Áreas no Norte e Centro-Oeste do país tiveram maiores altas por causa da melhoria em infraestrutura e logística para escoamento da produção| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo/Arquivo

Acima da média

Com fronteira esgotada, Sul tem alta de 17%

Um resultado surpreendente foi a forte valorização das terras do Sul, cujas cotações subiram 17% em 2013. "Como a região tem os preços mais elevados do país, esperávamos um amortecimento", diz José Vicente Ferraz, da Informa/Economics. De 2011 para 2012, as terras do Sul já tinham subido 18% De acordo com a pesquisa, a terra agrícola mais cara do Brasil é a de Jaraguá do Sul (SC): o hectare de várzea vale R$ 48 mil. O diretor do Departamento de Economia Rural da Secretaria da Agricultura do Paraná, Francisco Carlos Simioni, tem uma explicação para esse resultado: "a fronteira agrícola está esgotada na nossa região e a disputa mais acirrada pela terra fez o preço subir". Ele acrescenta que a forte valorização da soja, com o preço passando de R$ 70 a saca, puxou a cotação da terra. Outro fator de valorização da região é a proximidade do Porto de Paranaguá (PR).Já as terras do Sudeste tiveram em 2013 valorização 10,8%, abaixo da média nacional. "Os negócios não estão aquecidos no estado de São Paulo primeiro por causa da época do ano, segundo em razão do mau momento da cana", diz Attilio Benedini, sócio da imobiliária que leva o seu nome. Laranja em São Paulo e café em Minas contribuíram para fraco resultado.

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Glebas

O avanço da tecnologia está mudando a lógica do mercado de terras. No passado, as áreas grandes, acima de 10 mil hectares, eram desvalorizadas, porque o número de compradores possíveis era relativamente pequeno e era preciso muito dinheiro para cultivá-las, explica o diretor da consultoria Informa Economics/FNP, José Vicente Ferraz. Hoje, com a tendência de se usar toda a tecnologia disponível, quanto maior a área explorada maior será o ganho de escala na produção. "Atualmente a diferença entre produzir com e sem escala é uma brutalidade", diz. Tanto é que as propostas para grandes glebas de terras são as que têm os maiores ágios nos valores, chegando em alguns casos a dobrar o preço. "É uma reforma agrária ao contrário."

R$ 3.900 foi o valor do hectare negociado em Santarém, no Pará, em dezembro de 2013. O preço teve alta de 51% em relação a janeiro do mesmo ano, quando o hectare na região custava R$ 2.576. A valorização, uma das maiores entre as regiões pesquisadas, foi puxada pela rodovia BR-153, que liga o Sul ao Norte do país.

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133 regiões são avaliadas nos levantamentos bimestrais da consultoria Informa Economics/FNP. Os preços referem-se a valores pedidos ou negócios fechados para o mesmo tipo de terra avaliada.

O preço médio das terras agrícolas brasileiras em 2013 subiu num ritmo mais acelerado do que nos últimos dez anos e ultrapassou de longe a inflação. Para uma alta de 14,9% no preço médio da terra registrado em 2013, a valorização real foi de 8,8%. Isto é, descontada a inflação de 5,52% apurada pelo IGP-DI (Índice Geral de Preços- Disponibilidade Interna da FGV).

Comparado às aplicações financeiras, o ganho com terras também foi polpudo e superou no ano passado o desempenho do ouro (-17,2%), das ações (-15,5%) e das aplicações em Certificado de Depósito Bancário - CDB (8,02%). Só o dólar ficou à frente da terra em 2013 e, mesmo assim, com uma pequena vantagem (0,3 ponto porcentual).

Quando se avalia o desempenho médio das terras em dez anos até 2012 e em 2013, constata-se que houve no ano passado uma aceleração no ritmo de alta dos preços. Entre 2002 e 2012, os preços tinham subido 12,6%, em média, por ano, aponta a pesquisa da consultoria Informa Economics /FNP. Mas só no ano passado, a valorização foi de 14,9%. A cada dois meses, a consultoria coleta preços de terras com corretores e engenheiros agrônomos em 133 regiões do país. As cotações se referem a preços pedidos ou negócios fechados para o mesmo tipo de terra avaliada.

A consultoria destaca que a aceleração no ritmo de elevação de preços ocorreu no ano passado apesar do arrefecimento na alta das cotações das principais commodities agrícolas produzidas pelo país. "Tínhamos dúvidas se o ritmo de valorização da terra iria se manter. Mas, em 2013, a alta foi ainda maior do que a média de anos anteriores", afirma o diretor da consultoria e responsável pela pesquisa, José Vicente Ferraz.

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A médio e longo prazo, ele acredita que os preços das terras agrícolas brasileiras vão continuar subindo acima da inflação, porém num ritmo menor do que dos últimos anos. "Isso não quer dizer que o preço vá cair: vai aumentar mais devagar, porém acima da inflação."

Ferraz justifica a previsão de que o ritmo de alta será menor nos próximos anos usando o argumento de que não é possível manter uma taxa de valorização tão forte por muito tempo, caso contrário os preços se tornam tão elevados que não existiriam lavouras com retorno compatível com o valor da terra.

Comida

No entanto, Ferraz ressalta que a valorização da terra deve continuar superando a inflação. Um fator que sustenta esse prognóstico é que a oferta de terras com potencial agrícola é limitada. O outro fator é a demanda crescente por alimentos, especialmente por proteínas da parte da Ásia e da África. "Projeções de organismos internacionais indicam dificuldades para atender à demanda crescente por alimentos. Preços mais altos de alimentos elevam as margens de lucro dos agricultores e a terra, que é um fator de produção, terá o seu preço elevado também", diz Ferraz.

Novo eixo exportador valoriza terras

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As terras agrícolas do Norte e do Centro-Oeste foram as que mais se valorizaram no último ano, influenciadas pela perspectiva de melhoria da infraestrutura, que deve tornar viável, a médio prazo, a exportação de grãos pela região Norte do país.

Pesquisa sobre o mercado de terras da consultoria Informa Economics/FNP, obtida com exclusividade pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostra que o preço do hectare subiu quase 25% no Norte entre janeiro e dezembro de 2013. Nas terras do Centro-Oeste, a alta beirou 18%. Em ambas as regiões os aumentos superaram a valorização média das terras no Brasil, de 15% no período.

"O Centro-Oeste e o Norte estão se estruturando para abandonar a tragédia logística que é colocar a safra para rodar em caminhão por mais de 2 mil quilômetros e embarcar os grãos pelos portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR)", diz o diretor da consultoria e responsável pela pesquisa, José Vicente Ferraz.

Ele explica que essa perspectiva de melhoria na logística é que está puxando para cima os preços das terras cortadas pela BR-163 A rodovia liga o Sul, o Centro-Oeste e o Norte do país, e vai até Santarém, no Pará. As terras agrícolas de Santarém, por exemplo, registraram valorização de 51% no ano passado, uma das maiores altas entre os 133 regiões pesquisadas. Lá o preço do hectare saltou de R$ 2.576 em janeiro para R$ 3.900 em dezembro de 2013.

"As terras de Santarém são aptas à agricultura, mas não estavam sendo exploradas pela falta de infraestrutura", afirma Edeon Vaz Ferreira, diretor executivo do Movimento Pró-Logística, que reúne dez associações do estado do Mato Grosso e é capitaneado pela Aprosoja, que congrega produtores.

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Do Mato Grosso, o maior estado produtor de soja, até o distrito de Miritituba, no Pará, há 182 quilômetros de rodovia sem pavimentação. As obras de pavimentação devem ser concluídas até o ano que vem, prevê Ferreira.

Em Miritituba, conta ele, não existia nada. Agora há terminais de transbordo, que permitem embarcar a carga em barcaças pelo Rio Tapajós até o Porto de Santarém. De lá os grãos seguem pelo Rio Amazonas até o Porto de Vila do Conde e são transportados em navios para o exterior, via Canal do Panamá. Nas contas de Ferreira, o escoamento da safra pelo Norte do país pode reduzir em 34% o custo de transporte, comparado com o trajeto rodoviário feito até Santos ou Paranaguá.