O diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse que se “expressou mal” ao sinalizar disposição dos diretores do banco para subir a taxa básica de juros (Selic). Segundo Galípolo, sua fala não foi interpretada adequadamente.
“Vim agora de uma fala em que me expressei mal e tive uma interpretação inadequada, ainda que tenha repetido várias vezes: estou reafirmando minha fala anterior. Tenho que estar disponível para receber essas críticas”, afirmou Galípolo durante participação em um evento promovido pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), nesta quinta-feira (22)
"Na minha interpretação, posição difícil para o BC não é ter de subir juros. Posição difícil é inflação fora da meta, que é uma situação desconfortável. Subir juros é uma situação cotidiana para quem está no BC", continuou.
Mais cedo, na quinta-feira (22), ao participar de outro evento, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Galípolo havia dito que "a alta de juros está na mesa” e que “o Banco Central não vai hesitar, se for necessário, fazer uma elevação de juros".
As declarações de Galípolo foram mal recebidas pelo mercado, e o dólar subiu quase 2% no fechamento da quinta-feira, aproximando-se de R$ 5,60.
Na terça-feira (20), o dólar também havia subido depois de o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, indicar que a alta dos juros na próxima reunião do Copom, em setembro, não é uma certeza.
Campos Neto e Galípolo têm adotado o mesmo discurso ambíguo sobre alta de juros
Anteriormente à fala de Galípolo nesta quinta, tanto o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, quanto o próprio Galípolo vinham dando declarações públicas que, na interpretação de parte do mercado, sugeriam uma elevação da Selic já em setembro.
Isso passou ao mercado a percepção de que o Banco Central estaria de fato comprometido com o combate à inflação e não teria receio de elevar os juros, se o cenário assim o exigir.
A segurança gerada pelas declarações contribuiu para baixar o preço do dólar.
Acontece que na terça-feira (20), em entrevista concedida ao jornal O Globo, Campos Neto disse que sempre falou que a taxa de juros poderia subir, se necessário, mas que isso não significa que uma alta de juros poderia ser dada como certa.
No mesmo dia, ao participar de um evento do BTG Pactual, Campos Neto defendeu que o BC precisa “recuperar a credibilidade” após a votação dividida no Comitê de Política Monetária (Copom) que definiu corte de 0,25% na taxa Selic, que foi fixada 10,5% ao ano.
Em maio, os quatro diretores do BC indicados pelo presidente Lula (PT) se manifestaram pelo corte de 0,5 pontos percentuais na taxa básica de juros. Outros cinco diretores votaram pelo corte de 0,25%.
Segundo Campos Neto, após o impasse de maio no Copom, os diretores têm tomado decisões de forma unânime.
Fogo amigo
No dia 13 de agosto, o PT emitiu uma nota oficial criticando Galípolo por uma declaração do dia anterior em que o diretor do BC disse que o aumento da taxa Selic não está descartado.
De acordo com o PT, “subir juros não é o caminho para o crescimento”.
“É preciso então questionar se há fundamento para tal medida, uma vez que a inflação está sob controle, sempre mantida dentro da meta. É bom também lembrar que a Selic, atualmente já em um patamar elevado, exerce forte pressão sobre o orçamento federal e a economia. Um novo aumento pode agravar a situação fiscal do país, pois os juros fazem subir de forma significativa o custo da dívida pública”, afirmou o PT.
A fala de Galípolo criticada pelo PT convergiu com declarações de Campos Neto, que vinha defendendo a possibilidade do aumento da taxa de juros e a união dos diretores nas decisões.
Galípolo tem sido apontado como nome preferencial do presidente Lula para ser indicado ao cargo de presidente do BC após Campos Neto deixar o comando da instituição, em dezembro deste ano.
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