A disparada na remessa de lucros e o forte aumento das despesas de turistas brasileiros lá fora provocaram mais um rombo recorde nas contas externas do país em março. O saldo das transações comerciais e financeiras com o resto do mundo ficou negativo em US$ 5,7 bilhões, o maior déficit registrado para meses de março desde 1947, quando se inicia a série do Banco Central (BC). Apesar disso, o BC se diz tranquilo com a situação porque a entrada de investimentos estrangeiros tem sido mais do que suficiente para cobrir o buraco.
De acordo com dados divulgados ontem, os estrangeiros investiram diretamente em empresas brasileiras um total de US$ 6,8 bilhões no mês passado, garantindo assim uma folga de quase 20% em relação ao déficit das contas externas. O resultado do trimestre é semelhante. Enquanto o saldo das transações correntes ficou negativo em US$ 14,6 bilhões, os chamados investimentos estrangeiros diretos atingiram a marca de US$ 17,5 bilhões.
"As contas externas do país, tanto em março, quanto no primeiro trimestre, vieram em linha com aquilo que a gente estava esperando, ou seja, uma ampliação do déficit em transações correntes que, em última instância, reflete o crescimento da economia brasileira", afirmou Túlio Maciel, chefe do Departamento Econômico do BC. "Ao mesmo tempo, tivemos uma elevação dos recursos na conta financeira, que permitirá o financiamento em condições favoráveis deste déficit crescente", acrescentou.
Turismo
O dólar barato e a melhora na renda também fizeram com que mais brasileiros embarcassem para o exterior, aumentando ainda mais o déficit na conta de viagens internacionais. Somente em março, o dinheiro deixado lá fora por turistas brasileiros superou em pouco mais de US$ 1 bilhão o que foi gasto por estrangeiros em viagens pelo Brasil. O resultado representa um aumento de 87,15% em relação ao registrado em março do ano passado. De janeiro a março, os brasileiros gastaram US$ 4,7 bilhões em viagens no exterior, enquanto os estrangeiros deixaram por aqui US$ 1,8 bilhão.
Pelos cálculos do BC, o Brasil deve encerrar o ano com um déficit de US$ 60 bilhões na conta corrente. Este saldo deve ser praticamente todo financiado com a entrada de investimentos estrangeiros diretos, estimados em US$ 55 bilhões pelo BC. "A evolução das contas externas no trimestre se manteve em linha ou de forma consistente com essa projeção", disse Maciel.