Mesmo com a inflação em patamares considerados altos, o que costuma dificultar as negociações salariais, a expectativa para 2013 é de que os ganhos reais dos trabalhadores sejam mantidos em níveis similares dos conquistados em 2012. O ano passado foi o melhor tanto em termos de proporção de negociações que terminaram com ganhos acima da inflação (94,6%) como na análise do ganho médio real total (1,96%) de 2008 até agora. Os cálculos foram divulgados nesta quarta-feira pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e usam como base a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A manutenção do crescimento dos ganhos reais afastaria a expectativa do Banco Central (BC), já explicitada pelo presidente da instituição financeira, Alexandre Tombini, de que ocorra uma diminuição do ritmo do crescimento da massa salarial capaz de ajudar a reduzir a pressão vinda de preços em serviços sobre a inflação.
As medidas usadas pelo governo em 2012 para incentivar o crescimento da indústria também serão usadas pelos trabalhadores para conseguir ganhos reais neste ano. "A desoneração da folha de pagamentos é um dado que vai estar na mesa de negociação. O governo atendeu a todas as demandas do setor empresarial no campo da desoneração", disse coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre. O secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves, o Juruna, reforçou que as medidas do governo para diminuir impostos vão "ajudar a manter o nível de emprego". "Se você mantém o emprego, não tem a pressão sobre o salário baixo. Essa situação político-econômica tem valorizado os aumentos salariais. Cabe ao sindicato utilizar-se dessas vantagens que a empresa teve (para conquistar os ganhos para os trabalhadores)", afirmou Juruna, que participou da divulgação do balanço das negociações coletivas de 2012, promovida pelo Dieese.
Para Silvestre, a recuperação da economia e, principalmente, a retomada da indústria, serão essenciais para conquistar um bom resultado nas negociações coletivas neste ano. "Não acredito num recuo, seja na proporção de ganhos reais, seja no patamar de ganho real médio. Temos uma expectativa de que o PIB (Produto Interno Bruto) esteja rodando em torno de 2,4% ou 2,5% e há projeções de crescimento do PIB entre 3% e 3,5% para o ano." O crescimento da indústria tem um efeito "irradiador" nos demais segmentos e traz como consequência impacto nos reajustes, explica Silvestre. Em 2012, mesmo tendo sido o setor que mais sofreu com a desaceleração da economia, a indústria apresentou a maior incidência de ganhos reais (97,5% do total) e não teve nenhuma negociação com reajuste abaixo do INPC.
Inflação
Apesar da inflação mais alta e uma influência do reajuste no salário-mínimo não tão forte quanto à do ano passado, as perspectivas ainda são positivas. "A inflação anualizada para as categorias do primeiro semestre deve ser maior do que para aquelas que têm data-base no segundo semestre porque a tendência é a inflação cair a partir de junho", comentou Silvestre. De acordo com ele, está claro que o governo "não vai deixar a inflação sair do teto da meta, de 6,5%". O que se tem colocado em pauta com a classe patronal, explica, não é a inflação, mas sim o ganho real dos trabalhadores.
Com relação ao salário-mínimo, os setores mais ligados ao seu reajuste são aqueles cuja data-base da negociação é marcada para o primeiro semestre. Estes segmentos estão mais pulverizados e o piso dos salários é bastante pautado pelo mínimo nacional. Ano passado, essas categorias foram beneficiadas pelo crescimento de 14% no salário-mínimo. Neste ano, o aumento de quase 9% pode tornar um pouco mais lentas as negociações do primeiro semestre, mas não deve atrapalhar as conquistas dos trabalhadores.
"Além disso, nada indica que a crise (externa) vai se aprofundar e temos uma taxa de câmbio rodando em torno de R$ 2, que é mais adequada para a indústria, principalmente para a exportadora", completou Silvestre. Os fatores capazes de manter os ganhos reais em patamares altos, mesmo ainda num ritmo de retomada da economia, só aumentam. Além das expectativas para o PIB, do controle da inflação, dos sinais do panorama internacional e do câmbio, o crescimento demográfico "pequeno" tem contribuído para a manutenção das taxas de desemprego, aponta o coordenador do Dieese.
Mobilizações
Com as expectativas positivas para o crescimento da economia neste ano, os sindicalistas não vão abrir mão da forma mais tradicional de pressão sobre os empresários: as greves. Juruna destacou que o setor da indústria que teve o maior aumento médio real foi o de Construção e Mobiliário - ganho médio de 3,17% em 2012 acima do INPC. "Não teve um canteiro de obra que não paralisou ano passado", disse, reafirmando o poder da mobilização, que será usada novamente este ano, caso as negociações não avancem.
"O setor da construção deu uma retomada no seu crescimento ano passado, mas tivemos uma série de greves e paralisações em obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e outras grandes obras, o que gerou esses resultados do ponto de vista dos ganhos reais no segmento", completou Silvestre.
Reajustes
Os aumentos reais de salários no segundo semestre foram, na média, menores que os do primeiro semestre, uma inversão em relação ao apurado nos quatro anos anteriores, quando o valor médio de ganhos acima da inflação medida pelo INPC do IBGE foram sempre superiores, conforme divulgou o Dieese. Enquanto nos seis primeiros meses do ano passado, a média de aumento real foi de 2 14% - a maior desde 2008 - no segundo semestre de 2012 o ganho real médio foi de 1,61%.
De acordo com Silvestre, do Dieese, essa redução no segundo semestre se deve, principalmente, às mudanças das expectativas ao longo do ano. "O ano começou com projeções de PIB por volta de 4% e essas expectativas vão sendo refeitas. De outro lado, tem a taxa de inflação que foi crescendo."
Outro fator que contribuiu para essa inversão, reforça, é que boa parte das categorias com data-base no primeiro semestre utilizam o salário-mínimo como referência para os reajustes. "O fato de você ter tido 14% de reajuste do salário mínimo ajuda a elevar o resultado dos primeiros meses do ano", diz.
O secretário-geral da Força Sindical explica que grandes categorias - como metalúrgicos, bancários, petroleiros, químicos - concentram os reajustes salariais no 2.º semestre e dependem de acordos anteriores do setor. Nos três setores analisados (indústria, serviços e comércio), houve redução na comparação do segundo com o primeiro semestre. Na indústria o aumento real médio caiu de 2,2% para 1,8% no período analisado. Na mesma base de comparação, a média de ganho real do setor de serviços foi de 2,05% ante 0,84. No comércio, a redução foi um pouco menor, com os seis primeiros meses do ano apresentando aumento real de salário de 2,2% e os últimos meses com ganhos médios de 1,7%.