Pessimismo atinge outros emergentes
A onda de pessimismo não está restrita ao Brasil. Índia e, em menor intensidade, a China passaram a ser foco de atenção por causa da redução nas taxas de crescimento de suas economias. O mundo, que a cada dia vê a deterioração do quadro na Europa, começa a se preocupar agora com o esfriamento dos emergentes. A percepção geral é de que houve um otimismo exagerado com a aparente blindagem desses países contra a crise internacional.
Para piorar, as economias deles estão conectadas: a China puxa o resultado da economia brasileira, fortemente dependente das vendas para o gigante asiático.
A grande questão é saber até quando o mau humor internacional vai perdurar em relação aos países em desenvolvimento. Em momentos de crise é comum os investidores generalizarem condições econômicas e descartarem detalhes e peculiaridades de cada mercado para o bem e para o mal.
Um exemplo desse comportamento foi sentido nas últimas semanas, quando muitos investidores migraram do Brasil para outros países da América Latina, atraídos por taxas de crescimento mais expressivas. Trata-se de um movimento inverso ao verificado após a crise de 2008, quando as elevadas taxas de juros no mercado brasileiro atraíram capitais, gerando, por tabela, a valorização do câmbio. Agora, com a redução nas taxas no Brasil, o fluxo de capitais vai em busca de juros mais atrativos. "Eles [os investidores] vão, veem que esses países não têm o mesmo potencial que o Brasil e depois voltam", diz Lucas Dezordi, economista chefe da Inva Capital.
País perde posições em competitividade
Apesar do dinamismo econômico e da força do mercado consumidor brasileiro, o frágil crescimento econômico, a baixa produtividade da indústria e as pressões inflacionárias acabaram por reduzir, nos últimos anos, a competitividade do país.
Pelo segundo ano consecutivo, o Brasil perdeu posições em um ranking de competitividade internacional. O levantamento, elaborado pela escola de administração suíça International Institute for Management Development (IMD) com 59 países, mostrou o país na 46.ª posição, duas abaixo da ocupada em 2011.
Em comparação com os países do Bric, o Brasil só se sai melhor que a Rússia, em 48.º lugar. A China continental foi colocada em 23.º lugar do ranking e a Índia, em 37.º. Ambas perderam posições em relação ao ano anterior. Na América Latina, três países Chile, Peru e México foram considerados mais competitivos que o Brasil. O levantamento é liderado por Hong Kong e Estados Unidos.
Segundo o relatório, a queda na pontuação brasileira foi provocada pela redução do ritmo da economia, pelo aumento do custo de vida e pelas recentes medidas protecionistas do governo que preservam as empresas nacionais no mercado interno mas tendem a deixá-las menos competitivas no exterior.
O Brasil poderá ter problemas para sustentar crescimento anual acima de 5% do seu Produto Interno Bruto (PIB) se não investir para solucionar gargalos na área de infraestrutura e reduzir a carga tributária.
Atualmente as deficiências nessa área só não causam mais transtornos porque a economia tem tido um fraco desempenho nos últimos anos. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), atualmente 0,7% do PIB é investido no setor de infraestrutura. Há dez anos esse porcentual era de 0,2%, mas é necessário que chegue a 3,4% para fazer frente à demanda.
Crescer acima de 5% significaria, como ocorreu no passado, dificuldades com falta de mão de obra, de estradas em bom estado e de caminhões para transportar a produção, por exemplo.
Os elevados custos com logística comprometem a competitividade da indústria e da agricultura. Exportar uma tonelada de soja do Brasil para a China pode custar o triplo do que fazer o mesmo do estado do Iowa, nos Estados Unidos. Exportar um eletrodoméstico por Paranaguá, por exemplo, custa hoje o mesmo que o de uma mercadoria partindo da China para o mercado norte-americano, mesmo sendo a distância muito maior.
Segundo a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), o frete para levar a soja do Mato Grosso para o Porto de Paranaguá custa US$ 80 por tonelada. Para levar dos Meio-Oeste norte-americano até o Golfo do México o valor é, em média, de US$ 25 por tonelada.
Com uma matriz de transporte ainda bastante concentrada no modal rodoviário, muitas vezes em péssimas condições e carente de investimentos, o produto brasileiro fica mais caro e com menos condições de competir.
Segundo Nelson Costa, superintendente-adjunto da Ocepar, o país avançou nos últimos anos ao delinear projetos de infraestrutura, principalmente no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O problema é que esses projetos demoram para sair do papel. "Construir um porto na China leva dois anos. Aqui no Brasil, só a licença ambiental leva esse tempo", diz.
Impostos
A carga tributária é outro fator que inibe o crescimento. O brasileiro gasta em média 41% da sua renda bruta para pagar impostos e contribuições. Entre 2000 e 2010 (último dado disponível), o peso dos impostos sobre a soma das riquezas do país, medida pelo PIB, passou de 30,03% para 35,04%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Nesse período, o sistema tributário tragou cerca de R$ 1,85 trilhão da economia brasileira.
"O Brasil tem uma carga tributária de país desenvolvido, mas serviços públicos de países em desenvolvimento ou até mesmo subdesenvolvidos", afirma Leticia Mary Fernandes do Amaral, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Segundo ela, a carga tributária prejudica atração de investimentos, deixa menos competitivas as empresas e eleva preços dos produtos para o consumidor final.
"A questão é que não há sinais de mudança no médio prazo desse quadro. As tentativas de mudança foram frustradas, até porque o apetite pela arrecadação é voraz, já que o governo precisa fazer frente aos seus gastos", lembra Leticia. O fato de a carga tributária estar concentrada no consumo ajuda a tornar o sistema mais injusto: "O ideal seria taxar renda e patrimônio em vez de consumo", diz.
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