Chance de descoberta é grande. Difícil é "derrotar" o basalto
É grande a chance de se encontrar hidrocarbonetos em especial, gás natural nos blocos que serão licitados no Paraná. A informação consta do Zoneamento Nacional de Recursos de Óleo e Gás, publicado semanas atrás pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do governo federal.
A área mais propícia da Bacia do Paraná é o chamado play Itararé Guatá, que abrange parte das regiões Central, Oeste e Noroeste do estado, com profundidade média de 2.760 metros. Boa parte dos blocos colocados em leilão no estado está situada justamente dentro desse play. "A maior expectativa de fluido é de gás natural, caso ocorra descoberta de hidrocarboneto. Sendo petróleo, espera-se a ocorrência de petróleo leve", afirma o zoneamento da EPE.
"Temos certeza da existência de gás aqui [no Paraná]. Mas ainda não conseguimos viabilizar economicamente. Esse potencial está mais próximo agora, com tecnologia para perfurar mais profundo e mais rápido", disse ontem a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.
Segundo ela, o que falta é ultrapassar a fronteira tecnológica representada pelo basalto. Grande parte da Bacia do Paraná é "recheada" por uma grossa camada de basalto, rocha bastante rígida derivada de atividade vulcânica. Não será fácil, nem barato, ultrapassar essa camada, que chega a 1.600 metros de espessura em alguns locais, o que dificulta até mesmo a interpretação dos dados de sísmica da região.
Meio ambiente
Técnica polêmica faz ANP elaborar norma para proteger aquífero
Na avaliação da ANP, as áreas que serão leiloadas daqui a um mês podem ter reservas tanto de gás convencional quanto do chamado gás de xisto, ou gás de folhelho.
O combustível convencional fica armazenado na rocha reservatório. O não convencional, por sua vez, ainda não foi "expulso" de sua rocha geradora. Para tirá-lo de lá, são injetados milhões de litros de água e químicos, em uma técnica controversa apelidada de fracking, ou fratura hidráulica, popularizada nos Estados Unidos. Ambientalistas vêm denunciando os riscos dessa tecnologia, em especial a contaminação de águas subterrâneas.
A ANP diz que, para evitar riscos, está preparando uma lista de diretrizes de segurança operacional para o uso do fracking. "Estamos visando à segurança do Aquífero Guarani. É muito importante que a exploração seja feita da forma correta", disse ontem a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard. As diretrizes já estão abertas a consulta pública, e no dia 18 de novembro a ANP vai realizar uma audiência pública sobre o assunto.
Obrigações
Vencedoras terão de investir pelo menos R$ 70 milhões na bacia
Mesmo que não encontrem gás algum, as empresas que arrematarem os 19 blocos da Bacia do Paraná vão investir, juntas, pelo menos R$ 70 milhões. É o que estabelece a ANP no Programa Exploratório Mínimo (PEM), que deve durar de quatro a cinco anos. A agência não informou o valor relativo ao estado do Paraná, mas ele deve ficar com a maior parte desse bolo, por concentrar o maior número de blocos (14).
Nas áreas do estado, os valores mínimos de bônus de assinatura que as empresas vão pagar ao Tesouro brasileiro variam de R$ 92 mil a R$ 464 mil. Na soma dos 14 blocos, são pelo menos R$ 4,2 milhões. As vencedoras das licitações serão as empresas que apresentarem as melhores propostas, dentro de uma fórmula que considera o PEM, o bônus de assinatura e o índice de conteúdo nacional nos equipamentos que serão usados na exploração.
Pelo menos três empresas paranaenses planejam participar do leilão de concessões de gás natural marcado para o fim de novembro, que vai licitar blocos em 12 estados, entre eles o Paraná.
INFOGRÁFICO: 14 blocos terrestres serão leiloados no Paraná. Veja a localização
A Copel já manifestou interesse, mas ainda não foi habilitada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Outras duas empresas do estado, a comercializadora de energia Tradener e a Tucumann Engenharia, já estão aptas a participar. Até ontem, a ANP registrava 26 companhias interessadas no leilão, das quais oito habilitadas.
Dos 240 blocos que serão leiloados na 12.ª rodada de licitações da ANP, 19 ficam na Bacia do Paraná, região geológica que abrange o Sul e o Centro-Oeste do país e parte do estado de São Paulo. Estarão em disputa cinco blocos no Pontal do Paranapanema, em São Paulo, e 14 em uma faixa que vai do Sudoeste ao Noroeste do Paraná.
Sem experiência na prospecção e produção de óleo e gás, Tradener e Tucumann estão habilitadas na condição de não operadoras. Para participar do leilão, portanto, terão de se associar a alguma empresa do setor. O mesmo valerá para a Copel. "A Copel tem interesse neste leilão e vamos avaliar a melhor forma da participação da empresa", disse ontem o governador Beto Richa, após reunião com a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard.
O objetivo da estatal paranaense é usar o gás para a geração de energia elétrica. Como os blocos ofertados ficam distantes da malha de gasodutos do estado, concentrada na Região Metropolitana de Curitiba e nos Campos Gerais, inicialmente o combustível abasteceria termelétricas instaladas nas "bocas" dos poços produtores.
A Tradener, que há 15 anos negocia eletricidade no mercado livre e recentemente obteve da ANP autorização para comercializar gás natural, pode atuar tanto na venda do combustível quanto da energia que for gerada pelas termelétricas. A Tucumann, por sua vez, busca ampliar sua atuação no setor de óleo e gás. Ela já prestou serviços de engenharia para a Petrobras na Usina de Xisto de São Mateus do Sul e na refinaria Repar, em Araucária.
A Gazeta do Povo entrou com contato com as três empresas, mas a Copel e a Tradener não tinham executivos disponíveis para comentar o assunto. A Tucumann, por sua vez, afirmou que ainda está avaliando sua participação nas licitações.
Compagas quer gasoduto até o poço
Responsável pela distribuição de gás canalizado no Paraná, a Compagas não vai participar dos leilões da ANP, o que ficará a cargo de sua sócia majoritária, a Copel. Mas pretende levar gasodutos até a eventual região produtora. "Quem tem serviços de energia elétrica e distribuição de gás no mesmo grupo, como a Copel, terá uma condição de competição única", avalia Luciano Pizzatto, diretor-presidente da Compagas.
Para o executivo, a descoberta de reservas comerciais de gás poderia provocar uma revolução socioeconômica no Paraná. "Gás natural não é só energia, é matéria-prima e insumo para muitas indústrias", diz.
A Compagas já planejava construir um duto de Araucária até Londrina. E agora avalia estender um ramal de Londrina até a faixa oeste do estado, em caso de descoberta de gás. Segundo Pizzatto, o gasoduto Araucária-Londrina, com cerca de 400 quilômetros de extensão, deve custar R$ 1 bilhão e ficar pronto em cinco anos. Para o duto chegar até o poço de gás, seriam necessários mais dois anos.
Uma descoberta de gás natural também pode influenciar os planos de outro gasoduto, ligando Araucária ao litoral. A princípio, esse duto serviria para trazer gás importado até a região de Curitiba. "Se houver sucesso na exploração, ele pode servir para exportar gás", diz Pizzatto.
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