O Brasil poderá ter problemas para sustentar crescimento anual acima de 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) se não investir para solucionar gargalos na área de infraestrutura e reduzir a carga tributária.
Atualmente as deficiências nessa área só não causam mais transtornos porque a economia tem tido um fraco desempenho nos últimos anos. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atualmente 0,7% do PIB é investido no setor de infraestrutura. Há dez anos esse porcentual era de 0,2%, mas é necessário que chegue a 3,4% para fazer frente à demanda.
Crescer acima de 5% significaria, como ocorreu no passado, dificuldades com falta de mão de obra, de estradas em bom estado e de caminhões para transportar a produção, por exemplo.
Os elevados custos com logística comprometem a competitividade da indústria e da agricultura. Exportar uma tonelada de soja do Brasil para a China pode custar o triplo do que fazer o mesmo do estado do Iowa, nos Estados Unidos. Exportar um eletrodoméstico por Paranaguá, por exemplo, custa hoje o mesmo que o de uma mercadoria partindo da China para o mercado norte-americano, mesmo sendo a distância muito maior.
Segundo a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), o frete para levar a soja do Mato Grosso para o Porto de Paranaguá custa US$ 80 por tonelada. Para levar dos Meio-Oeste norte-americano até o Golfo do México o valor é, em média, de US$ 25 por tonelada.
Com uma matriz de transporte ainda bastante concentrada no modal rodoviário, muitas vezes em péssimas condições e carente de investimentos, o produto brasileiro fica mais caro e com menos condições de competir.
Segundo Nelson Costa, superintendente-adjunto da Ocepar, o país avançou nos últimos anos ao delinear projetos de infraestrutura, principalmente no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O problema é que esses projetos demoram para sair do papel. "Construir um porto na China leva dois anos. Aqui no Brasil, só a licença ambiental leva esse tempo", diz.
Impostos
A carga tributária é outro fator que inibe o crescimento. O brasileiro gasta em média 41% da sua renda bruta para pagar impostos e contribuições. Entre 2000 e 2010 (último dado disponível), o peso dos impostos sobre a soma das riquezas do país, medida pelo PIB, passou de 30,03% para 35,04%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Nesse período, o sistema tributário tragou cerca de R$ 1,85 trilhão da economia brasileira.
"O Brasil tem uma carga tributária de país desenvolvido, mas serviços públicos de países em desenvolvimento ou até mesmo subdesenvolvidos", afirma Leticia Mary Fernandes do Amaral, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Segundo ela, a carga tributária prejudica atração de investimentos, deixa menos competitivas as empresas e eleva preços dos produtos para o consumidor final.
"A questão é que não há sinais de mudança no médio prazo desse quadro. As tentativas de mudança foram frustradas, até porque o apetite pela arrecadação é voraz, já que o governo precisa fazer frente aos seus gastos", lembra Leticia. O fato de a carga tributária estar concentrada no consumo ajuda a tornar o sistema mais injusto: "O ideal seria taxar renda e patrimônio em vez de consumo", diz.