Marta Silva Marra, com o marido Rômulo e a filha Ana Cláudia: serviços mais caros e padrão de consumo difícil de manter| Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo

Alimentos

Cesta básica sobe 47%, mas mínimo acompanha

O custo da cesta básica subiu mais que o dobro da inflação oficial nos últimos quatro anos. Impulsionado pela alta dos alimentos nos últimos anos, o pacote de produtos essenciais monitorado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) subiu 47% desde junho de 2006, saltando de R$ 200,17 para R$ 295,16, conforme o levantamento do mês passado. Nesse mesmo período, o IPCA avançou 21% e o INPC, 23%.

Mas o professor de Economia José Guilherme Vieira adverte que, como a cesta básica costuma refletir as despesas das famílias mais pobres – que destinam quase todo o seu orçamento para a compra de comida –, é importante comparar a alta desse pacote com a evolução do salário mínimo. E o resultado é um "empate técnico": desde 2006, o mínimo subiu 46%, ligeiramente menos que o custo da cesta. O salário de R$ 350 de 2006 era suficiente para comprar o equivalente a 1,75 cesta básica; no mês passado, o mínimo de R$ 510 comprava 1,73 cesta.

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Despesas típicas da classe média de Curitiba e região subiram bem mais rápido que a inflação oficial nos últimos quatro anos. Os gastos mensais de uma família de quatro pessoas com educação privada, plano de saúde, automóvel, refeição fora de casa e atividades de lazer cresceram quase 29% entre junho de 2006 e junho de 2010, de acordo com simulação feita pela Gazeta do Povo com base em uma cesta de 14 produtos e serviços que fazem parte do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O levantamento mostra que, no mesmo período, o "IPCA cheio" da Grande Curitiba subiu 19% e o IPCA nacional, 21%.

Desde meados de 2006, os produtos e serviços do hipotético "pacote classe média" ficaram 6,6% mais caros a cada 12 meses, contra uma variação anual de 4,4% do IPCA da região metropolitana de Curitiba e de 4,8% do IPCA nacional.

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Calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA é a baliza das metas de inflação do governo e, de certa forma, também contempla os gastos da classe média. Mas, por ser abrangente demais, o índice acaba por oferecer um retrato pouco nítido da oscilação dos gastos dessa parcela da população – ele abarca a variação dos preços de 384 itens e considera como universo consumidor as famílias com renda de 1 a 40 salários mínimos (R$ 510 a R$ 20,4 mil).

"A inflação é uma média da variação dos preços de uma grande cesta de produtos. E cada família tem sua cesta e seu padrão de consumo, que jamais vão corresponder perfeitamente ao que é apurado todos os meses pelo IBGE", diz o economista José Guilherme Vieira, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e das Faculdades Santa Cruz. "Nesse contexto, quem paga educação e saúde privada, por exemplo, realmente sentirá uma inflação mais forte, pois são gastos que vêm subindo mais que a média."

É por terem padrões de consumo distintos que as pessoas têm a sensação de que suas despesas crescem em ritmo diferente ao apontado pelos índices de inflação. "Sinto que os serviços e as compras no supermercado sobem acima da inflação divulgada. Sentimos que precisamos correr atrás para acompanhar e que, no decorrer dos anos, perdemos renda em relação ao valor dos produtos", conta a empresária Marta Silva Marra, dona de uma loja de presentes, que divide as despesas de casa com o marido, o "headhunter" (recrutador de executivos) Rômulo Borges Machado.

Os dois filhos do casal – Otávio, aluno da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR) e Ana Cláudia, estudante de ensino médio do colégio Bom Jesus – fazem curso de inglês e frequentam academia. A família costuma fazer de um a dois programas semanais, como ir ao restaurante, e, ao menos uma vez por ano, os quatro viajam juntos – meses atrás, foram para o Chile. Um padrão de vida cada vez mais difícil de manter, diz Marta. O que mais pesa, segundo ela, são os valores do plano de saúde e da mensalidade escolar. "Eles têm reajuste forte todos os anos, e não há como barganhar com as empresas. Não dá para mudar a escola do filho ou deixar de ter plano de saúde."

Vilões e mocinhos

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Embora não liderem a lista dos maiores aumentos dos últimos quatro anos, o plano de saúde, que ficou 32% mais caro, e a mensalidade do colégio (34%) foram, por sua relevância no orçamento, determinantes para a alta do pacote classe média. Uma família que gastasse pouco mais de R$ 1 mil para manter dois filhos em escola particular há quatro anos desembolsa, hoje, cerca de R$ 1,4 mil. No mesmo intervalo, um hipotético gasto de R$ 151 mensais com o plano de saúde saltou para quase R$ 200. Outro item que inflou as despesas foi a refeição fora de casa, com alta de quase 36% em quatro anos. Os maiores reajustes do pacote foram os sofridos por estacionamento (53% de aumento) e clube (45%).

Na outra ponta, combustíveis e seguro de automóvel deram um alívio às despesas. Embora tenham oscilado bastante nos últimos quatro anos, os preços médios do álcool e da gasolina estão 2,6% menores que em junho de 2006. O seguro, embora tenha subido muito nos últimos dois anos, teve aumento acumulado de apenas 4,6% em razão da queda nos dois primeiros períodos analisados.

Até 2009, o INPC acompanhou as altas

Espécie de "primo pobre" do IPCA, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) tem um alvo bem específico: as famílias chefiadas por um trabalhador assalariado e que têm renda total de 1 a 6 salários mínimos por mês. Esse indicador tem subido com mais força que o IPCA nos últimos anos, muito por causa da alta do grupo de alimentos e bebidas, que tem peso de 30% na composição do índice.

O INPC também é a principal referência das campanhas salariais de categorias organizadas em sindicatos. Curiosamente, de junho de 2006 a junho de 2009 ele acompanhou de perto a inflação do "pacote classe média" – o INPC subiu 17% e o pacote, 17,3%. Isso indica que assalariados de classe média tiveram o encarecimento de seus gastos típicos quase que totalmente coberto pelo repasse da inflação, mesmo que não tenham recebido ganhos reais nesse período. O descompasso ocorreu nos últimos 12 meses, quando o INPC avançou 4,8% e o pacote classe média, 9,9%. Para recompor essa diferença, o assalariado terá que obter um aumento real (acima do INPC) de 4,9%.

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Colaborou Osny Tavares

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