O governo promete anunciar amanhã sua nova equipe econômica, que, segundo os rumores, terá Joaquim Levy no Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa no Planejamento e Alexandre Tombini no Banco Central. A suposta escolha de Levy entusiasmou o mercado financeiro, que o considera capaz de pôr fim aos improvisos na condução da economia e evitar que o país perca o "grau de investimento". Uma missão difícil, ainda mais porque não se sabe se ele terá autonomia para fazer o que julgar necessário.
Levy foi secretário do Tesouro no início do governo Lula, auxiliando o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no ajuste das contas públicas. Um processo que, embora tenha preparado terreno para o crescimento econômico dos anos seguintes, contrariou boa parte do PT e a própria Dilma Rousseff, na época ministra de Minas e Energia. A saída de Palocci, substituído por Guido Mantega, marcou a ascensão no governo dos "desenvolvimentistas", economistas mais preocupados com crescimento e emprego que com inflação e finanças públicas.
É de se perguntar, então, se a hipotética nomeação de Levy serviu apenas de aceno ao mercado e às agências de classificação de risco ou se a presidente vai mesmo tolerar "ideias novas" na política econômica, lembrando o slogan da campanha presidencial.
Sinais confusos
Os sinais que o governo envia são contraditórios. Escalado para defender Levy de seus colegas de PT, o líder do partido no Senado, Humberto Costa, disse que o novo ministro será "guardião do modelo de desenvolvimento" do governo ou seja, seria um nome novo para tocar as ideias de sempre.
Incertezas assim vão dificultar o trabalho da nova equipe. Em especial porque, dentre as tarefas que terá pela frente (veja quadro), uma das essenciais é restaurar a confiança na economia, avalia Luiz Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica. O economista Paulo Rabello de Castro, presidente da agência de classificação de risco SR Rating, duvida que qualquer ministro consiga, neste governo, reverter o quadro atual. "Não há como fazer um mero ajuste num transatlântico que ruma ao Pacífico Sul, para o meio do nada, quando deveria estar indo para Roterdã [no Atlântico Norte]", diz. "Seria preciso uma reconsideração completa. E o governo não quer isso, até porque não tem consciência do que está fazendo."
Por onde começar
Na hipótese de que Dilma conceda alguma autonomia, a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, crê que a primeira medida de Levy será "ver o tamanho da encrenca". "É preciso saber com certeza quais são, por exemplo, os pagamentos atrasados do governo, as pedaladas. Hoje ninguém sabe. E, sem isso, nem o Levy será capaz de coordenar as expectativas."
O coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo, Lucas Dezordi, enumera três tarefas para a nova equipe econômica: comprometer-se com um programa de superávit primário de pelo menos dois anos; sinalizar que busca uma inflação de 4,5% ou menor; e melhorar o ambiente de investimentos. "Há que se melhorar a governança e a transparência das estatais e de todas as empresas que captam dinheiro no mercado de capitais, para evitar a repetição de casos como os das empresas de Eike Batista."
Guerra judicial