Daniel de Oliveira Costa, locutor no Centro de Curitiba: energia é bom humor para atrair o público para a loja de calçados| Foto: Jonathan Campos/ Gazeta do Povo

"Borboleta 13" virou clássico da Rua XV

A voz forte e a forma de abordagem também podem ser utilizadas em benefício próprio. Há 30 anos, Sheila de Paula, conhecida como "Borboleta 13", chama à atenção do público que cruza o calçadão da Rua XV de Novembro para oferecer os seus bilhetes da loteria federal. Ao invés de gritar, Sheila prefere cantar seus produtos como forma de atrair tanto os mais distraídos quanto os curiosos de plantão. "Os resultados são melhores dessa forma, pois assim o pessoal que passa pela rua acaba ouvindo e se interessando rapidamente. Antes eu tinha muita vergonha. Agora é natural", comenta. "É como se eu estivesse em casa."

Há pouco tempo, o empresário Maiky Willian Nascimento também começou a utilizar o "marketing direto" para ampliar a venda de produtos da linha de cosméticos que representa. A ferramenta permite a abordagem direta com seus possíveis consumidores na rua. "Chego e falo com espontaneidade e bom humor com as pessoas sobre os benefícios do produto. Acho importante esse tipo de contato no qual vamos até o cliente, ao invés de esperar ele ir até a loja. A aceitação do público é ótima", diz Nascimento.

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A velha máxima "quem não se comunica se trumbica", imortalizada por Abelardo Barbosa, o Chacrinha, é uma espécie de inspiração para muitas lojas populares de Curitiba. Longe da ambição de desenvolver campanhas milionárias de marketing ou contratar galãs de novelas para sorrir nos anúncios, alguns estabelecimentos apostam suas fichas publicitárias na força do gogó.

Quem caminha diariamente pelas ruas do Centro da capital paranaense está acostumado a esbarrar em homens e mulheres em frente a lojas populares utilizando seus vozeirões para anunciar os mais variados produtos. Diante das ofertas relâmpago, não é raro ver consumidores alterando seus trajetos ou atravessando a rua para aproveitar a promoção. "A ideia é quebrar a barreira entre a loja e o público e convidá-lo a entrar na festa. Mas esse sistema só funciona em lojas de preços baixos, localizadas em ruas de alto fluxo de pedestres e fora de condomínios comerciais", explica o consultor de marketing e vendas, Ricardo Coelho.

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Os donos do gogó

Não existe uma formação específica para as pessoas que queiram trabalhar como locutor de loja. Geralmente, os detentores do microfone são oriundos de outras profissões. Exigências: boa voz, ser desinibido e com raciocínio rápido para brincar com o público.

"Não existe metodologia acadêmica que explique essa forma de divulgação. A pessoa precisa ter habilidade de se adequar ao momento, fazer brincadeira com coisas do cotidiano como o sol e a chuva e saber convidar o consumidor a entrar na loja", diz Coelho.

Daniel de Oliveira Costa coleciona muitas histórias ao longo dos cinco anos de experiência como locutor em diversos tipos de mercado. O início na atual profissão não foi programado. Hoje trabalhando em uma loja de calçados e acessórios, Costa diz que não mudaria de função. "Eu era fiscal em uma loja de cosméticos e conheci de perto o trabalho de locutor no estabelecimento. Me interessei pela dinâmica e pelo lucro do negócio e acabei mudando de ramo", conta, com a mesma energia e bom humor utilizados no corpo a corpo com o público.

Locutor experiente, ele toma alguns dos cuidados com a voz, sua ferramenta de trabalho. "Tomo bastante água, e chupo algumas balas de gengibre. Às vezes também faço pausas para descansar."

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Cansado do estresse dos hospitais, Marcelo Santos Machado abandonou a profissão de enfermeiro e foi trabalhar em uma farmácia. Certo dia, a pedido do gerente, assumiu o microfone para anunciar as promoções. Foi o necessário para despertar o interesse pela função que desenvolve há dois anos – com passagens por diversos estabelecimentos de calçados, vestuário e supermercados. "Eu já tinha contato com teatro e habilidade de locução, coisas que encaixaram perfeitamente no trabalho. Posso afirmar que 75% do pessoal gosta muito e elogia, pois é uma maneira que eles têm de não perder uma boa promoção."

Contagiando

A principal função dos locutores é atrair o público e aumentar as vendas. Tanto que em dias de baixo movimento, eles são rapidamente acionados pelos gerentes. "Aumenta automaticamente o número de consumidores, pois contagia o público. As pessoas ficam atentas e curiosas e entram na loja para conferir. Traz mais movimento principalmente em épocas festivas", diz Costa.

"Sempre que estou falando sobre os preços e promoções, as pessoas param, escutam e entram na loja. Com certeza elas prestam muita atenção. Tem que ter alguém anunciando, se não, ninguém entra na loja", comenta Kauan de Lima, locutor da loja Marimarcel.

Colaborou Talitha Maximo

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