Os brasileiros vão gastar o volume recorde de R$ 75 bilhões com educação em 2013, 6% mais do que em 2012. Mas essas despesas vão pesar mesmo é no bolso da classe média, que vai desembolsar 11% mais do que no ano passado com matrículas, mensalidades e material escolar: R$ 25 bilhões.
O aumento está sendo puxado principalmente pela substituição da escola pública pela particular e pelos cursos adicionais, como de idiomas, pós-graduação e especializações, que entraram no orçamento dessas famílias. Somente com matrículas e mensalidades, a classe média vai pagar R$ 19,4 bilhões em 2013.
O cálculo, elaborado pelo instituto Data Popular a pedido da Gazeta do Povo, mostra que nas demais faixas de renda, o avanço dos gastos será menor. A classe alta embora ainda represente a maior fatia do bolo vai incrementar seus gastos em 3,6%, para R$ 46,4 bilhões, e a classe baixa em 6,25%, para R$ 3,4 bilhões.
A educação entrou no radar principalmente das famílias que aumentaram sua renda e que, pela primeira vez, passaram a ter a chance de buscar mais qualidade de ensino e a apostar em mais anos de estudo. Porém, manter o filho na escola ou na faculdade particular ainda é um desafio para as famílias (leia mais ao lado). Pressionadas pelos aumentos dos custos com mensalidades, despesas com outros itens de consumo e com financiamentos, as famílias de classe média estão tendo mais dificuldade para manter os gastos com educação no orçamento.
Tradicionalmente a educação pesa mais no bolso da classe média do que nos demais extratos sociais. Estima-se que 25% da renda dessas famílias seja destinada para essas despesas.
"Depois de muito consumir, o brasileiro passou por um momento de freio o ano passado, que na verdade foi uma oportunidade para tomar um fôlego e colocar as despesas em dia, quitar os carnês e cartões de crédito", disse Renato Meirelles, diretor do Data Popular, em entrevista por e-mail.
No bolso
Mas os gastos aumentam não apenas porque mais brasileiros estão estudando em escola particular. Os preços dos serviços de educação subiram, no ano passado, acima da inflação e vêm pesando mais nas contas das famílias. No ano passado, os gastos com educação aumentaram 7,78%, acima da média medida pelo IPCA, de 5,84% nos doze meses encerrados em dezembro.
Desde 2002, as despesas com educação dos brasileiros aumentaram quase cinco vezes. Há dez anos, as famílias destinavam R$ 3,27 bilhões a materiais escolares e livros e R$ 9,07 bilhões a matrículas e mensalidades.
Para o professor de economia Christian Luiz da Silva, da UTFPR, apesar de mais cara, a educação costuma ser um dos últimos itens a serem cortados do orçamento das famílias. "Trata-se de um serviço que é insensível a preço. As famílias optam por conter outros gastos a cortar a escola dos filhos", diz.
Sul concentra 15% dos gastos
As famílias do sul do país devem desembolsar 15% do total dos gastos com educação R$ 11, 25 bilhões. Os gastos com educação estão concentrados no Sudeste, com 53%, que é seguido pelo Nordeste, com 18%, Sul (15%) e Norte com 5%. No ano passado, o Sul representou 14% do total.
O levantamento do Data Popular foi feito sobre os números da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A partir de 2013, os dados passaram a utilizar o critério de classificação socioeconômica da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, o que exigiu o recálculo dos números do ano passado.
Segundo o levantamento, quanto maior a renda, maior a participação dos gastos com mensalidades e matrículas. Entre os mais ricos, o porcentual é de 85%. Nas classes D e E, por exemplo, que acessam mais a escola pública, a fração destinada a mensalidades e matrículas é de 53% (CR)