que esta relação precisa ser de troca, e não passiva. Ele defende, por exemplo, que o produtor rural não seja apenas o usuário das novas tecnologias, mas também contribua como codesenvolvedor e até mesmo investidor delas.
“Este é o principal desafio que vejo nesta relação, o de se investir em hubs de inovação pelo Brasil, utilizando os sindicatos rurais e as cooperativas, para que a rede de agricultores participe com a troca de informações e conhecimentos e, também, se dispondo a ser a primeira usuária no sentido de validar estas ferramentas”, completa.
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