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Sala de controle da ALL: proposta dá à Rumo 36,5% da concessionária de ferrovias | Marcelo Elias/ Arquivo/ Gazeta do Povo
Sala de controle da ALL: proposta dá à Rumo 36,5% da concessionária de ferrovias| Foto: Marcelo Elias/ Arquivo/ Gazeta do Povo

2027 é o ano em que termina a concessão da ALL. A Cosan quer mais prazo.

Negociação

Cosan quer prorrogar concessão em troca de investimentos

O presidente da Cosan, Marcos Lutz, informou que pretende negociar com o governo e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) a prorrogação do prazo de concessão da ALL – que iniciou em 1997 e é de 30 anos – para viabilizar "investimentos estruturantes" de longo prazo na malha. Com a fusão, as duas empresas unem em uma única companhia os 13 mil quilômetros de ferrovias da ALL com os oito terminais de transbordo e um portuário da Rumo em Santos (SP).

A operação, se confirmada, também põe fim a uma disputa judicial sobre um contrato de R$ 1 bilhão assinado pelas empresas em 2009. O projeto estabelecia que a ALL transportaria açúcar a granel e outros derivados para a Cosan e, em contrapartida, faria investimentos na malha ferroviária. A Cosan acusava a ALL de não fazer investimentos e a empresa de logística atribuía os atrasos a problemas com as licenças ambientais.

A Rumo Logística, ligada ao grupo Cosan, confirmou ontem a proposta para fusão com a América Latina Logística (ALL) em um negócio que pode criar uma gigante do setor de transportes no Brasil, com valor de quase R$ 11 bilhões e geração de caixa de R$ 2 bilhões. O conselho de administração da ALL avaliará a oferta em até 40 dias. Se aprovada, a operação será levada para assembleia de acionistas, na qual a proposta terá de ser aprovada por no mínimo 51% dos membros.

INFOGRÁFICO: Conheça o perfil de "Cosan" e "All"

Pela proposta, a Rumo deve incorporar a totalidade das ações de emissão da ALL, ficando com 36,5% da companhia resultante da união, enquanto os demais 63,5% do capital caberiam aos sócios da ALL.

A oferta considera um valor de referência para a ALL de R$ 6,959 bilhões, equivalente a R$ 10,184 por ação, o que representa um prêmio de 56,2% sobre o preço de fechamento do papel da ALL na Bovespa na última sexta-feira. O valor de referência para a Rumo, na proposta, foi de R$ 4 bilhões, ou R$ 3,90 por ação. Ontem, as ações da ALL fecharam o pregão com alta de 8,9%, para R$ 7,59, e as da Cosan chegaram a R$ 36,60, com valorização de 3,51%.

A Rumo fará abertura de capital ainda neste semestre para fazer a fusão e a nova empresa, que ainda não tem nome, poderá fazer emissão de ações para atrair sócios estratégicos no futuro. Em teleconferência com jornalistas, o presidente da Cosan, Marcos Lutz, disse ontem que a Rumo/ALL tem condições de se capitalizar.

"A nova empresa tem maior capacidade de capital, com acionistas fortes, capitalizados. Mas também há possibilidade de buscar recursos por meio do mercado financeiro, através do BNDES e até mesmo por meio de emissões para atrair um sócio estratégico", afirmou.

Pela proposta, a Cosan terá grande poder na ALL e será responsável por indicar a maioria dos conselheiros da companhia combinada – nove das 17 cadeiras. Os outros acionistas da Rumo, os fundos de investimento TPG e Gávea, teriam uma cadeira cada, bem como os atuais acionistas da ALL (BNDES, fundo BRZ ALL, Previ, Funcef, o casal Julia e Ricardo Arduini e Wilson de Lara). Os fundos teriam considerado baixo o valor da proposta da Cosan, mas a empresa descarta fazer uma nova oferta.

Esta é a segunda vez que a Cosan tenta adquirir a ALL. Em fevereiro de 2012, a empresa fez uma oferta pela compra do bloco de controle da operadora ferroviária. Seriam quase R$ 900 milhões para comprar o equivalente a 5,6% do capital total da empresa de logística. Na época, as negociações esbarraram na exigência da Cosan de fazer uma auditoria nas contas da ALL.

Segundo Lutz, ainda não é possível prever o valor financeiro que poderá ser gerado por meio de sinergias com a a ALL, mas ele adianta que a intenção é que a nova empresa tenha uma operação logística integrada. "Ainda é cedo para falarmos de participação em novos leilões de concessões. Talvez alguma coisa em portos", afirmou.

Fusão ameaça setor agrícola, diz Faep

A possibilidade de fusão entre ALL e Rumo causa apreensão no setor agrícola. Em 2012, quando houve a primeira tentativa de união entre as empresas, a Federação da Agricultura do Paraná (Faep) entrou com um ação contrária no Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). E agora vai reforçar a pressão para que o órgão imponha restrições à operação.

O maior receio é que a ALL dê prioridade a cargas do novo acionista – para quem transporta açúcar – em detrimento dos demais clientes. "Não somos contra a fusão, mas ela é uma ameaça ao transporte dos produtos do setor agrícola do Paraná. Já havia um monopólio desse serviço, que agora passa a ser reforçado", diz Nilson Hanke Camargo, assessor técnico e econômico da Faep. Segundo ele, o objetivo é que a aprovação da fusão esteja associada a garantias de que os clientes do agronegócio do estado continuem a ser atendidos. O negócio está sujeito ao aval do Cade e da Agência Nacional de Transportes Terrestres.

A relação da ALL com o agronegócio paranaense estremeceu nos últimos anos, em meio a acusações de má prestação de serviços, baixa capacidade de transporte e preços abusivos. "A empresa se baseava no preço do frete rodoviário. Sempre cobrava cerca de 80% desse valor. Não é ilegal, mas é questionável", diz.

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