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Mandaguari

Geada negra comprometeu até 90% da produção de café para 2014

Cafezais novos e antigos foram afetados. Previsão é de três anos de crise. | Ivan Amorin/Gazeta do Povo
Cafezais novos e antigos foram afetados. Previsão é de três anos de crise. (Foto: Ivan Amorin/Gazeta do Povo)

A geada negra que atingiu o Paraná três semanas atrás terá reflexo direto na próxima safra estadual de café. De acordo com estimativa da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) que será divulgada nesta semana, um milhão de sacas de 60 quilos deixarão de ser produzidas em 2014, quantidade equivalente a 50% da produção. Em Mandaguari, as perdas devem chegar a 90%.

Apesar dessas perdas, a colheita de 2013 não terá redução drástica. Os grãos estavam em fase de maturação. A última previsão - de 1,7 milhão de sacas - deve ser mantida pela Seab. Com 60% das lavouras colhidas, o trabalho terminará no final de setembro. O café sempre rende mais a cada dois anos. Para 2014, a expectativa era de que o Estado retornasse à casa de 2 milhões de sacas, ou 120 mil toneladas.

A cafeicultura começou a enfrentar problemas climáticos há quatro meses, quando o excesso de chuva impediu a colheita na época ideal. O café secou no pé, provocando a queda das folhas. A massa de ar fria atingiu 80% dos 82 mil hectares ocupados com a cultura no Estado."A perda pode ser ainda maior [do que 50% em 2014]. Estamos aguardando relatórios técnicos das regionais", explica Paulo Franzini, técnico responsável pela área de café no Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab.

Na Região Norte, que concentra 83% da área estadual de café e 85% da produção, a situação é pior. Segundo Luiz Roberto Saldanha Rodrigues, presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp), as perdas alcançam 60% da produção de 2014. Em alguns municípios, como Apucarana, Mandaguari e Grandes Rios, o estrago compromete até 90% da próxima temporada.

"A geada pegou as plantas com tecido novo. Alguns produtores terão que fazer poda e outros, erradicar", explica Rodrigues. "A renda do produtor está comprometida por até três anos."

Mesmo com o futuro desalentador, o presidente da comissão técnica de cafeicultura da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Walter Ferreira Lima, acredita que o momento pode ser utilizado para uma virada da cultura no Estado. "É hora de fazer a renovação da cultura e entrar na mecanização. Mas para isso é preciso recursos disponíveis."

O setor aguarda o anúncio de novas medidas de apoio por parte dos governos estadual e federal aos cafeicultores que continuarem na atividade. O governo federal anunciou, na semana passada, que os produtores poderão vender 3 milhões de saca à Companhia Nacional de Abastecimento por R$ 346/sc. A medida seria uma resposta ao momento de preços baixos.

A colheita deste ano deve render menos que o previsto aos cafeicultores. As chuvas derrubaram a qualidade do grão. "Além de receber menos pelo produto, o produtor terá o aumento do custo, pois precisa contratar pessoal para catar o café do chão", afirma Rodrigues.

Setor teme evasão de produtores

Além das chuvas dos últimos meses e da geada do final de julho, o cafeicultor paranaense convive com os baixos preços do grão e o crescente custo de produção. Os problemas resultaram na queda de 2% na área plantada no último ano. A tendência para 2014 é de nova redução, que pode chegar a 20%, conforme as estimativas informais. Isso reduziria os cafezais do Estado a cerca de 50 mil hectares. Há dez anos, a área chegava a 128 mil hectares, o dobro da atual.

"A tendência é a erradicação da cultura em várias regiões, apesar da cafeicultura ser viável no Estado", afirma Paulo Franzini, técnico responsável pela área de café do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab).

Para o presidente da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp), Luiz Roberto Saldanha Rodrigues, muitos produtores irão migrar para atividades como soja e milho - commodities de rápida adesão e com preços remuneradores nas últimas temporadas.

"Renovar os cafezais no escuro, sem uma política estratégica e garantia de preços, é complicado, principalmente para o pequeno produtor. Muitos vão abandonar", aponta Rodrigues. Hoje, a Acenpp tem 7,5 mil associados, número que vem caindo a cada ano.

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