O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou na manhã desta terça (25) que a interrupção dos cortes da taxa de juros decidida na semana passada pode ter sido momentânea, e deixou em aberto a possibilidade de novos ajustes no futuro.
A declaração foi dada pouco depois da autarquia divulgar a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que decidiu por manter a Selic em 10,5%, encerrando um ciclo de cortes que vinha ocorrendo desde agosto do ano passado.
A interrupção dos cortes irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que culpou o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, e a imprensa.
“A palavra que a gente utilizou foi interrupção, mas claramente a gente não quer fazer qualquer tipo de sinalização ou guidance para frente. O que a gente fez ao fazer uma comunicação que utilizou a palavra interrupção. Mas, pretende deixar aberto para gente ver como é que as coisas vão se desdobrar a partir de agora”, disse Galípolo ressaltando a intenção do colegiado “tanto na ata quanto no comunicado”.
Galípolo participou de uma live da Warren Investimentos sobre o andamento da política monetária do país, e afirmou que a decisão de interromper o ciclo de cortes da Selic mostrou “uma reafirmação e uma corroboração nesse sentido da coesão que a gente tem aqui dentro, de visões e de tudo que está acontecendo aqui dentro do BC”.
Apesar de deixar a expectativa futura em aberto, o diretor afirmou que o Copom pode voltar a elevar a taxa de juros se os indicadores econômicos mostrarem a necessidade.
“Se as coisas piorarem, o Banco Central vai reagir? Sim, com certeza. Se as coisas melhorarem, o Banco Central vai reagir também. Então, deixar a questão em aberto, eu acho que é o que a gente fez agora na comunicação, já é uma linha que determina isso, mas mesmo em abstrato”, pontuou.
Ele apontou que a decisão de manter, diminuir ou subir a taxa de juros vai depender do cenário econômico, e que “o Banco Central não pode se furtar da sua missão, que é perseguir a meta de inflação”. “E, para isso, a ferramenta utilizada é o manejo da taxa de juros. E ela vai ser manejada para a instância que é necessária para a gente perseguir a meta”, ressaltou.
Economia surpreendeu, mas projeções se distanciam da meta
Na ata publicada nesta terça (25), o Copom afirma mais de uma vez que o desempenho da economia tem superado as expectativas do colegiado. A "desancoragem" das expectativas de inflação – isto é, o aumento da distância entre as projeções e a meta – também é citada várias vezes.
“No que se refere ao cenário doméstico, o mercado de trabalho e a atividade econômica, em particular o consumo das famílias, têm surpreendido e divergido do cenário de desaceleração previsto. Além disso, houve nova elevação das projeções de inflação tanto para 2024 quanto para 2025”, diz trecho da ata (veja na íntegra).
Os membros do comitê afirmam que reduzir as expectativas de inflação "requer uma atuação firme da autoridade monetária", mas não só. Em recado ao governo, defendem que também é necessário "o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira".
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou a ata do Copom em conversa rápida com jornalistas nesta manhã. "[A ata] transmite a ideia de que está havendo uma interrupção para avaliar cenário interno e externo, para que o Copom fique à vontade para tomar decisões a partir de novos dados", disse.
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