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venda ou iPO?

Futuro da Positivo Educação depende da vontade de seis famílias diferentes

 | Brunno Covello/Arquivo Gazeta do Povo
(Foto: Brunno Covello/Arquivo Gazeta do Povo)

De tão frequentes que se tornaram, as notícias sobre a venda da Positivo Educação já não surpreendem mais o vice-presidente do grupo, Lucas Guimarães, membro de uma das seis famílias de acionistas da empresa. Nos últimos cinco anos têm sido assim, diz Lucas, que ocupa o cargo desde 2010, vindo da Positivo Informática, hoje Positivo Tecnologia, onde participou do processo de abertura de capital da empresa.

Só no último mês, pelo menos três novas informações davam conta da venda do grupo e também da negociação separada de ativos de educação, como a Universidade Positivo e os colégios. Lucas confirma o assédio do mercado, mas diz que daí a fechar um negócio há praticamente um abismo. A oferta precisa atender aos interesses de todos os acionistas. São seis famílias, cada uma representada por uma holding independente, e mais de 20 pessoas físicas na sociedade da empresa. “Eu não tenho monotonia aqui não”, brinca ele, em entrevista exclusiva à Gazeta do Povo

Em 2017, o grupo entrou para o clube do bilhão, com faturamento de R$ 1,1 bilhão e lucro de R$ 117 milhões, quase 70% a mais do que em 2016. Neste ano, até agora, o desempenho da empresa já supera em 20% o resultado do mesmo período de 2017, mas a projeção total para 2018 não é muito ousada, garante Lucas. A empresa deve encerrar o ano com R$ 80 milhões de investimento na operação.

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Com dinheiro de sobra, a Positivo Educação mantém o plano de compra de ativos iniciado lá em 2016. No início deste mês, adquiriu três novas unidades em Ponta Grossa: dois colégios e um curso pré-vestibular. Fora de Curitiba, a empresa também já está fisicamente presente em Londrina e Joinville, em Santa Catarina. Com o sistema de ensino, contudo, carro-chefe do grupo, alcança mais de 867 mil alunos da rede privada e pública em todo o país.

Desde março deste ano a possibilidade de abrir capital entrou definitivamente no radar da empresa. Enquanto o grupo se debruça sobre este plano que, segundo Lucas, concilia melhor os interesses por liquidez de alguns acionistas, as propostas de compra continuam chegando à sua mesa. Encarregado de fazer essa interface com mercado, Lucas diz que é sua obrigação ouvir todas elas. 

Confira a entrevista com Lucas Guimarães, vice-presidente do grupo Positivo:

O grupo convive há anos com sondagens frequentes de venda e abertura de capital. Afinal de contas, a Positivo Educação está ou não à venda?

Não, não, não está à venda. A Positivo Educação é formada por acionistas minoritários, a gente não tem a figura do dono da empresa, e nunca teve. O grupo foi formado por professores e hoje são seis holdings e cada holding é uma família diferente, então você tem mais de 20 pessoas físicas que são sócias da Positivo.

Em função dessa diversidade de sócios é normal haver vontades de liquidez. Algumas pessoas não querem fazer sucessão dentro da sua família, querem transformar aquele patrimônio numa outra forma de ativo para ficar mais tranquilo, não ter mais posição na empresa

Então, o que ocorre e tem ocorrido já nos últimos cinco anos, são propostas que vêm, o grupo é muito assediado e isso acaba vazando. A gente de fato ouve propostas, e até por essa composição acionária a gente tem o dever de ouvir porque o caminho de liquidez vai ser, eventualmente, vendendo alguma coisa. Mas não é que o grupo está à venda, o grupo ouve propostas e tem que fazer isso até pela composição acionária que ele tem.

O que há de um pouco mais deliberado nessa história toda, até em função de muitos assédios e tal, é que há uma clareza hoje nossa que a abertura de capital parece um caminho para resolver isso. Então a gente está buscando a abertura, sem nenhuma pressa também, o Grupo não precisa de dinheiro, está bem capitalizado, mas seria uma caminho para dar uma perenidade na governança, na liquidez para os sócios que queiram ter essa liquidez e fazer isso de uma forma gradual, tranquila. 

O grupo não cogita nem mesmo a possibilidade de uma venda fatiada?

As propostas vêm assim, muitas vezes: “Ah, eu quero comprar a UP”. Eu tenho ouvido isso nos últimos cinco anos, eu sou o responsável por fazer essa interface com o mercado. Não tem nada de novo, a gente continua ouvindo as propostas. É o que eu posso te dizer.

As propostas de compra dos ativos vêm separadamente então?

Sim, tem um assédio enorme. (...) Se você der um Google, vai achar um monte de coisas porque o grupo ouve as propostas, e essas informações acabam vazando, chegando à imprensa. Isso é normal. 

Talvez se a gente fosse uma empresa de um dono só, seria uma situação mais de venda do todo, mas aqui não, você têm vários interessados com apetites diferentes.Seria certamente mais complicado [vender em partes] do que vender tudo ou, então, fazer o IPO.

Em comunicado da empresa, divulgado na matéria da Reuters, você disse que “embora estejamos mirando uma oferta pública inicial de ações, estamos abertos a ouvir propostas de investidores qualificados”. A Positivo Educação pode vender participação societária a novos investidores, como fundos especializados, por exemplo?

A nossa postura é manter a cabeça aberta. Enfim, pode ser que venha uma parceria com alguém, uma fusão ou nada disso. O fato é o seguinte: ninguém precisa vender. Nos últimos cinco anos nós ouvimos várias propostas, mas ninguém precisa vender. 

A empresa está muito bem, há um interesse de liquidez, mas ninguém precisa vender. A empresa não precisa de capital e os acionistas também não precisam de capital. Por isso é um pouco mais difícil sair um negócio

Quanto o grupo espera crescer neste ano?

Não é um crescimento grande. O número atualizado da metade deste ano está uns 20% acima de resultado do [mesmo período] ano passado. Nossa projeção não é muito ousada. Não vou dizer que vamos crescer os 20% que crescemos até agora, mas estamos num ritmo bom em relação ao ano passado.

Qual dos ativos de educação traz hoje o maior retorno para o grupo?

É a editora. A editora, com os sistemas de ensino, é a que da mais retorno para o grupo. Na sequência, muito do mesmo tamanho, vêm as escolas e a UP. Em faturamento, a UP é muito maior, mas em resultados elas são muito parecidas porque a margem da UP é muito baixa. A gente tem muito pesquisa, stricto sensu, uma infraestrutura enorme, então a gente acaba tendo uma margem menor, não que a margem das escolas seja assim algo de outro planeta. Escolas são um negócio tipicamente de margem de 15%, quando bem tocadas. A UP tem uma margem ainda menor do que 10%.

O plano A da Positivo Educação então é abrir capital?

A gente está reativamente ouvindo propostas de compra e proativamente buscando a abertura de capital. Contratamos uma consultoria que está nos ajudando a discutir uma visão estratégica, como a gente se posicionaria numa abertura de capital. Já temos uma experiência de abertura de capital com a Positivo Tecnologia. Eu, na época, tive a sorte de ser o CFO, fiz todo o road show, tive toda essa experiência. Mas a gente tem que entender que era outro momento, aqui são outros negócios, tem um portfólio de empresas. Então, se a gente for fazer a abertura de capital, o que a gente leva para a abertura de capital, será que a gente leva o ensino superior junto com o ensino básico ou não porque fica complexo demais, e o investidor gosta de coisa simples. Por outro lado, se eu levo tudo eu tenho uma plataforma mais completa, eu tenho uma oferta maior. Tem prós e contras. Estamos discutindo como a gente se posiciona e como vender essa história para o mercado. A gente tem trabalhado muito nesse sentido, de preparar a empresa para essa abertura, mas, como eu já disse, sem pressa. A gente está fazendo a revisão estratégica com esse viés de abertura.

Há uma data prevista para o IPO?

Ano que vem. De forma genérica é 2019. Também depende do mercado, de quem vai ser eleito.

Você afirmou que a empresa avalia as propostas de compra porque há interesse de alguns sócios em liquidez, mas que hoje a empresa não precisa de dinheiro. Se a empresa não precisa de dinheiro, qual é então o objetivo do IPO?

O objetivo do IPO, além de dar liquidez para os sócios que querem liquidez, é que a empresa passa a ser muito mais supervisionada pelo mercado, passa a ter vários investidores que vão ter interesse no teu negócio. Precisa ter muito mais transparência. E isso tudo robustece a empresa como um todo. Tem que ter um conselho que seja independente, que tem que ter uma pauta que realmente leve o conselho para discussões estratégicas. Hoje, como sócios-gestores a gente se pega discutindo detalhes que o conselho talvez não devesse estar discutindo. A empresa já é bastante profissional, mas acho que, em termos de governança, precisa dar um passo a mais. Acho que isso ajuda a empresa a se perenizar. Para quem, por exemplo, tem interesse em ficar isso é ótimo porque a empresa fica mais robusta.

É possível que vocês decidam não fazer IPO de todo o grupo?

Sim. É uma coisa que a gente estuda. 

E aí poderia abrir capital de uma parte e vender a outra?

Tudo pode. (...) Outra possibilidade com o IPO é você acessar capital. Como a gente não precisa de capital, nossa oferta hoje seria majoritariamente secundária, mas, eventualmente, a gente pode ter uma [oferta] primária porque estamos fazendo aquisições de escolas. A gente adquiriu recentemente três escolas em Ponta Grossa, adquirimos uma escola e uma faculdade em Londrina, uma escola em Joinville. Estamos com um pipeline ativo de aquisições. Então, na medida que a gente vai tendo um pipeline de aquisições mais forte, acessar capital para isso pode ser muito legal. Hoje isso não é um problema porque a gente está fazendo aquisições menores, pontuais, mas eventualmente pode ser uma coisa boa. 

Você participou da abertura de capital da Positivo Tecnologia. Ter várias empresas no portfólio da Positivo Educação torna o IPO mais complexo?

Tem coisas que são muito parecidas porque, no fundo, o investidor quer uma história de crescimento. No caso da Positivo Tecnologia a história de crescimento era muito clara. A gente vinha crescendo a dois dígitos e havia um mercado para ser ocupado porque não havia penetração de computadores na população naquela época. A história de crescimento ali era mais clara. Além disso, era uma época que, eu brinco, até tijolo voava na bolsa de valores porque tinha muito IPO. Era outro momento tanto de empresa quanto de mercado de capitais. Aqui a gente tem essa particularidade de ter mais de um business. Existem estudos acadêmicos que demonstram o efeito do chamado desconto do conglomerado, quando você leva um grupo de empresas para abrir capital. A gente sabe que levar tudo talvez não seja o melhor negócio. Por outro lado, nossas empresas têm sinergia. O tamanho da oferta também ajuda porque o investidor quer liquidez, depois que compra um papel ele quer saber que esse papel negocia se ele quiser vender. Então a questão é que história é essa que nós vamos contar. 

Em setembro deve ter o IPO de uma empresa de educação brasileira na Nasdaq [bolsa norte-americana], chama-se Arco. Isso é uma coisa que a gente está olhando atentamente agora porque para a gente é muito bacana. Eles estão se colocando como uma empresa de serviços e tecnologia; é um posicionamento, por exemplo, que a gente nunca imaginou.

Vocês cogitam a possibilidade de abrir capital lá fora?

Sim. Eventualmente essa pode ser uma saída porque lá você tem outra ancoragem, vai ter outras empresas de tecnologia. Por isso que a gente precisa estudar e pensar com calma. Essa empresa que está abrindo capital, diferente da gente, é uma empresa que tem um fundo de investimento lá dentro, tem outra pegada. Nós não temos isso; são basicamente os fundadores ou sucessores, como é o meu caso, que estão na gestão. É uma visão diferente, não tem aquela coisa agressiva de mercado. É um mundo que a gente está se educando agora, apesar de já ter experiência, a gente quer fazer isso com calma e fazer bem feito.

Qual o tamanho do investimento na compra de ativos?

Não há uma previsão, o investimento é feito de acordo com o pipeline. A gente tem a capacidade de executar, mas não tem muito sentido a gente orçar porque depende muito da negociação. O investimento de Ponta Grossa, por exemplo, a gente não sabia se ia fechar até duas semanas antes do anúncio. Eu só vou fazer a aquisição se eu achar que é boa. 

A compra das unidades em Ponta Grossa é parte de um movimento que vocês iniciaram em 2016. Por que investir em novos ativos? 

Tem vários objetivos. O mais óbvio é crescer em escala nas escolas. Além disso, a gente vê oportunidades em muitas escolas boas, mas que têm muitos problemas. Pedagogicamente são escolas boas, mas que administrativamente poderiam ser melhores. Então, m pouco é ganho de escala e um pouco são oportunidades de profissionalizar mais algumas escolas. Tem um componente secundário para a gente também que é fortalecer a marca do sistema de ensino. Mas nós somos muito cuidadosos ao fechar o negócio porque a gente pode ter clientes naquela região. Tentamos mostrar que não queremos concorrer, mas agregar a marca. Eventualmente, a gente pode até deixar de fazer uma aquisição por conta desse impacto, se a gente avaliar que de fato vai conflitar.

Vocês compraram ativos em Ponta Grossa, Londrina e Joinville, cidades mais próximas de Curitiba. A Positivo Educação tem aspirações nacionais ou, por enquanto, não quer sair do quintal?

Sim. Não é nossa ideia ficar só aqui. Objetivamente nós estamos olhando e fazendo diligências em escolas no Nordeste, Centro-Oeste. Ocorreu, e acho que é até natural, de as primeiras aquisições serem aqui por perto, mas estamos olhando fora daqui também. 

Nas duas frentes, ensino básico e superior?

Nas duas. Ensino superior é um pouco mais difícil porque já houve muita consolidação. É um mercado mais difícil de fazer aquisições, com menos ativos disponíveis. E muitos dos ativos disponíveis hoje já foram tão assediados que as pessoas têm uma noção de valor que não há chance de negócio. Mas estamos olhando. A gente não está parado. A nossa preocupação não é ser o maior de ranking nenhum, não é ser o maior do Brasil, a gente não quer crescer por crescer. A gente quer crescer como consequência de um bom trabalho, quer crescer em qualidade, e que o resto venha como consequência. Esse é o nosso foco.

A Positivo não quer ser uma nova Kroton?

Não. Eu quero ser o melhor do Brasil, não o maior do Brasil. Se como consequência eu virar o maior, ótimo. Mas é nessa ordem. E faz toda a diferença. 

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